Questão 5f8e41de-2a
Prova:PUC - RS 2014
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos

Buzinas. Máquinas. Sirenes. A modernidade grita. Na rua, os sons entorpecem os nossos sentidos, mas quase nem mais os percebemos nesta sinfonia diária de ruídos. Dentro de casa, muitas vezes nos refugiamos junto ao barulho: música alta, televisão ligada, eletrodomésticos em funcionamento. Ainda há lugar para o silêncio no nosso mundo de hoje? Dentro da literatura, há. E sempre houve. Literatura que também denunciou outros silêncios, como aquele forjado pelas ditaduras. Concentre-se e escute o som do silêncio, ao responder as questões que seguem nesta prova.

INSTRUÇÃO: Para responder à questão , leia a crônica Um pouco de silêncio, de Lya Luft, e preencha os parênteses com V (verdadeiro) ou F (falso).

Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade. Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. (...) Quem não corre com a manada praticamente nem existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho. Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou em trilhas determinadas – feito hâmsteres que se alimentam de sua própria agitação. Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença. Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma. Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém – como se a amizade ou o amor se arrumasse em loja. (...) Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude. Pensamos logo em depressão: quem sabe terapia e antidepressivos? Uma criança que não brinca ou salta ou participa de atividades frenéticas está com algum problema. O silêncio assusta-nos por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se observa outro ângulo de nós mesmos. (...) O silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconcerto nosso. Com medo de vermos quem – ou o que – somos, adiamos o confronto com a nossa alma sem máscaras. Mas, se aprendermos a gostar um pouco de sossego, descobrimos – em nós e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente negativas. Nunca esqueci a experiência de quando alguém me pôs a mão no meu ombro de criaça e disse: – Fica quietinha um momento só, escuta a chuva a chegar.(...) Então, por favor, deem-me isso: um pouco de silêncio bom, para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito para além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.

( ) No excerto, é possível perceber a crítica da autora ao isolamento de certos indivíduos, que não conseguem viver em comunidade.
( ) A crônica tem um caráter pedagógico, uma vez que faz um alerta sobre crianças com problemas de socialização, que não brincam, não pulam, não se divertem juntamente às demais.
( ) A autora insinua, em diferentes momentos do texto, a extrema preocupação que as pessoas têm com a opinião dos outros.
( ) A narradora associa o silêncio com a capacidade de reflexão ao olhar para si mesmo.

O correto preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

A
V – V – V – V
B
V – F – V – V
C
F – F – V – V
D
V – F – F – F
E
F – V – F – F

Gabarito comentado

M
Marina TeixeiraMonitor do Qconcursos

Comentário Gabaritado – Interpretação de Texto (Crônica de Lya Luft)

Tema central da questão: Interpretação de texto, com foco na identificação de temas subjacentes, crítica social implícita e intenção da narradora na crônica.

Análise das Afirmativas:

( ) "Crítica ao isolamento de certos indivíduos, que não conseguem viver em comunidade."
Falsa. A autora não critica o isolamento, mas valoriza o recolhimento e a busca pelo silêncio como forma de autoconhecimento. O texto celebra o direito ao sossego em uma sociedade barulhenta, não rejeita quem prefere ficar só. (Base: Cunha & Cintra, "Nova Gramática...", interpretação de críticas implícitas)

( ) "Caráter pedagógico; alerta sobre crianças com problemas de socialização."
Falsa. A autora utiliza o exemplo da criança para criticar o excesso de agitação, não para advertir sobre socialização. A associação entre "não brincar" e "problema" é apresentada como uma crítica irônica à sociedade, não como alerta diagnóstico. (Base: semântica contextual, análise de intenção)

( ) "Preocupação com a opinião dos outros."
Verdadeira. O texto diz: “Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia...”, expondo a pressão de se adequar às expectativas coletivas. A preocupação exacerbada com o olhar externo é um dos eixos do texto.

( ) "Silêncio associado à capacidade de reflexão."
Verdadeira. A autora liga explicitamente o silêncio à introspecção e à descoberta interior: “O silêncio faz pensar... se aprendermos a gostar um pouco de sossego, descobrimos... regiões nem imaginadas...” (Rocha Lima, leitura do implícito em textos literários)

Estratégias para interpretação:
• Atente a palavras como “celebra”, “exalta”, “valoriza” e a construções irônicas: evitam cair em pegadinhas que invertem o sentido da crítica.
• Observe as generalizações: o texto não é diagnótico, mas reflexivo e crítico.

Gabarito correto: C) F – F – V – V

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