Questão 61afa1fc-16
Prova:FGV 2018
Disciplina:Português
Assunto:Análise sintática, Sintaxe

A oração sublinhada no trecho “Mal o vi, percebi que não se tratava de pardal novo.” tem valor

Texto para a questão

PARDAIS NOVOS

    Um dia o meu telefone, instalado à cabeceira de minha cama, retiniu violentamente às sete da manhã. Estremunhado tomei do receptor e ouvi do outro lado uma voz que dizia: “Mestre, sou um pardal novo. Posso ler-lhe uns versos para que o senhor me dê a sua opinião?” Ponderei com mau humor ao pardal que aquilo não eram horas para consultas de tal natureza, que ele me telefonasse mais tarde. O pardal não telefonou de novo: veio às nove e meia ao meu apartamento.
    Mal o vi, percebi que não se tratava de pardal novo. Ele mesmo como que concordou que o não era, pois perguntando-lhe eu a idade, hesitou contrafeito para responder que tinha 35 anos. Ainda por cima era um pardal velho!
    Desde esse dia passei a chamar de pardais novos os rapazes que me procuram para mostrar-me os seus primeiros ensaios de voo no céu da poesia. Dizem eles que desejam saber se têm realmente queda para o ofício, se vale a pena persistir etc. Fico sempre embaraçado para dar qualquer conselho. A menos que se seja um Rimbaud ou, mais modestamente, um Castro Alves, que poesia se pode fazer antes dos vinte anos? Como Mallarmé afirmou certa vez que todo verso é um esforço para o estilo, acabo aconselhando ao pardal que vá fazendo os seus versinhos, sem se preocupar com a opinião de ninguém, inclusive a minha. (...)

Manuel Bandeira, Melhores crônicas. Global Editora.

A
causal.
B
final.
C
concessivo.
D
temporal.
E
consecutivo.

Gabarito comentado

M
Marina SouzaMonitor do Qconcursos

Gabarito comentado:

Tema central: O tema abordado na questão é orações subordinadas adverbiais temporais. Esse tipo de oração indica uma circunstância de tempo em relação à ação principal, sendo frequentemente introduzido por conjunções como “mal”, “assim que”, “logo que”, entre outras.

Análise da alternativa correta (D - Temporal):

No trecho “Mal o vi, percebi que não se tratava de pardal novo.”, a oração destacada “Mal o vi” equivale a “Assim que o vi” ou “Logo que o vi”. Ou seja, estabelece a ideia de tempo: o momento em que o eu lírico percebe que não se tratava de um pardal novo ocorre imediatamente após vê-lo. Segundo a norma-padrão e gramáticos como Cunha & Cintra e Evanildo Bechara, a conjunção “mal” nesse contexto tem claro valor temporal.

Regra gramatical: Orações adverbiais temporais expressam o momento em que ocorre a ação da oração principal e geralmente vêm introduzidas por conjunções como “quando”, “mal”, “logo que”.

Análise das alternativas incorretas:

  • A) Causal: Não há relação de causa/efeito entre ver e perceber; a oração não explica o motivo.
  • B) Final: Não expressa finalidade (“para quê?”).
  • C) Concessivo: Não há oposição ou contraste; não é “apesar de”, “embora”.
  • E) Consecutivo: Não há ideia de consequência, pois a oração não indica um resultado decorrente da principal.

Dica de prova: Sempre observe expressões conectivas. Palavras como “mal”, “logo que”, “assim que” normalmente introduzem ideias de tempo, enquanto “porque” é causal e “a fim de” é final. Cuidado com pegadinhas em que a conjunção pode mudar de sentido conforme o contexto.

Resumo: A oração “Mal o vi” expressa tempo (“assim que o vi”), por isso a alternativa correta é D) temporal. O entendimento desse ponto é fundamental para acertar questões que envolvam orações subordinadas.

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