INSTRUÇÃO: Para responder à questão , considere o seguinte excerto do texto Silêncio, de Clarice Lispector, e as afirmativas que seguem.
É tão vasto o silêncio da noite na montanha. É tão despovoado. Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo. Ou inventar um programa, frágil ponto que mal nos liga ao subitamente improvável dia de amanhã. Silêncio tão grande que o desespero tem pudor. Os ouvidos se afiam, a cabeça inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor. Nenhum galo. Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio. (...) Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da terra a lua alta. Então ele, o silêncio, aparece. O coração bate ao reconhecê-lo. Pode-se depressa pensar no dia que passou. Ou nos amigos que passaram e para sempre se perderam. (...) Pode-se tentar enganá-lo também. Deixa-se como por acaso o livro de cabeceira cair no chão. Mas, horror – o livro cai dentro do silêncio e se perde na muda e parada voragem deste. E se um pássaro enlouquecido cantasse? Esperança inútil. O canto apenas atravessaria como uma leve flauta o silêncio. Que se espere. Não o fim do silêncio, mas o auxílio bendito de um terceiro elemento, a luz da aurora. Depois nunca mais se esquece. Inútil até fugir para outra cidade. Pois quando menos se espera pode-se reconhecê-lo – de repente. Ao atravessar a rua no meio das buzinas dos carros. Entre uma gargalhada fantasmagórica e outra. Depois de uma palavra dita. Às vezes no próprio coração da palavra. Os ouvidos se assombram, o olhar se esgazeia – ei-lo. E dessa vez ele é fantasma.
I. A autora sugere a dificuldade do homem de ficar em silêncio.
II. Alguns de nossos sentidos tornam-se mais aguçados em momentos de absoluto silêncio.
III. A autora aponta que a fuga para a cidade é a forma de, afinal, vencer o silêncio.
IV. Em determinada passagem, a narradora personifica o silêncio.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são
É tão vasto o silêncio da noite na montanha. É tão despovoado. Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo. Ou inventar um programa, frágil ponto que mal nos liga ao subitamente improvável dia de amanhã. Silêncio tão grande que o desespero tem pudor. Os ouvidos se afiam, a cabeça inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor. Nenhum galo. Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio. (...) Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da terra a lua alta. Então ele, o silêncio, aparece. O coração bate ao reconhecê-lo. Pode-se depressa pensar no dia que passou. Ou nos amigos que passaram e para sempre se perderam. (...) Pode-se tentar enganá-lo também. Deixa-se como por acaso o livro de cabeceira cair no chão. Mas, horror – o livro cai dentro do silêncio e se perde na muda e parada voragem deste. E se um pássaro enlouquecido cantasse? Esperança inútil. O canto apenas atravessaria como uma leve flauta o silêncio. Que se espere. Não o fim do silêncio, mas o auxílio bendito de um terceiro elemento, a luz da aurora. Depois nunca mais se esquece. Inútil até fugir para outra cidade. Pois quando menos se espera pode-se reconhecê-lo – de repente. Ao atravessar a rua no meio das buzinas dos carros. Entre uma gargalhada fantasmagórica e outra. Depois de uma palavra dita. Às vezes no próprio coração da palavra. Os ouvidos se assombram, o olhar se esgazeia – ei-lo. E dessa vez ele é fantasma.
I. A autora sugere a dificuldade do homem de ficar em silêncio.
II. Alguns de nossos sentidos tornam-se mais aguçados em momentos de absoluto silêncio.
III. A autora aponta que a fuga para a cidade é a forma de, afinal, vencer o silêncio.
IV. Em determinada passagem, a narradora personifica o silêncio.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são
Gabarito comentado
Tema central: A questão aborda interpretação de texto literário, exigindo a análise tanto de ideias explícitas quanto de implicações e figuras de linguagem, especialmente a personificação (prosopopeia).
Justificativa da alternativa correta (D):
Interpretação é compreender o que o texto afirma e também o que ele sugere. Segundo Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), o intérprete deve buscar além do sentido literal.
I. Correta. O texto sinaliza a dificuldade de conviver com o silêncio, como se lê em "Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo...", sugerindo resistência e incômodo humano diante do silêncio.
II. Correta. A frase "Os ouvidos se afiam, a cabeça inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor" exemplifica que nossos sentidos se intensificam na ausência de outros estímulos, ideia subentendida, mas diretamente vinculada ao contexto.
IV. Correta. O silêncio é personificado: "Então ele, o silêncio, aparece. O coração bate ao reconhecê-lo." Aqui, o silêncio ganha ações e atributos humanos — recurso típico da personificação (prosopopeia), plenamente de acordo com a definição de Celso Cunha e Lindley Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo).
Por que a afirmativa III está errada?
III. Incorreta. O texto afirma ser "inútil até fugir para outra cidade". Ou seja, nem a vida urbana elimina o silêncio interior, desmentindo a ideia de que fugir para a cidade resolveria o problema. A opção incorre em interpretação equivocada do sentido global.
Análise das alternativas:
- A) Incompleta (ignora II e IV, que também estão corretas).
- B) Equívoca (inclui III, incorreta).
- C) Equívoca (novamente, III está errada; falta I e II).
- E) Inválida, pois aceita III.
- D) Correta — abrange apenas I, II e IV, conforme análise criteriosa.
Estratégias para provas:
Atente-se sempre a palavras como "inútil" e construções que expressam negação ou ironia. Elas costumam desmentir interpretações apressadas. Além disso, redobre a atenção à identificação de figuras de linguagem!
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