O Barroco se configura como um movimento literário marcado, entre outros, pelas ideias difundidas especialmente pela Contra Reforma. Assim, percebe-se uma forte presença da temática religiosa em diversos textos produzidos nesse período no Brasil, entre os quais se destacam os poemas lírico-religiosos de Gregório de Matos. A partir da leitura do poema abaixo, assinale a opção correta.

Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade;

verdade é, meu Senhor, que hei delinquido,

delinquido vos tenho, e ofendido;

ofendido vos tem minha maldade.

Maldade encaminhada a uma vaidade;

vaidade, que de todo me há vencido;

vencido quero ver-me, e arrependido;

arrependido em tanta enormidade.

Arrependido estou de coração;

de coração vós busco, dai-me abraços;

abraços que mereçam vossa Luz.

Luz, que clara me mostre a Salvação,

a Salvação que pretendo com tais braços:

Piedade, meu Senhor, Jesus, Jesus.

MATOS, Gregório de. In: HOLLANDA, Sérgio Buarque de. Antologia dos poetas brasileiros

da fase colonial. São Paulo: Perspectiva, 1979, p. 57-58.

Alternativa correta: B

Tema central: trata-se de um poema barroco de teor religioso, com voz lírico‑religiosa que confessa pecados e suplica perdão. Para resolver, é preciso reconhecer sinais de tonalidade (confissão, arrependimento, súplica) e distinguir poema lírico de outras formas (sermão, sátira).

Resumo teórico: o Barroco (na cultura católica pós‑Concílio de Trento) enfatiza a religiosidade, a culpa, a busca da salvação e o conflito entre o humano e o divino. Gregório de Matos produziu tanto versos satíricos quanto lírico‑religiosos; neste último, predomina o eu penitente que implora misericórdia (ver Concílio de Trento, 1545–1563; e coletâneas como a organizada por Sérgio Buarque de Hollanda).

Justificativa da alternativa B: o eu lírico usa verbos de confissão — “Ofendi-vos”, “delinquido”, “arrependido”, “busco” — e invoca diretamente “meu Senhor, Jesus”, pedindo misericórdia (“dai‑me abraços”) e a Luz da Salvação. Tudo indica tom de súplica e pedido de perdão a Jesus Cristo, logo B é correta.

Análise das incorretas:
A: incorreta — não há ironia nem crítica institucional; o tom é penitencial, não satírico.
C: incorreta — sermão é oratório e expositivo; este é um soneto lírico e pessoal, não um sermão típico.
D: incorreta — o sujeito é reverente; não há irreverência nem desprezo pela fé.
E: incorreta — embora Gregório tenha o apelido “Boca do Inferno” por sátiras públicas, este poema mostra arrependimento sincero e busca de salvação, não mero medo do inferno como motivo exclusivo.

Dica de prova: ao analisar poemas barrocos, destaque palavras‑chave (confissão, Senhor, arrependido, suplica) e identifique o gênero (lírico x prosopopeia x sermão). Cuidado com alternativas que misturam atributos do poeta (apelidos, outros gêneros) com o conteúdo do poema.

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