Questão 509077a6-f7
Prova:
Disciplina:
Assunto:
Mas ao cabo de três meses, João Romão, [...]
retornou à sua primitiva preocupação com o Miranda,
única rivalidade que verdadeiramente o estimulava.
Desde que o vizinho surgiu com o baronato, o vendeiro
transformava-se por dentro e por fora a causar pasmo.
Mandou fazer boas roupas e aos domingos refestelava-se de casaco branco e de meias, assentado defronte
da venda, a ler jornais. Depois deu para sair a passeio,
vestido de casemira, calçado e de gravata. [...] Já não
era o mesmo lambuzão.
Bertoleza é que continuava na cepa torta,
sempre a mesma crioula suja, sempre atrapalhada de
serviço, sem domingo nem dia santo; essa, em nada,
em nada absolutamente, participava das novas regalias
Vestibular 2016/2 Página 15
do amigo; pelo contrário, à medida que ele galgava
posição social, a desgraçada fazia-se mais e mais
escrava e rasteira. [...] p.142
AZEVEDO, Aluisio. O cortiço. 5ª edição. São Paulo: Martin Claret,
2010.
A composição dos personagens é um dos
elementos a serem considerados na interpretação de
uma obra narrativa. No excerto destacado, tem-se o
caso de um personagem que não se modifica no
desenrolar da trama e de outro que se transforma na
perspectiva da ascensão social e, sobre essa
composição, observa-se que:
Mas ao cabo de três meses, João Romão, [...]
retornou à sua primitiva preocupação com o Miranda,
única rivalidade que verdadeiramente o estimulava.
Desde que o vizinho surgiu com o baronato, o vendeiro
transformava-se por dentro e por fora a causar pasmo.
Mandou fazer boas roupas e aos domingos refestelava-se de casaco branco e de meias, assentado defronte
da venda, a ler jornais. Depois deu para sair a passeio,
vestido de casemira, calçado e de gravata. [...] Já não
era o mesmo lambuzão.
Bertoleza é que continuava na cepa torta,
sempre a mesma crioula suja, sempre atrapalhada de
serviço, sem domingo nem dia santo; essa, em nada,
em nada absolutamente, participava das novas regalias
Vestibular 2016/2 Página 15
do amigo; pelo contrário, à medida que ele galgava
posição social, a desgraçada fazia-se mais e mais
escrava e rasteira. [...] p.142
AZEVEDO, Aluisio. O cortiço. 5ª edição. São Paulo: Martin Claret,
2010.
A composição dos personagens é um dos
elementos a serem considerados na interpretação de
uma obra narrativa. No excerto destacado, tem-se o
caso de um personagem que não se modifica no
desenrolar da trama e de outro que se transforma na
perspectiva da ascensão social e, sobre essa
composição, observa-se que:
A
o português João Romão, no romance,
representa um tipo que na vida social
contemporânea denomina-se “novo-rico” e que
corresponde àquela pessoa que enriquece
financeiramente e, na mesma proporção e de
modo espontâneo, muda seus hábitos
socioculturais, que não se restringem apenas
às aparências.
B
o fato de um personagem ascender
economicamente e de outro manter-se na
marginalidade, no romance em questão,
possibilita uma reflexão sobre as complexas
relações envolvidas nas discrepâncias entre as
classes sociais no Brasil e o modo como a
literatura lida com tais relações.
C
uma leitura atenta da obra, desde o começo
até o final, permite a afirmação de que João
Romão enriquece pelo esforço próprio, sem
exploração da mão de obra alheia, e graças
aos atributos da raça superior a que pertence.
D
Bertoleza, negra, permanece na marginalidade
até o final da obra, quando recebe um
desfecho trágico. Essa permanência na
marginalidade não pode ser questionada no
romance, porque o destino das personagens é
algo que não sofre qualquer tipo de
determinação e não se discute no plano da
referida narrativa.
E
a única motivação de João Romão era o
acúmulo de capital. Sua rivalidade com
Miranda, que obtivera o título de Barão, não levava em conta o prestígio social advindo do
baronato, fato que João Romão desprezava.