Questão 52eb72c9-d6
Prova:PUC - RS 2016
Disciplina:Literatura
Assunto:Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

Leia o poema As mortes sucessivas, de Adélia Prado, e analise as afirmativas.

Quando minha irmã morreu eu chorei muito
e me consolei depressa. Tinha um vestido novo
e moitas no quintal onde eu ia existir.
Quando minha mãe morreu
Me consolei mais lento.
Tinha uma perturbação recém-achada:
meus seios conformavam dois montículos
e eu fiquei muito nua,
cruzando os braços sobre eles é que eu chorava.
Quando meu pai morreu
Nunca mais me consolei.
Busquei retratos antigos, procurei conhecidos,
parentes, que me lembrassem sua fala,
seu modo de apertar os lábios e ter certeza.
Reproduzi o encolhido do seu corpo
em seu último sono e repeti as palavras
que ele disse quando toquei seus pés:
´deixa, tá bom assim´.
Quem me consolará desta lembrança?
Meus seios se cumpriram
e as moitas onde existo
são pura sarça ardente de memória.
I. O poema apresenta um eu lírico que busca uma aprendizagem frente à morte.
II. As transformações do corpo do eu lírico evidenciam uma sucessão de perdas, enfrentadas desde a juventude.
III. A lembrança do pai é representada como ferida dolorosa que não tranquiliza o sentimento de falta.
A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são

A
I, apenas.
B
III, apenas.
C
I e II, apenas.
D
II e III, apenas.
E
I, II, III.

Gabarito comentado

I
Isabela Duarte Monitor do Qconcursos

Gabarito: E (I, II e III)

Tema central: A questão aborda a vivência do luto e o amadurecimento do eu lírico a partir das perdas familiares, observando os efeitos físicos, emocionais e existenciais descritos no poema "As mortes sucessivas", de Adélia Prado.

Comentário: No poema, o eu lírico narra diferentes episódios de perda (irmã, mãe, pai) e mostra como cada morte produz um efeito distinto em sua vida, sinalizando tanto a passagem do tempo quanto o crescimento pessoal. O texto apresenta temas clássicos da literatura contemporânea, como a reflexão sobre a morte e o luto, o amadurecimento emocional e os sinais dessa evolução no corpo do sujeito poético.

Análise das afirmativas:

I. Correta. O eu lírico aprende gradativamente com cada luto. O consolo rápido com a irmã, mais difícil com a mãe e impossível com o pai mostra um percurso de amadurecimento e autoconhecimento em relação à finitude, ideia debatida em obras de referência como “História da Morte” (Philippe Ariès).

II. Correta. O poema destaca a transformação do corpo feminino (“meus seios conformavam dois montículos... fiquei muito nua”), relacionando desenvolvimento físico com eventos traumáticos da juventude, refletindo que cada perda está entrelaçada com uma fase de sua existência.

III. Correta. Ao tratar da morte do pai, o texto detalha a irreparabilidade da perda – o eu lírico jamais se consolará, a lembrança é dolorosa e constante, o que ressalta uma ferida aberta e não apaziguada.

Por que as demais alternativas estão incorretas:

As alternativas A, B, C e D estão incompletas, pois deixam de fora uma ou mais dimensões essenciais do poema, ou seja, reduzem a riqueza interpretativa do texto. Em provas, atente para os enunciados que sugerem totalidade (“todas”, “apenas”) – aqui, retirar qualquer afirmativa limita a compreensão da progressão emocional e física do eu lírico.

Estratégia de resolução: Sempre relacione o desenvolvimento do eu lírico não só às experiências narradas, mas também aos sinais de amadurecimento e à linguagem utilizada. Observe mudanças de tempo verbal, menções corporais e expressões de dor para compreender o crescimento ou estagnação do personagem poético.

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