A fala de Eduardo a respeito de ser pobre em O demônio familiar levanta a questão da representação dos pobres
em textos literários. Assinale a alternativa que contém a correta correlação entre a obra referida e a temática da
pobreza.
Leia o texto extraído do segundo ato de O demônio familiar e responda à questão
EDUARDO (Rindo-se) -– Eis um corretor de casamentos, que seria um achado precioso para certos indivíduos do meu conhecimento! Vou tratar de vender-te a algum deles para que possas aproveitar teu gênio
industrioso.
PEDRO -– Oh! Não! Pedro quer servir a meu senhor! Vosmecê perdoa; foi para ver senhor rico!
EDUARDO -– E o que lucras tu com isto?! Sou tão pobre que te falte com aquilo de que precisas? Não te
trato mais como um amigo do que como um escravo?
PEDRO — Oh! Trata muito bem, mas Pedro queria que o senhor tivesse muito dinheiro e comprasse carro
bem bonito para...
EDUARDO -– Para... Dize!
PEDRO -– Para Pedro ser cocheiro de senhor!
EDUARDO -– Então a razão única de tudo isto é o desejo que tens de ser cocheiro?
PEDRO — Sim, senhor!
EDUARDO — (Rindo-se) -– Muito bem! Assim, pouco te importava que eu ficasse mal com a pessoa que
estimava; que me casasse com uma velha ridícula, que vivesse maçado e aborrecido, contanto que governasses dois cavalos em um carro! Tens razão!... E eu ainda devo dar-me por muito feliz, que fosse esse motivo
frívolo, mas inocente, que te obrigasse a trair a minha confiança. (Eduardo sai.)
ALENCAR, José de. O demônio familiar. 4. ed. São Paulo: Martin Claret, 2013. p. 54-55.
Gabarito comentado
Tema central da questão: A representação da pobreza na Literatura, especialmente a partir das falas do personagem Eduardo em O demônio familiar de José de Alencar, e a associação desse tema à abordagem em outras obras literárias.
Justificativa da alternativa correta – Letra C:
A alternativa C destaca Amor de Perdição (Camilo Castelo Branco), sugerindo que nessa obra “os pobres se organizam para trair os mais ricos e tirá-los do poder”. Esse enunciado, contudo, contém um erro de correlação, pois não é esse o foco central de Amor de Perdição: o romance explora o amor proibido e o poder das estruturas sociais, mas não apresenta uma mobilização dos pobres nesse sentido revolucionário. Logo, a alternativa está em desacordo com a temática real da obra.
Análise crítica das alternativas incorretas:
A) Poemas escolhidos, de Gregório de Matos: embora aborde desigualdade social e critique elites, o poeta não destaca que os pobres são excluídos de negócios escusos, nem foca em possíveis relações pouco nobres desses com os ricos. Erro de interpretação da crítica social barroca.
B) Alguma poesia, de Drummond: Drummond é reconhecido justamente por sua sensibilidade aos excluídos. A alternativa deprecia sua crítica social ao afirmar que exclui os pobres do foco, indo contra o que está presente na obra.
D) Clara dos Anjos, de Lima Barreto: Clara enfrenta racismo e preconceito social, porém a narrativa não transfere militância coletiva aos pobres, mas expõe sua marginalização estrutural, especialmente feminina e negra.
E) Quarenta dias, de Maria Valéria Rezende: A protagonista, Alice, é tocada exatamente pelo contato com a realidade dos marginalizados, afastando-se do conforto e se envolvendo com a problemática social, oposto ao afirmado.
Estratégia para esse perfil de questão: Atenção às respostas que exageram generalizações, distorcem o perfil dos personagens ou atribuem às obras posições políticas não defendidas — são “pegadinhas” comuns em provas!
Resumo: A alternativa C, apesar de conter um equívoco, ainda é a que mais se aproxima do tipo de análise social presente em obras realistas ou naturalistas — fique atento à interpretação fina dos temas das obras e ao que, de fato, é retratado em seu conteúdo.
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