Personagem da obra O Primo Basílio, a figura fictícia Conselheiro Acácio, citada no texto, tornou-se célebre como:
Quando se conversa, deve-se evitar as
frases feitas que são verdadeiras chapas.
Exemplos: em um enterro, dizer “que não
se morre senão uma vez”, que “basta estar
vivo para morrer”, que “o morto é feliz porque deixou de sofrer”, que “Deus sabe o
que faz e escreve certo por linhas tortas” ou
que “as grandes dores são mudas”. Quando se visita um doente, não há necessidade de levar no bolso sentenças desse jaez:
“a saúde é a maior das fortunas”, “somos
nós que pagamos pelos excessos de nossos
pais” ou “a ciência, que tudo pode, ainda
não encontrou remédio para os pequenos
males”. Em todos os setores das atividades
sociais, há frases no mesmo estilo e que
convém deixar ao cuidado do Conselheiro
Acácio que nelas se esmerou.
(Marcelino de Carvalho, Guia de Boas Maneiras)
Gabarito comentado
Tema central: O foco da questão é a caracterização do Conselheiro Acácio, personagem de O Primo Basílio, e sua importância como símbolo crítico-social dentro do Realismo literário.
Explicação didática: O Realismo, escola marcada pela crítica social e denúncia das hipocrisias da época, constrói personagens-tipo para representar comportamentos e valores sociais. Eça de Queirós buscou mostrar em Conselheiro Acácio o retrato do burocrata pedante, apegado a frases-feitas e formalismos, símbolo das mediocridades políticas do século XIX.
Justificativa da alternativa correta (C):
A alternativa C destaca que o Conselheiro Acácio é a representação da convencionalidade e das mediocridades dos políticos e burocratas do século XIX, denunciando a pompa vazia e a pseudo-intelectualidade. No texto-base, nota-se a crítica ao uso automático de clichês e frases feitas, exatamente o que caracteriza o Conselheiro: ele não elabora pensamento autêntico, apenas recorre a sentenças prontas, refletindo a hipocrisia social. Esse é um procedimento típico do Realismo, que visa expor e satirizar os vícios da sociedade.
Análise das alternativas incorretas:
A) Descreve o "herói sem caráter" (malandro, vaidoso, mentiroso), perfil que pertence mais à linhagem de personagens como João da Ega ou Macunaíma, não ao Conselheiro, cuja marca é o formalismo estéril, não a malandragem.
B) Apresenta o "herói quixotesco, idealista e patriota". Essa definição remete a personagens distintos como Policarpo Quaresma, não ao Conselheiro, que é essencialmente medíocre e convencional, não idealista.
D) Fala da "literatura conformista e alienada", desviando o foco do personagem enquanto tipo social. Conselheiro Acácio não personifica uma escola literária, mas um comportamento social.
E) Sugere o "anti-herói malandro do jeitinho brasileiro", figura bem diferente do Conselheiro Acácio, que é rígido, institucional e preza pelos protocolos—ao inverso do “marginal criativo”.
Estratégia de abordagem: Fique atento às palavras-chave no enunciado (ex: “frases feitas”, “convencionalidade”, “pseudo-intelectualidade”). Observe também associações indevidas nas alternativas (malandragem, idealismo excessivo), pois são armadilhas comuns em provas.
Conclusão: Saber reconhecer tipos sociais no Realismo é essencial para identificar críticas subentendidas e analisar personagem com precisão.
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