Os fragmentos das obras de Bernardo Élis e de João
Guimarães Rosa narram, respectivamente, a notícia da
chegada de um viajante e a chegada de outro viajante. É
CORRETO afirmar que os narradores:
Leia os fragmentos para responder a QUESTÃO .
Texto IO Juiz Valério alegrava-se com a aproximação da comissão.
Acreditava em justiça, em lei, achava que o governo fosse
dotado de uma clarividência que o comum dos homens não
possuía, de uma reta intenção de punir o mal e premiar o bem.
Daquele recanto tão afastado, Governo era assim algo de
sobre-humano e inatacável. Antes porém que a Comissão
chegasse ao [Vila do] Duro, aportaram ali notícias do que era
ela. Era como o vento que precede a chuva braba. Quem vinha
chefiando a comissão era um juiz togado, com assento em
Porto Nacional, formado pela Faculdade do Recife, com
militança no Foro de Salvador e Belém do Pará, homem de
estudo, homem de preparo, homem sabido e corrido.
Fonte: ÉLIS, Bernardo. O tronco. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p.15.
(fragmento). (adaptado).
Texto IISucedeu então vir o grande sujeito entrando no lugar, capiau
de muito longínquo: tirado à arreata o cavalo raposo, que
mancara, apontava de noroeste, pisando o arenoso. Seus
bigodes ou a rustiquez – roupa parda, botinões de couro de
anta, chapéu toda a aba – causavam riso e susto. Tomou
fôlego, feito burro entesa orelhas, no avistar um fiapo de povo
mas a rua, imponente invenção humana. Tinha vergonha de
frente e de perfil, todo o mundo viu, devia também de alentar
internas desordens no espírito.
Fonte: ROSA, João Guimarães. Tutaméia (Terceiras estórias). Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2001, p. 58. (fragmento).
Gabarito comentado
Tema central: A construção do imaginário literário
Esta questão aborda Teoria Literária, especificamente o conceito de imaginário. O imaginário se refere ao conjunto de imagens, símbolos e ideias que uma obra literária utiliza para criar representações sobre personagens, lugares ou instituições, indo além da descrição física ou da mera exposição de fatos.
Justificativa da Alternativa Correta (B):
A alternativa B) constroem imaginários desses viajantes é a correta porque ambos os textos transformam os personagens em símbolos: o primeiro constrói o imaginário do governo como algo grandioso e “inacessível”; o segundo apresenta o viajante sertanejo de forma simbólica (homem do interior rural, visto com estranheza pela população), usando suas ações e características para representar mais que apenas sua aparência física. Esta abordagem segue o conceito de Gilbert Durand, que vê o imaginário como o “conjunto de imagens e símbolos compartilhados” pela cultura.
Estratégia de resolução: Ao interpretar questões como esta, preste atenção se o texto está apenas descrevendo pessoas/fatos ou construindo imagens simbólicas e culturais. Palavras como “sobre-humano”, “rustiquez”, e a reação da comunidade são pistas de que se trata de simbolização.
Análise das Alternativas Incorretas:
- A) descrevem a valentia desses viajantes: Incorreta. Não há foco na coragem, mas sim nas percepções e na imagem construída ao redor do viajante.
- C) delineiam as características físicas desses viajantes: Parcialmente correta, mas incompleta: as descrições físicas são apenas meios para criar o imaginário, não o objetivo final.
- D) explicam as relações entre esses viajantes e o governo: Errada. Só o primeiro texto menciona governo, e mesmo assim, como símbolo; não há comparação direta de relações pessoais.
Dica para concursos: Cuidado com alternativas que se limitam ao aspecto literal ou que generalizam o efeito do texto (“sempre descreve”, “apenas apresenta”, etc.). Leia atentamente palavras-chave que sinalizam construção de sentido implícito!
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