Excerto 1

“Estes Índios são de cor baça, e cabelo corredio; tem o rosto amassado, e algumas feições dele à maneira de Chins. Pela maior parte são bem dispostos, rijos e de boa estatura; gente mui esforçada, e que estima pouco morrer, temerária na guerra, e de muito pouco consideração: são desagradecidos em Grã maneira, e mui desumanos e cruéis, inclinados a pelejar, e vingativos por extremo. Vivem todos mui descansados sem terem outros pensamentos senão de comer, beber, e matar gente, e por isso engordam muito, mas com qualquer desgosto pelo conseguinte tornam a emagrecer, e muitas vezes pode deles tanto a imaginação que se algum deseja a morte, ou alguém lhe mete em cabeça que há de morrer tal dia ou tal noite não passa daquele termo que não morra.”

Fonte: GÂNDAVO, p. 26. Disponível em: <www.nead.unama.br.>. Acesso em: 11 nov. 2019

Excerto 2

“Ubirajara, senhor da lança, é tempo de empunhares o grande arco da nação araguaia, que deve estar na mão do mais possante. Camacã o conquistou no dia em que escolheu por esposa Jaçanã, a virgem dos olhos de fogo, em cujo seio te gerou seu primeiro sangue. Ainda hoje, apesar da velhice que lhe mirrou o corpo, nenhum guerreiro ousaria disputar o grande arco ao velho chefe, que não sofresse logo o castigo de sua audácia. Mas Tupã ordena que o ancião se curve para a terra, até desabar como o tronco carcomido; e que o mancebo se eleve para o céu como a árvore altaneira. Camacã revive em ti; a glória de ser o maior guerreiro cresce com a glória de ter gerado um guerreiro ainda maior do que ele.”

Fonte: ALENCAR, José de. Ubirajara. Rio de Janeiro: B. L. Garnier, 1874. p. 11.

Analisando os excertos, é INCORRETO afirmar:

Tema central da questão: Análise comparativa das visões do indígena brasileiro apresentadas pelo olhar do colonizador (crônica histórica) e pelo Romantismo Indianista, com foco em José de Alencar.

Fundamentos teóricos:

- O indianismo romântico (século XIX) buscava enaltecer o indígena como herói nacional, símbolo de valores como coragem, bravura e honra, contribuindo para criar uma identidade cultural própria para o Brasil.

- As visões dos colonizadores, representadas por cronistas como Pero de Magalhães Gândavo, retratavam os indígenas de modo depreciativo, destacando características negativas, justificando a dominação e a “missão civilizatória”.

Comentário da alternativa correta (C):

A alternativa C está INCORRETA porque José de Alencar não cria em “Ubirajara” um romance apenas folclórico ou despretensioso. Há um claro projeto de reconstrução simbólica do índio: ele busca valorizar o indígena e romper com a visão pejorativa dos colonizadores. Alencar insere o índio como protagonista nobre, orientando-se por valores universais, buscando fundar uma identidade nacional – elemento fundamentado pela crítica e por manuais consagrados (Hernani Donato, Alfredo Bosi).

Análise das alternativas incorretas:

A) Correta. Alencar busca ideais nobres ao retratar o índio, o oposto do que se vê em Gândavo, que adota uma perspectiva depreciativa e preconceituosa.

B) Correta. O projeto indianista almejava a independência cultural brasileira, valorizando símbolos próprios como o indígena.

D) Correta. O trecho apresenta o ponto de vista colonial de Gândavo, importante para compreender os preconceitos e imagens distorcidas perpetuadas à época.

Estratégias para questões desse tipo:

- Identifique perspectiva histórica (quem escreve, quando, com qual finalidade).
- Cuidado com pegadinhas de termos como “despretensioso” (pois o romance indianista é propositalmente engajado).
- Repare se há generalizações ou omissões que neguem o contexto teórico da escola literária.

Resumo final: A alternativa C é incorreta pois distorce o objetivo de José de Alencar. Os demais itens alinham-se corretamente ao contexto histórico e literário. Na prova, sempre confronte o texto com o projeto das escolas literárias.

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