Questão 651bcfbb-06
Prova:UniCEUB 2014
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos

TEXTO II

                  Modinha do empregado de banco


Eu sou triste como um prático de farmácia,
Sou quase tão triste como um homem que usa costeletas.
Passo o dia inteiro pensando nuns carinhos de mulher
Mas só ouço o tectec das máquinas de escrever.

Lá fora chove e a estátua de Floriano fica linda.
Quantas meninas pela vida afora!
E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.
Se eu tivesse estes contos punha a andar
A roda da imaginação nos caminhos do mundo.
E os fregueses do Banco
Que não fazem nada com estes contos!
Chocam outros contos para não fazerem nada com eles

Também se o Diretor tivesse a minha imaginação
O Banco já não existiria mais
E eu estaria noutro lugar.

                                    Murilo Mendes

Leia o poema de Murilo Mendes e assinale a alternativa incorreta.

A
Observa-se, no texto, certo tom de deboche e singelo humor.
B
O trabalho burocrático, para o poeta, não causava nenhum prazer, muito pelo contrário, provocava nele uma grande tristeza.
C
No poema, pode-se entrever uma crítica sutil e delicada ao acúmulo de capital.
D
Os ruídos do ambiente e a atenção dedicada ao trabalho impedem o poeta de pensar em coisas prazerosas, o que o torna ainda mais triste e melancólico.
E
O poeta demonstra profunda insatisfação existencial devido ao seu momento profissional.

Gabarito comentado

A
Ana BenitesMentora Qconcursos

Gabarito comentado:

Tema central da questão: Interpretação de texto poético, com análise do sentido global, identificação de críticas sociais, figuras de linguagem, além de compreensão de emoções e intenções do eu-lírico.

Justificativa da alternativa incorreta – D:

A alternativa D diz que "Os ruídos do ambiente e a atenção dedicada ao trabalho impedem o poeta de pensar em coisas prazerosas", tornando-o ainda mais triste. No entanto, o poema mostra o oposto: o eu-lírico afirma claramente que pensa nos “carinhos de mulher” durante todo o dia. O “tectec das máquinas de escrever” existe, mas não impede que ele se distraia com pensamentos mais amenos. Assim, a alternativa D distorce o sentido do texto, pois cria uma restrição à imaginação do personagem que não está presente no poema.

Análise das demais alternativas:

A) Correta – O poema é permeado por deboche e humor sutil, como nas comparações (“triste como um prático de farmácia”, “homem que usa costeletas”), funcionando como leve ironia diante da monotonia do trabalho.

B) Correta – A rotina burocrática torna o eu-lírico entristecido e insatisfeito, fato evidenciado por versos como “sou triste como um prático de farmácia”.

C) Correta – Existe crítica ao acúmulo de capital: “E eu alinhando no papel as fortunas dos outros.”, além do deboche sobre quem apenas “choca outros contos para não fazerem nada com eles”. É uma crítica sutil, conforme apontado por autores como Evanildo Bechara.

E) Correta – O poema traz insatisfação existencial em relação ao trabalho, apontando para frustrações profundas (“eu estaria noutro lugar.”).

Resumo da Estratégia de Resolução:

Leia com atenção as ações e sentimentos explícitos do eu-lírico. Busque por frases que, de modo direto ou metafórico, expressem o verdadeiro sentido emocional do poema. Tenha atenção a pegadinhas, como interpretações generalizadas, extrapolações do texto, ou distorções do que realmente foi dito pelo autor. Essa estratégia evita erros comuns em questões de interpretação.

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!

Estatísticas

Aulas sobre o assunto

Questões para exercitar

Artigos relacionados

Dicas de estudo