Leia os fragmentos textuais a seguir, para resolução da questão
[...] Ergui a gola do sobretudo, desci a aba do chapéu até perto dos olhos e troquei as dependências do hotel pelas
da cerração. Satolep estava apropriadamente decorada para minha festa solitária. As coisas geometrizadas pelo frio
mostravam-se voláteis. Linhas rigorosas à luz do dia eram agora ausência de contornos. Fazer trinta anos era perder-me no
nevoeiro tendo em vista a concretude da cidade ou o contrário? Um cão flutuava atrás de uma charrete que passava. O
granito do meio-fio corria a meu lado, às vezes reluzente em sua umidade, às vezes dissipado em vapor luminoso; um outro
cão, de pedra e de nuvem, cão de alguma mitologia, condenado a nascer e morrer indefinidamente. Nascer pedra e morrer
nuvem? Nascer nuvem e morrer pedra? Trinta anos. Soprei velinhas imaginárias, e minha alma revoluteou diante de mim.
(RAMIL, 2008, p.08)
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém, se acaba o Sol, porque nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se crê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
(Gregório de Matos 1636 – 1695)
Os excerto lidos anteriormente pertencem a diferentes épocas e gêneros literários, entretanto apresentam
algumas proximidades temáticas. Considerando os excertos e suas respectivas significações literárias, é correto
afirmar que os textos
Gabarito comentado
Gabarito: C
Tema central da questão:
A questão explora a fugacidade da vida, uma temática essencial tanto na tradição barroca quanto em reflexões contemporâneas, enfatizando a inconstância e transitoriedade da existência humana.
Explicação didática:
No poema barroco de Gregório de Matos, a alternância entre luz e escuridão, alegria e tristeza, vida e morte destaca o princípio da efemeridade, ilustrado estruturalmente pela antítese (“Sol/Luz” x “noite/Trevas”; “alegria” x “tristeza”), um recurso caro ao Barroco para expressar oposições e instabilidade das coisas do mundo.
No texto de Vitor Ramil, imagens como nevoeiro, cão de pedra e nuvem, e a própria dúvida “Nascer pedra e morrer nuvem? Nascer nuvem e morrer pedra?” simbolizam a impermanência – nada é sólido ou perene, tudo se transforma ou evapora. A narração em primeira pessoa faz da percepção subjetiva um espelho da dúvida existencial, mantendo o foco na inconsistência das formas e dos sentimentos.
Justificativa da alternativa correta (C):
Ambos os textos reiteram a fugacidade da vida. O soneto barroco enfatiza a transitoriedade por meio de pares opostos, enquanto o fragmento contemporâneo recorre a imagens que evocam incerteza e dissolução dos limites.
Análise das alternativas incorretas:
A) Errada: Nenhum texto nega a valorização do sofrimento; pelo contrário, ambos tratam do sofrimento como parte indissociável da existência.
B) Errada: Não se focaliza o estresse das grandes cidades, mas a reflexão sobre a existência.
D) Errada: Não há personagem explicitamente perturbado psicologicamente; predomina a reflexão filosófica/metafísica.
E) Errada: A inconstância não é atribuída à natureza de modo autônomo, e sim utilizada como metáfora da vida humana.
Estratégia de prova: Atenção às imagens simbólicas e às figuras de linguagem (antítese, metáfora) para captar o tema central.
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