Questão 1d77ce7d-4c
Prova:ENEM 2011
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos

Ele se aproximou e com a voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe:

— E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?

— Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa, antes que ele mudasse de ideia.

— E se me permite, qual é mesmo a sua graça?

— Macabea.

— Maca — o quê?

— Bea, foi ela obrigada a completar.

— Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.

— Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome que ninguém tem mas parece que deu certo — parou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor — pois como o senhor vê eu vinguei... pois é...

[...]

Numa das vezes em que se encontraram ela afinal perguntou-lhe o nome.

— Olímpico de Jesus Moreira Chaves — mentiu ele porque tinha como sobrenome apenas o de Jesus, sobrenome dos que não têm pai. [...]

— Eu não entendo o seu nome — disse ela. — Olímpico?

Macabea fingia enorme curiosidade escondendo dele que ela nunca entendia tudo muito bem e que isso era assim mesmo. Mas ele, galinho de briga que era, arrepiou-se todo com a pergunta tola e que ele não sabia responder. Disse aborrecido:

— Eu sei mas não quero dizer!

— Não faz mal, não faz mal, não faz mal... a gente não precisa entender o nome.

LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1978 (fragmento).


Na passagem transcrita, a caracterização das personagens e o diálogo que elas estabelecem revelam alguns aspectos centrais da obra, entre os quais se destaca a

A
ênfase metalinguística nas falas dos personagens, conscientes de sua limitação linguística e discursiva.
B
relação afetiva dos personagens, por meio da qual tentam superar as dificuldades de comunicação.
C
expressividade poética dos personagens, que procuram compreender a origem de seus nomes.
D
privação da palavra, que denota um dos fatores da exclusão social vivida pelos personagens.
E
consciência dos personagens de que o fingimento é uma estratégia argumentativa de persuasão.

Gabarito comentado

Ana MachadoMestranda em Letras e Ciências Humanas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Especialista em Literatura Brasileira pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Formada em Letras - Português/Literaturas pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Professora de Língua Portuguesa, Redação e Literaturas.
Vídeo produzido em parceria com o Qconcursos.

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