Sobre o fragmento da obra Vida e Morte de M. J. Gonzaga de
Sá, de Lima Barreto, assinale a alternativa CORRETA.
Leia o fragmento para responder a QUESTÃO .
A felicidade, sensação tão volátil, instável, irredutível de
homem a homem é cousa diferente, e não consente média a
abranger centenas, milhares e milhões de seres humanos.
Imaginas tu que Madame Belasman, de Petrópolis, tem um
grande joanete, um defeito hediondo, com o qual sobremaneira
sofre; e o operário Felismino, da mortona, orgulha-se em
possuir um filho com talento. Madame Belasman vive
acabrunhada com a exuberância de seu joanete. [...]
entretanto, Felismino, quando bate rebites, sorri e antegoza o
estrondo que uma parcela do seu sangue vai causar na
sociedade. [...] Quem é mais feliz – pergunto – madame
Belasman ou o senhor Felismino? E, à vista disso, poderás
dizer que todas as damas de Petrópolis são felizes e os
operários de fundição são desgraçados? Há média possível
para a felicidade das classes? Nós, os modernos, nos vamos
esquecendo que essas histórias de classe, de povos, de raças,
são tipos de gabinetes, fabricados para as necessidades de
certos edifícios lógicos, mas que fora deles desaparecem
completamente: – Não são? Não existem.
Fonte: BARRETO, Lima. Vida e Morte de M.J. Gonzaga de Sá. Cotia, SP:
Ateliê Editorial, 2017, p 100-101. (fragmento).
Gabarito comentado
Tema central: O fragmento analisa a subjetividade da felicidade e critica a tentativa de generalizar experiências individuais com base em classe social.
Explicação teórica: Em Teoria Literária, compreende-se que a experiência literária humaniza e individualiza personagens, rejeitando rótulos e médias sociais. Neste texto, Lima Barreto trabalha a crítica à ideia de que se pode medir a felicidade por grupos (classes, raças). Ele reforça a ideia de que cada indivíduo percebe e sente a felicidade de forma única, independente de sua posição social.
Resposta correta: Alternativa D. Ela expressa com precisão a ideia de que a felicidade depende da forma como a pessoa interpreta sua própria realidade, sem relação direta de causa e efeito com sua classe ou condição social.
Justificativa: O fragmento cita Madame Belasman (alta sociedade, mas infeliz com seu problema físico) e Felismino (operário que sente orgulho do talento do filho e sorri ao trabalhar), mostrando que ambos vivem experiências de felicidade e aflição a partir de sua visão particular. O autor conclui que "essas histórias de classe, de povos, de raças, são tipos de gabinetes, fabricados", ou seja, são construções artificiais que não mostram a verdade da experiência individual.
Análise das alternativas incorretas:
A) Incorreta porque afirma que felicidade é “sólida e estável”. O texto diz justamente o contrário: chama a felicidade de volátil e instável.
B) Erra ao sugerir que a felicidade pode ser medida entre classes; Barreto recusa explicitamente esse pensamento.
C) Inadequada, pois introduz um elemento divino que não aparece no fragmento. A ênfase é na construção individual, não em fatores extraterrenos.
Estratégias para provas:
- Desconfie de termos absolutos (“sempre”, “nunca”, “só”) e de generalizações.
- Busque palavras-chave no texto (ex: “volátil”, “não consente média”, “construções artificiais”) para confrontar com as alternativas.
- Evite marcar respostas que introduzam causas ou contextos não tratados no texto (divindade, fórmulas estáveis etc.).
Esse tipo de análise é frequentemente abordado em obras de referência, como "Teoria da Literatura" (Massaud Moisés) e manuais de interpretação de texto para concursos.
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