Leia o texto abaixo, retirado do artigo “Teatro-fórum: propósitos e procedimentos” de Cilene Nascimento Canda:

“O Teatro-fórum é considerado por Boal como um ensaio para a vida, por meio do qual o ‘espect-ator’ experimenta as possibilidades de atuação, de reivindicação da resolução de opressões vividas ou testemunhadas no contexto social. Em cena, o sujeito é portador da voz, do ato cênico e visa colocar em prática as ideias e as sugestões de ações para a superação do problema de opressão, para que possa ensaiar possibilidades de atuação no contexto social.”

FONTE: http://www.revistas.udesc.br/index.php/urdimento/article/view/3227/2349> acesso em 30/09/2017

Trata da atmosfera de desolação, solidão e incomunicabilidade do homem moderno por meio de alguns traços estilísticos e temas que divergem radicalmente da dramaturgia tradicional realista. Não é, portanto, um movimento teatral organizado, tampouco de um gênero, mas uma classificação que visa colocar em destaque uma das tendências teatrais mais importantes da segunda metade do século XX.

Surge com o trabalho prático e teórico de Bertolt Brecht. Trata-se do resgate de um termo antigo para conceituar uma nova linguagem cênica. Essa é substancialmente organizada a partir de textos que abordam os conflitos sociais sob uma leitura marxista, encenados pelo método do Distanciamento (uma série de instrumentais diretamente ligados à técnica narrativa do espetáculo, onde os mais significativos são: a comunicação direta entre ator e público, a música como comentário da ação, a ruptura de tempo-espaço entre as cenas, a exposição do urdimento, das coxias e do aparato cenotécnico, o posicionamento do ator como um crítico das ações da personagem que interpreta, e como um agente da história).

Em um processo de oficina ou de laboratório de um grupo de teatro, os participantes (atores e/ou não-atores) compartilham histórias de vida que serão discutidas, avaliadas e selecionadas para a montagem. Esta técnica consiste em apresentar um problema social em cena, um anti-modelo (ou seja, um modelo de vida não desejado, que não deve ser visto como modelo), no qual o oprimido é impedido de realizar um desejo, fruto da necessidade clara de cunho pessoal ou social.

Baseia-se em certas técnicas – como a amplificação da atuação com uso de máscaras, bonecos e adereços gigantes e grande participação da música – que trabalham para atrair a atenção dos espectadores em espaços abertos (mais “dispersivos” e menos favoráveis à manutenção da concentração do que os espaços teatrais tradicionais). Realizado por atores profissionais ou amadores, com cenas simples que buscam expor a luta de classes e conscientizar a população da necessidade de mudança.

Gabarito comentado

Rodrigo GarciaMonitor do Qconcursos

Tema central: O tema central da questão é o Teatro-Fórum, uma das técnicas do Teatro do Oprimido criada por Augusto Boal. O foco recai na participação ativa do público (“espect-ator”) na cena para experimentar soluções para problemas de opressão vividos ou observados no cotidiano.

Comentário didático: O Teatro-Fórum propõe uma ruptura com o teatro tradicional. Em vez de o público apenas assistir, ele é convidado a intervir, “entrar” na cena e “ensaiar” possibilidades de mudança. Assim, o teatro torna-se um lugar de aprendizado sobre cidadania, empoderamento e transformação social, conforme destaca Boal. O objetivo é que experiências simuladas em cena inspirem ações no mundo real.

Por que a alternativa C é correta?

A alternativa C descreve corretamente o processo: oficinas onde atores ou não-atores compartilham histórias de vida, selecionam um caso de opressão social, dramatizam-no como “anti-modelo” e buscam, coletivamente, alternativas para superá-lo. O público pode propor e experimentar mudanças na cena. Esses são elementos essenciais do Teatro-Fórum. A ideia do “ensaio para a vida” está presente, alinhando-se totalmente ao texto de referência e à teoria de Boal (cf. Augusto Boal, Teatro do Oprimido).

Análise das alternativas incorretas:

A: Apresenta características do Teatro do Absurdo (tema da incomunicabilidade, cenário desolador), sem relação com o Teatro-Fórum, que foca na ação coletiva.

B: Refere-se claramente ao Teatro Épico de Brecht, centrando-se em distanciamento, crítica social via encenação, exposição dos bastidores. Apesar de abordar a crítica social, não há envolvimento direto do público na cena como “espect-ator”.

D: Descreve teatro popular, com máscaras e manifestações em espaços abertos, visando conscientização política. Não se relaciona diretamente ao Teatro-Fórum, pois o público ainda é passivo e não há interação para solucionar opressões em cena.

Estratégia para provas: Fique atento à identificação de termos como “participação do espectador”, “ensaio de soluções” e “problema de opressão” — são marcas do Teatro-Fórum. Desconfie de alternativas que citem apenas crítica social sem participação ativa do público.

Conclusão: O domínio do vocabulário técnico e a análise cuidadosa do enunciado levam à escolha correta. Pratique reconhecer essas distinções em diferentes questões para aumentar sua segurança.

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