Declaração de amor
Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela
não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente
trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter
sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os
que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de
sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um
verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem
escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de
superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado.
Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de
manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo
pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas
minhas mãos. [...]
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 100.
Em: “[...] ousam transformá-la numa linguagem de sentimento
e de alerteza [...]”, o vocábulo “la” exerce idêntica função
sintática que o termo destacado em:
Declaração de amor
Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. [...]
LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999. p. 100.
Em: “[...] ousam transformá-la numa linguagem de sentimento
e de alerteza [...]”, o vocábulo “la” exerce idêntica função
sintática que o termo destacado em: