Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o
lenço e contemplara por alguns instantes as feições
defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo,
inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que
Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não
podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um
livro adúltero [...].
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra
vez o cadáver, mas então não pôde mais. O beijo rebentou
em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas,
que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e
irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara,
saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi
longa, muito longa, deliciosamente longa.
ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br.
Acesso em: 9 out. 2015.
No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que
acompanha a perspectiva de Fortunato. O que singulariza
esse procedimento narrativo é o registro do(a)
Garcia tinha-se chegado ao cadáver, levantara o lenço e contemplara por alguns instantes as feições defuntas. Depois, como se a morte espiritualizasse tudo, inclinou-se e beijou-a na testa. Foi nesse momento que Fortunato chegou à porta. Estacou assombrado; não podia ser o beijo da amizade, podia ser o epílogo de um livro adúltero [...].
Entretanto, Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver, mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa.
ASSIS, M. A causa secreta. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 9 out. 2015.
No fragmento, o narrador adota um ponto de vista que acompanha a perspectiva de Fortunato. O que singulariza esse procedimento narrativo é o registro do(a)