Questão 2cd35901-a6
Prova:
Disciplina:
Assunto:
No texto, a utilização do ponto de vista de um alienígena é uma estratégia
com o propósito de
No texto, a utilização do ponto de vista de um alienígena é uma estratégia
com o propósito de
A questão refere-se ao texto a seguir.
Diário alienígena
Continuo sem entender muito bem. Hoje passou por mim um ser de
sexo indefinido, que me deixou ainda mais confuso. Seu aspecto era muito
estranho. Tinha um rosto delicado, um nariz pequeno, os lábios bem
delineados, mas não muito grossos, formando, no conjunto, o que aqui se
chama de mulher bonita. Os cabelos, muito escuros e lisos, eram também
femininos, compridos, bem tratados e lustrosos. Mas, assim que se fechava
em ponta a linha do queixo, dava-se a transformação: o pescoço, largo e
musculoso, era estriado de veias, parecendo inflado a ponto de rebentar.
O tronco, imenso e forte, abria-se para os lados em braços espetaculares,
rígidos, com gigantescos nós de músculos sobrepondo-se uns aos outros e
formando uma curva um pouco semelhante à que encontramos em certos
primatas. As pernas eram igualmente brutais, levemente arqueadas devido
ao volume dos músculos, dando ao andar uma cadência que em tudo se
parecia com o dos seres do outro sexo.
Já havia visto algumas criaturas um tanto indefinidas por aqui, mas esta
me pareceu um exemplo extremo. Não pude classificá-la. Aliás, tenho tido
grande dificuldade para fazer as classificações. Tudo me parece de difícil
compreensão. Esse pequeno território que nos serve de amostragem traz
incoerências que me deixam atônito. Para dizer a verdade, as contradições
são muitas, infinitas, não tendo havido ainda um registro lógico capaz de
explicar tantas coisas de que já lhe falei, como as discrepâncias na ocupação
do espaço, para dar apenas um exemplo.
Mas a verdade é que, de todos os absurdos a que tenho assistido nesse
primeiro contato, nenhum me deixou mais espantado do que o seguinte:
como civilização razoavelmente evoluída em termos tecnológicos, eles
parecem ter centrado boa parte de sua pesquisa científica na busca do
conforto. Inventaram pequenos aparelhos, bastante engenhosos, que lhes
facilitam a vida, tornando-os cada vez mais ociosos e aos quais dão nomes
variados, como automóveis, computadores, celulares, controle remoto
etc. Tudo parece ter sido inventado com um único objetivo: o de leválos
a fazer menos esforço físico. Pois muito bem: você acredita que, nas
chamadas horas de lazer, eles correm pelas ruas feito loucos, de um lado para o outro, suando em bicas, sem parecer querer chegar a lugar algum?
E mais: concentram-se também em locais que chamam de academias e lá
se dedicam, sozinhos ou em grupos, às tarefas mais extenuantes e inúteis,
muitas vezes atados a aparelhos de tortura, os quais parecem buscar por
livre vontade, e não forçados, como já vimos acontecer com outros povos
bárbaros. Chegam a caminhar sobre esteiras, sem sair do lugar! Não lhe
parece o maior dos absurdos?
Bem, continuarei observando e tentando entender. Espero estar de volta
em breve, na paz de nossa querida Andrômeda – e longe deste planeta
louco.
SEIXAS, H. In: Novos contos mínimos. Disponível em: <http://heloisaseixas.com.br/diario-deum-marciano>. Acesso em: 02 out. 2016.
A questão refere-se ao texto a seguir.
Diário alienígena
Continuo sem entender muito bem. Hoje passou por mim um ser de
sexo indefinido, que me deixou ainda mais confuso. Seu aspecto era muito
estranho. Tinha um rosto delicado, um nariz pequeno, os lábios bem
delineados, mas não muito grossos, formando, no conjunto, o que aqui se
chama de mulher bonita. Os cabelos, muito escuros e lisos, eram também
femininos, compridos, bem tratados e lustrosos. Mas, assim que se fechava
em ponta a linha do queixo, dava-se a transformação: o pescoço, largo e
musculoso, era estriado de veias, parecendo inflado a ponto de rebentar.
O tronco, imenso e forte, abria-se para os lados em braços espetaculares,
rígidos, com gigantescos nós de músculos sobrepondo-se uns aos outros e
formando uma curva um pouco semelhante à que encontramos em certos
primatas. As pernas eram igualmente brutais, levemente arqueadas devido
ao volume dos músculos, dando ao andar uma cadência que em tudo se
parecia com o dos seres do outro sexo.
Já havia visto algumas criaturas um tanto indefinidas por aqui, mas esta
me pareceu um exemplo extremo. Não pude classificá-la. Aliás, tenho tido
grande dificuldade para fazer as classificações. Tudo me parece de difícil
compreensão. Esse pequeno território que nos serve de amostragem traz
incoerências que me deixam atônito. Para dizer a verdade, as contradições
são muitas, infinitas, não tendo havido ainda um registro lógico capaz de
explicar tantas coisas de que já lhe falei, como as discrepâncias na ocupação
do espaço, para dar apenas um exemplo.
Mas a verdade é que, de todos os absurdos a que tenho assistido nesse
primeiro contato, nenhum me deixou mais espantado do que o seguinte:
como civilização razoavelmente evoluída em termos tecnológicos, eles
parecem ter centrado boa parte de sua pesquisa científica na busca do
conforto. Inventaram pequenos aparelhos, bastante engenhosos, que lhes
facilitam a vida, tornando-os cada vez mais ociosos e aos quais dão nomes
variados, como automóveis, computadores, celulares, controle remoto
etc. Tudo parece ter sido inventado com um único objetivo: o de leválos
a fazer menos esforço físico. Pois muito bem: você acredita que, nas
chamadas horas de lazer, eles correm pelas ruas feito loucos, de um lado para o outro, suando em bicas, sem parecer querer chegar a lugar algum?
E mais: concentram-se também em locais que chamam de academias e lá
se dedicam, sozinhos ou em grupos, às tarefas mais extenuantes e inúteis,
muitas vezes atados a aparelhos de tortura, os quais parecem buscar por
livre vontade, e não forçados, como já vimos acontecer com outros povos
bárbaros. Chegam a caminhar sobre esteiras, sem sair do lugar! Não lhe
parece o maior dos absurdos?
Bem, continuarei observando e tentando entender. Espero estar de volta
em breve, na paz de nossa querida Andrômeda – e longe deste planeta
louco.
SEIXAS, H. In: Novos contos mínimos. Disponível em: <http://heloisaseixas.com.br/diario-deum-marciano>. Acesso em: 02 out. 2016.
A
ironizar a percepção de contradições sociais.
B
criticar a busca por conforto no mundo contemporâneo.
C
expressar estranhamento em relação a hábitos humanos.
D
relacionar as novas tecnologias à diminuição do esforço físico.