Apesar de ser autor de uma caudalosa obra poética,
Castro Alves (1847-1871) é sempre lembrado como o
poeta da abolição. Dentre os poemas que escreveu
contra a escravidão de africanos no Brasil, um deles -
Vozes D’África - é um dos mais conhecidos. Dentre os
excertos abaixo, qual foi extraído do seu poema Vozes
D’África?
Senhor Deus, dá que a boca da inocência
Possa ao menos sorrir,
Como a flor da granada abrindo as pétalas
Da alvorada ao surgir.
A Mãe do cativo! Que fias a noite
A rede que ataste nos galhos da selva!
Melhor tu farias se a pobre criança
Cavasse a cova por baixo da relva.
Escravo, dá-me a coroa de amaranto
Que mandou-me inda há pouco Afra impudente.
Orna-me a fronte... Enrola-me os cabelos,
Quero o mole perfume do Oriente.
Deus! O Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em que estrela tu te escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que, embalde, desde então, corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Gabarito comentado
Tema central da questão: Identificação de trecho de “Vozes d’África”, poema fundamental do Romantismo brasileiro, destacando o engajamento social de Castro Alves na luta abolicionista e na personificação da África clamando por justiça.
Contextualização didática: “Vozes d’África” está inserido na terceira geração romântica (Condoreirismo). Sua linguagem grandiosa, o uso de apóstrofes (invocações diretas a Deus), hipérboles e uma marcante denúncia social são seus traços mais evidentes. O poema inicia-se com o clamor: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?”, centralizando a súplica por liberdade.
Justificativa da alternativa correta:
Alternativa E apresenta exatamente o início de “Vozes d’África”:
Deus! O Deus! Onde estás que não respondes?
Em que mundo, em que estrela tu te escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que, embalde, desde então, corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Esse trecho mostra a aflição da África diante da ausência divina, típico do poema e da estética do autor.
Análise das alternativas incorretas:
A) Descreve um cavaleiro sombrio, mas não apresenta o clamor africano nem condena a escravidão.
B) Refere-se à inocência e esperança, temática desvinculada do foco social de “Vozes d’África”.
C) Toca no tema da escravidão, mas, como mostra o verso da mãe cativa, pertence ao poema “Mãe do Cativo”, não a “Vozes d’África”.
D) Retrata um escravo enfeitando outra pessoa, sem o tom de súplica e denúncia global que caracteriza “Vozes d’África”.
Estratégias de prova: Atenção à personificação da África, chamadas diretas (“Deus! ó Deus!”) e palavras que evocam o sofrimento coletivo.
Fuja de pegadinhas que trazem temas próximos (escravidão, infância, submissão) mas não reproduzem o estilo grandioso nem o apelo universal tipicamente presentes em “Vozes d’África”.
Bons manuais como Massaud Moisés (“A Literatura Brasileira através dos Textos”) e William Roberto Cereja detalham essa fase, orientando a identificação dos recursos estilísticos essenciais do poema.
Conclusão: A alternativa E é a correta por alinhar-se plenamente ao tema, estilo e estrutura de “Vozes d’África”.
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