Analise o seguinte trecho da letra da música A Carne, de autoria de Marcelo Yuka, Ulisses Cappelletti e Seu Jorge, interpretada por Elza Soares. 

“A carne mais barata do mercado

É a carne negra

A carne mais barata do mercado

É a carne negra

Que vai de graça pro presídio

E para debaixo do plástico

E vai de graça pro subemprego

E pros hospitais psiquíatricos

A carne mais barata do mercado

É a carne negra

Que fez e faz e faz história

Segurando esse país no braço, meu irmão

O cabra aqui, não se sente revoltado

Porque o revólver já está engatilhado

E o vingador eleito” [...].

Atente para o que se afirma a seguir a respeito do conteúdo da música apresentada:

I. De acordo com o conteúdo da música, os negros no Brasil tornam-se vulneráveis em função do desemprego e da crise econômica pela qual o País passa atualmente.

II. A música é uma forma de denúncia da situação histórica dos negros no País e do racismo a que eles estão submetidos.

III. Caracteriza-se como como uma canção de protesto, pois demonstra a dívida que o Brasil tem com os negros. Como denota a canção, o respeito é ausente e a justiça também.

IV. Enaltece a contribuição dos negros na construção do Brasil, ao reconhecer que foram eles que seguraram o País nos braços.

Está corretamente relacionado à letra da música somente o que consta em

Resposta correta: Alternativa A — II e III

Tema central: Estratificação e desigualdade racial. A questão exige identificar a natureza da letra: denúncia do racismo estrutural e posicionamento político (canção de protesto).

Resumo teórico rápido: A desigualdade social racial no Brasil é resultado de processos históricos e estruturais (escravidão, exclusão socioeconômica, discriminação no mercado de trabalho e no sistema penal). Conceitos-chave: racismo estrutural (Silvio Almeida) e desigualdade de oportunidades. Fontes úteis: IBGE (PNAD Contínua sobre rendimento e desemprego por raça) e literatura sobre racismo estrutural.

Por que II e III estão corretas?

II. A letra funciona claramente como denúncia — enumera prisões, subemprego, hospitais psiquiátricos — evidenciando a situação histórica e o racismo sofrido pelos negros no país. Tratando-se de análise de conteúdo, essa leitura é direta e consistente com estudos sobre expressão cultural como forma de protesto social.

III. A canção tem caráter de protesto: demonstra a “dívida” social e moral do país para com os negros, apontando ausência de respeito e justiça. A linguagem é crítica e chama atenção para injustiças estruturais — característica típica de canções de protesto.

Análise das alternativas incorretas

I — Incorreta. Afirma que a vulnerabilidade decorre da “crise econômica pela qual o País passa atualmente”. A letra trata de processos históricos e estruturais (prisão, subemprego, violência institucional), não reduz o problema a uma crise conjuntural atual. A armadilha: confundir causas estruturais com efeitos conjunturais.

IV — Incorreta segundo a alternativa do gabarito. Embora haja reconhecimento de contribuição (“segurando esse país no braço”), a leitura exigida considera que a canção não enaltece no sentido celebratório: o trecho é usado para sublinhar exploração e dívida histórica, num tom crítico. A pegadinha aqui é confundir reconhecimento (menção) com enaltecimento (elogio neutro/positivo).

Estratégias para resolver questões assim:

• Identifique o tom (denúncia/protesto vs celebração).
• Procure palavras que indiquem durabilidade (historical/structural) — cuidado com alternativas que insistem em “atualmente”.
• Evite generalizações: diferencie reconhecimento de enaltecimento.

Fontes recomendadas: IBGE (PNAD Contínua) para dados sobre desigualdade racial; Silvio Almeida, Racismo Estrutural, para quadro conceitual.

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