Assinale a alternativa CORRETA. No fragmento de Quarto de
despejo, Carolina Maria de Jesus apresenta um olhar
Leia o fragmento para responder a QUESTÃO .
3 DE MAIO... Fui na feira da Rua Carlos de Campos, catar
qualquer coisa. Ganhei bastante verdura. Mas ficou sem efeito,
porque eu não tenho gordura. Os meninos estão nervosos por
não ter o que comer.
6 DE MAIO [...] ...O que eu aviso aos pretendentes a politica, é
que o povo não tolera a fome. É preciso conhecer a fome para
saber descrevê-la.
9 DE MAIO... Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso:
Faz de conta que eu estou sonhando.
10 DE MAIO... [...] O tenente interessou-se pela educação dos
meus filhos. Disse-me que a favela é um ambiente propenso,
que as pessoas tem mais possibilidades de delinquir do que
tornar-se util a patria e ao país. Pensei: Se ele sabe disto,
porque não faz um relatorio e envia para os politicos? O senhor
Janio Quadros, o Kubstchek e o Dr. Adhemar de Barros? Agora
falar para mim, que sou uma pobre lixeira. Não posso resolver
nem as minhas dificuldades.
... O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou
fome. A fome também é professora.
Quem passa fome aprende a pensar no proximo, e nas
crianças.
16 DE MAIO Eu amanheci nervosa. Porque eu queria ficar em
casa, mas eu não tinha nada para comer.
... Eu não ia comer porque o pão era pouco. Será que é só eu
que levo esta vida? O que posso esperar do futuro? Um leito
em Campos do Jordão. Eu quando estou com fome quero
matar o Janio, quero enforcar o Adhemar e queimar o
Juscelino. As dificuldades corta o afeto do povo pelos politicos.
Fonte: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983, p. 25-29. (fragmento).
Gabarito comentado
Gabarito: B
Tema central: O foco da questão está na interpretação crítica da obra Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus, especialmente sobre o olhar que a autora oferece à problemática da fome e à ação (ou omissão) dos políticos em relação à população pobre.
Explicação teórica: Carolina Maria de Jesus, a partir de sua própria experiência de vida na favela, utiliza a escrita para denunciar a fome, a exclusão social e a negligência política. A autora, pertencente à chamada literatura marginal, constrói um discurso de resistência e crítica, trazendo à tona temas invisibilizados na literatura tradicional.
Fundamentação da alternativa correta (B):
Observe nas passagens: “O que eu aviso aos pretendentes a politica, é que o povo não tolera a fome” e “O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora.” Aqui, Carolina denuncia, cobra e expõe sua insatisfação diante da falta de respostas dos políticos, mostrando autonomia crítica e consciência social. Ou seja, sua escrita não apenas narra, mas julga e denuncia.
Análise das alternativas incorretas:
A) Errada: Dizer que Carolina tem olhar “submisso” é contrário ao seu posicionamento questionador e à crítica direta à inércia dos governantes.
C) Errada: O otimismo não é o sentimento predominante no excerto. A autora expõe seu desalento e insatisfação.
D) Errada: Não há culpa individualizada – ela responsabiliza o sistema político, não a si mesma, pelos problemas vividos.
Estratégia de resolução: Ao interpretar textos literários em provas, observe sempre: a presença de opiniões explícitas do narrador, o tom crítico, frases que expressam juízo de valor e quem é responsabilizado pelos fatos relatados. Evite cair em pegadinhas comuns, como generalizações (“submisso” ou “culpado”) ou leituras simplistas de contexto.
Resumo: A resposta exige leitura atenta e sensibilidade para detectar o teor crítico e engajado de Carolina Maria de Jesus, evitando atribuir-lhe passividade ou autoculpa. Pratique identificar o ponto de vista do narrador e o alvo de sua crítica em outros textos.
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