Questão 34921eab-3b
Prova:UFPR 2016
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos

Em relação à organização do texto de Rafael Rodrigues Costa, considere as seguintes afirmativas:

1. O texto parte de uma tese que é endossada pelos entrevistados.
2. A opinião do autor prevalece na conclusão do texto.
3. O autor usa tanto discurso direto como indireto para relatar a opinião dos entrevistados.
4. O autor redimensiona a abordagem da questão expressa no título a partir da opinião dos entrevistados.

Assinale a alternativa correta.

Por que a cultura do sul ficou de fora do retrato do Brasil nas olimpíadas?
Depois de uma abertura que falou das etnias que formaram o povo brasileiro, a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, realizada neste domingo (21), teve mais cara de carnaval. A ideia da diretora criativa da festa, Rosa Magalhães, era mostrar “o sentimento de brasilidade”, conforme ela explicou ao jornal “O Globo” dias antes da cerimônia.
Carnavalesca da escola de samba carioca São Clemente, Rosa usou elementos alegóricos para mostrar a arte feita pelo povo do país – para ela, “marca da nossa identidade cultural”. Teve menção a choro, samba carioca, Carmem Miranda, mulheres rendeiras da Bahia, bonecos de cerâmica do pernambucano Vitalino, Heitor Villa-Lobos, carnaval.
Entre as ausências, as expressões culturais do Sul do Brasil – o que alimentou algum debate em redes sociais: se a ideia era representar o país todo, por que ficamos de fora?
Para a antropóloga Selma Baptista, professora-doutora aposentada da UFPR, a pergunta deveria ser outra: por que as expressões culturais do Sul participariam do recorte da carnavalesca carioca se elas não estão presentes nem em nossas próprias festas? “Essa questão da representação de identidades regionais se dá a partir da construção da identidade dentro de seus próprios redutos. Cabe perguntar até que ponto nossas representações da cultura popular têm expressividade entre nós mesmos para que alcancem uma representatividade nacional”, questiona.
Patrícia Martins, antropóloga e docente do Instituto Federal do Paraná (IFPR) em Paranaguá, lembra que o Sul tende inclusive a negar o tipo de “brasilidade” representada na cerimônia de encerramento, mais ligada à cultura indígena e afro-brasileira. “Aqui há uma autorrepresentação que passa por uma cultura europeia”, diz. Para ela, o recorte mostrado na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos tem ligações com uma identidade brasileira que vem sendo construída desde o Estado Novo (1937-1945), que incorporou o samba carioca. “Existe um patrimônio rico no Sul – há os batuques do Rio Grande do Sul, o fandango caiçara. Teria muita coisa a mostrar, mas nem nós sabemos que existe isso em nossa região”.
Na opinião de Tau Golin, jornalista, historiador e professor do curso de Pós-Graduação em História da Universidade de Passo Fundo (UPF), esse tipo de questionamento sobre representações regionais é uma “briga simbólica” já bem conhecida – principalmente dos gaúchos. “É uma briga de poder pela representatividade, por quem representa mais a nação”, diz. “Como é um país com regiões que se formaram antes da nação, as regionalidades querem estar presentes em tudo o que acontece no país. Se fosse insignificante, não brigariam. Mas, como é para se mostrar para o exterior, a briga é compreensível historicamente”. Para ele, o desejo do Sul de estar presente nesse tipo de representação, dada a relação difícil da região com a “brasilidade”, é um fator surpreendente. “É uma novidade, que merece estudos daqui para a frente”, diz. (Rafael Rodrigues Costa, Gazeta do Povo, Curitiba, 22/08/2016.) 

A
Somente a afirmativa 1 é verdadeira.
B
Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.
C
Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.
D
Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras.
E
As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

Gabarito comentado

L
Lucas OliveiraMonitor do Qconcursos

Tema central: Interpretação de texto, com foco em estratégias discursivas, identificação do tipo de discurso (direto e indireto) e análise estrutural de textos opinativos/informativos segundo a norma-padrão.

Análise das Afirmativas:

1. O texto parte de uma tese que é endossada pelos entrevistados.
Falsa. O texto jornalístico inicia com uma questão-problema sobre a ausência da cultura do Sul nas Olimpíadas e apresenta diferentes opiniões dos entrevistados, sem que haja, desde o início, uma tese “abraçada” e validada por todos.

2. A opinião do autor prevalece na conclusão do texto.
Falsa. Não há intervenção opinativa do autor, mas sim exposição das falas e visões dos entrevistados, mantendo o padrão de objetividade. Segundo a norma culta (vide Bechara e Cunha & Cintra), a opinião do autor é clara quando há marcas textuais como julgamento, adjetivação valorativa ou verbos opinativos, o que não ocorre aqui.

3. O autor usa tanto discurso direto como indireto para relatar a opinião dos entrevistados.
Verdadeira. É possível observar o uso de aspas para citações literais (discurso direto: “Existe um patrimônio rico no Sul...”, “Essa questão...”, etc.) e passagens em que as falas são parafraseadas pelo narrador (discurso indireto: “Para ela, o recorte mostrado...”, “Patrícia lembra que o Sul tende a negar...”). Celso Cunha destaca que essa alternância é típica de textos informativos bem construídos.

4. O autor redimensiona a abordagem da questão expressa no título a partir da opinião dos entrevistados.
Verdadeira. O debate evolui conforme os especialistas oferecem novos pontos de vista, indo além da simples denúncia inicial. Isso ilustra a função argumentativa do texto jornalístico informativo.

Alternativa correta: C) Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.

Pegadinhas e Estratégia:
Fique atento quando o enunciado pede análise de opinião do autor: em textos jornalísticos, com frequência não há opinião clara do redator, mas sim organização das opiniões alheias. Marque com atenção também quando há alternância entre discurso direto e indireto (verifique aspas e a presença de verbos como “afirma”, “comenta”, “relata”).

Fontes de apoio:
Conceitos presentes em Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Cunha & Cintra, e Moderna Gramática Portuguesa, de Bechara, corroboram as definições de discurso e estrutura textual aplicadas.

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