Para fazer uma leitura proficiente do
fragmento, é necessário que o leitor, entre
outros procedimentos, recupere as relações
sintático-semânticas ali estabelecidas.
Assim, os sujeitos dos quatro últimos
períodos do fragmento, considerando-se a
ordem de ocorrência, são:
O TRAPICHE
SOB A LUA, NUM VELHO TRAPICHE ABANDONADO, as crianças dormem.
Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche
as ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater mansamente. A água passava
por baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousam agora, iluminadas por uma réstia
amarela de lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros carregados, alguns eram enormes e
pintados de estranhas cores, para a aventura das travessias marítimas. Aqui vinham encher
os porões e atracavam nesta ponte de tábuas, hoje comidas. Antigamente diante do
trapiche se estendia o mistério do mar oceano, as noites diante dele eram de um verde
escuro, quase negras, daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite.
Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É que na sua frente se estende agora o
areal do cais do porto. Por baixo da ponte não há mais rumor de ondas. A areia invadiu
tudo, fez o mar recuar de muitos metros. Aos poucos, lentamente, a areia foi conquistando
a frente do trapiche. Não mais atracaram na sua ponte os veleiros que iam partir
carregados. Não mais trabalharam ali os negros musculosos que vieram da escravatura.
Não mais cantou na velha ponte uma canção um marinheiro nostálgico. A areia se estendeu
muito alva em frente ao trapiche. E nunca mais encheram de fardos, de sacos, de caixões,
o imenso casarão. Ficou abandonado em meio ao areal, mancha negra na brancura do cais.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 25
O TRAPICHE
SOB A LUA, NUM VELHO TRAPICHE ABANDONADO, as crianças dormem. Antigamente aqui era o mar. Nas grandes e negras pedras dos alicerces do trapiche as ondas ora se rebentavam fragorosas, ora vinham se bater mansamente. A água passava por baixo da ponte sob a qual muitas crianças repousam agora, iluminadas por uma réstia amarela de lua. Desta ponte saíram inúmeros veleiros carregados, alguns eram enormes e pintados de estranhas cores, para a aventura das travessias marítimas. Aqui vinham encher os porões e atracavam nesta ponte de tábuas, hoje comidas. Antigamente diante do trapiche se estendia o mistério do mar oceano, as noites diante dele eram de um verde escuro, quase negras, daquela cor misteriosa que é a cor do mar à noite. Hoje a noite é alva em frente ao trapiche. É que na sua frente se estende agora o areal do cais do porto. Por baixo da ponte não há mais rumor de ondas. A areia invadiu tudo, fez o mar recuar de muitos metros. Aos poucos, lentamente, a areia foi conquistando a frente do trapiche. Não mais atracaram na sua ponte os veleiros que iam partir carregados. Não mais trabalharam ali os negros musculosos que vieram da escravatura. Não mais cantou na velha ponte uma canção um marinheiro nostálgico. A areia se estendeu muito alva em frente ao trapiche. E nunca mais encheram de fardos, de sacos, de caixões, o imenso casarão. Ficou abandonado em meio ao areal, mancha negra na brancura do cais.
AMADO, Jorge. Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 25