Leia o fragmento a seguir da obra O filho eterno, de Cristovão Tezza.
A manhã mais brutal da vida dele começou com o sono que se interrompe — chegavam os parentes. Ele
está feliz, é visível, uma alegria meio dopada pela madrugada insone, mais as doses de uísque, a
intensidade do acontecimento, a sucessão de pequenas estranhezas naquele espaço oficial que não é o seu,
mais uma vez ele não está em casa, e há agora um alheamento em tudo, como se fosse ele mesmo, e não a
mulher, que tivesse o filho de suas entranhas — a sensação boa, mas irremediável ao mesmo tempo, vai se
transformando numa aflição invisível que parece respirar com ele. Talvez ele, como algumas mulheres no
choque do parto, não queira o filho que tem, mas a ideia é apenas uma sombra. Afinal, ele é só um homem
desempregado e agora tem um filho. Ponto final.
TEZZA, Cristovão. O filho eterno. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 06.
Assinale a opção CORRETA, em relação a esse texto.
Leia o fragmento a seguir da obra O filho eterno, de Cristovão Tezza.
A manhã mais brutal da vida dele começou com o sono que se interrompe — chegavam os parentes. Ele está feliz, é visível, uma alegria meio dopada pela madrugada insone, mais as doses de uísque, a intensidade do acontecimento, a sucessão de pequenas estranhezas naquele espaço oficial que não é o seu, mais uma vez ele não está em casa, e há agora um alheamento em tudo, como se fosse ele mesmo, e não a mulher, que tivesse o filho de suas entranhas — a sensação boa, mas irremediável ao mesmo tempo, vai se transformando numa aflição invisível que parece respirar com ele. Talvez ele, como algumas mulheres no choque do parto, não queira o filho que tem, mas a ideia é apenas uma sombra. Afinal, ele é só um homem desempregado e agora tem um filho. Ponto final.
TEZZA, Cristovão. O filho eterno. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 06.
Assinale a opção CORRETA, em relação a esse texto.
Gabarito comentado
Gabarito: Alternativa A
Tema central: O exercício aborda o gênero autobiográfico contemporâneo, especialmente a inovação narrativa apresentada em O Filho Eterno, de Cristovão Tezza.
Entendendo o conceito: Tradicionalmente, autobiografia envolve o relato em primeira pessoa, priorizando a memória e a subjetividade direta do autor. Tezza, contudo, utiliza a terceira pessoa para narrar experiências reais, criando um distanciamento propositivo em relação aos acontecimentos. Isso amplia a reflexão sobre a própria trajetória, renovando o papel da memória e enriquecendo o gênero autobiográfico – conforme defendido por estudiosos como Philippe Lejeune.
Justificativa da alternativa correta (A):
A alternativa A está correta ao afirmar que Tezza traz novas possibilidades ao gênero autobiográfico. O romance é autoficcional e inova ao adotar o distanciamento da terceira pessoa, permitindo ao autor revisar, julgar e reinterpretar suas memórias. Esse procedimento destaca a memória como construção, e não apenas registro, enriquecendo a análise literária sobre experiências pessoais.
Análise das demais alternativas:
B) Incorreta. O texto não relata a história do pai ou do irmão de Tezza, mas sim sua relação com o filho.
C) Incorreta. Embora o livro trate do processo de aceitação, não há "confissão" no sentido estrito, pois não é uma narração direta em primeira pessoa.
D) Incorreta. O objetivo principal da obra não é discutir os vários níveis de trissomia, mas sim refletir sobre a experiência particular de paternidade.
E) Incorreta. O romance evidencia o tempo como elemento fundamental para a aceitação, não o contrário.
Estratégias para provas: Atenção à forma da narrativa (primeira ou terceira pessoa?) e ao foco temático do romance. Evite generalizações (“sempre”, “nunca”) e analise o papel do tempo, da memória e das transformações subjetivas nas obras contemporâneas.
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