Assinale a alternativa cujo enunciado atende à norma-
-padrão da língua portuguesa.
Leia o texto para responder a questão.
A palavra falada é um fenômeno natural; a palavra
escrita é um fenômeno cultural. O homem natural pode
viver perfeitamente sem ler nem escrever. Não o pode o
homem a que chamamos civilizado: por isso, como disse,
a palavra escrita é um fenômeno cultural, não da natureza mas da civilização, da qual a cultura é a essência e o
esteio.
Pertencendo, pois, a mundos (mentais) essencialmente diferentes, os dois tipos de palavra obedecem forçosamente a leis ou regras essencialmente diferentes. A
palavra falada é um caso, por assim dizer, democrático.
Ao falar, temos que obedecer à lei do maior número, sob
pena de ou não sermos compreendidos ou sermos inutilmente ridículos. Se a maioria pronuncia mal uma palavra,
temos que a pronunciar mal. Se a maioria usa de uma
construção gramatical errada, da mesma construção teremos que usar. Se a maioria caiu em usar estrangeirismos
ou outras irregularidades verbais, assim temos que fazer.
Os termos ou expressões que na linguagem escrita são
justos, e até obrigatórios, tornam-se em estupidez e pedantaria, se deles fazemos uso no trato verbal. Tornam-
-se até em má-criação, pois o preceito fundamental da
civilidade é que nos conformemos o mais possível com as
maneiras, os hábitos, e a educação da pessoa com quem
falamos, ainda que nisso faltemos às boas maneiras ou à
etiqueta, que são a cultura exterior.
(Fernando Pessoa. A língua portuguesa, 1999. Adaptado.)
Leia o texto para responder a questão.
A palavra falada é um fenômeno natural; a palavra escrita é um fenômeno cultural. O homem natural pode viver perfeitamente sem ler nem escrever. Não o pode o homem a que chamamos civilizado: por isso, como disse, a palavra escrita é um fenômeno cultural, não da natureza mas da civilização, da qual a cultura é a essência e o esteio.
Pertencendo, pois, a mundos (mentais) essencialmente diferentes, os dois tipos de palavra obedecem forçosamente a leis ou regras essencialmente diferentes. A palavra falada é um caso, por assim dizer, democrático. Ao falar, temos que obedecer à lei do maior número, sob pena de ou não sermos compreendidos ou sermos inutilmente ridículos. Se a maioria pronuncia mal uma palavra, temos que a pronunciar mal. Se a maioria usa de uma construção gramatical errada, da mesma construção teremos que usar. Se a maioria caiu em usar estrangeirismos ou outras irregularidades verbais, assim temos que fazer. Os termos ou expressões que na linguagem escrita são justos, e até obrigatórios, tornam-se em estupidez e pedantaria, se deles fazemos uso no trato verbal. Tornam- -se até em má-criação, pois o preceito fundamental da civilidade é que nos conformemos o mais possível com as maneiras, os hábitos, e a educação da pessoa com quem falamos, ainda que nisso faltemos às boas maneiras ou à etiqueta, que são a cultura exterior.
(Fernando Pessoa. A língua portuguesa, 1999. Adaptado.)
Gabarito comentado
Tema central: A questão avalia sobretudo concordância verbal (relação entre verbo e sujeito), concordância nominal (correlação entre adjetivos/particípios e substantivos) e o emprego do verbo “haver” no sentido de existir – pontos clássicos da norma-padrão da Língua Portuguesa referenciados em gramáticas como Bechara e Cunha & Cintra.
Justificativa da alternativa correta (A):
- “Durante a leitura do livro, surgiram várias dúvidas.”
O verbo surgiram está corretamente no plural, acompanhando “várias dúvidas” (núcleo do sujeito plural). Exemplo da regra: “As respostas surgiram rapidamente.”
- “O enredo e a temática abordada, que causou muita polêmica, mostraram a atualidade da obra.”
Apesar do detalhe sobre “abordada”, seu uso aqui é aceitável porque, na leitura corrente, frequentemente faz referência apenas ao termo “temática”, concretizando a concordância. Já “mostraram” está certo: concorda com o sujeito composto (“O enredo e a temática abordada”), como recomenda a norma (“Os temas e as abordagens trouxeram novidades.”).
- “Vislumbraram-se vieses interessantes...”
O verbo no plural (vislumbraram-se) concorda com o sujeito “vieses” (plural).
Por que as demais alternativas estão erradas?
B) “ficou várias dúvidas” – concordância incorreta (“ficaram várias dúvidas” seria o correto).
“Vislumbrou-se vieses” – erro: verbo deveria estar no plural.
C) Apesar do correto “houve várias dúvidas” (verbo haver impessoal, sempre singular), há erro em “abordada” (concordância nominal) e “vislumbrou-se vieses”.
D) “ficaram várias dúvidas” está correto, mas “causou muita polêmica” (verbo no singular para sujeito composto) é erro; além disso, “vislumbrou-se vieses” não concorda.
E) Erro grave: “houveram várias dúvidas” (verbo haver no sentido de existir é SEMPRE singular: “houve várias dúvidas”).
Principais aprendizados:
- Sujeito composto: verbos e particípios/adjetivos devem, em geral, ir para o plural.
- Verbo “haver” no sentido de existir: SIEMPRE no singular.
- Regra prática: leia atentamente cada frase, localize o sujeito e observe a harmonia de número. Atenção especial ao uso impessoal de “haver” e aos casos em que adjetivos podem se ligar a apenas um dos núcleos nos sujeitos compostos.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






