Questão 1cf50555-e0
Prova:FAG 2015
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia

Em “... um sorriso agridoce, grisalho de nostalgia.”, o termo destacado significa

Texto 1


A CHAVE
Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo


    Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou.
    O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.
    Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de confiança.
    Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase. Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que uma porta. Abre um novo tempo.
    O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.
    [...]
    Você tem certeza de que a outra pessoa ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais estarão sozinhos.
    Se as chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.
    [...]
    A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito.
    Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.
    Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo”. E, assim como a outra, dispensa “eu também”. Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca, oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.
Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html

A
saudade.
B
indiferença.
C
indecisão.
D
morbidez.
E
languidez.

Gabarito comentado

E
Erico Barros Monitor do Qconcursos

Assunto central da questão: Semântica – compreende a interpretação do significado de palavras, sinônimos e sentidos contextuais. É essencial em provas de Vestibular entender nuances de sentido, principalmente em palavras de carga emotiva, como “nostalgia”.

Análise do enunciado: O termo “nostalgia” aparece para qualificar um “sorriso agridoce, grisalho de nostalgia”. No contexto, a personagem encontra uma chave esquecida e, ao tocá-la, rememora situações passadas. O sorriso é “agridoce” justamente porque mistura sentimento bom do passado à tristeza de sua perda, típico da definição de “nostalgia”.

Justificativa da alternativa correta:

Pela norma-padrão e segundo gramáticos como Bechara e Cunha & Cintra, “nostalgia” representa “sente falta, saudade de algo ou alguém passado”. Esse sentimento é um misto de tristeza e desejo pelo que se foi. “Saudade” é, no português, o sinônimo mais próximo. Assim, a alternativa A está correta no sentido semântico e pela adequação ao contexto do texto.

Análise das alternativas incorretas:

  • B) Indiferença: Indiferença é ausência de emoção, o oposto do forte sentimento descrito pelo termo “nostalgia”.
  • C) Indecisão: É hesitar, não se relaciona a recordar ou sentir falta.
  • D) Morbidez: Refere-se a algo doentio, mórbido, sem relação com recordação ou saudade.
  • E) Languidez: Significa fraqueza, abatimento, traço físico ou emocional sem vínculo direto com o sentido de saudade do passado.

Dica para provas: Em questões que pedem o significado de uma palavra pelo contexto, leia todo o enunciado e observe os termos que a cercam (“agridoce”, “grisalho”, “memória”). Use sinônimos comuns e testados pela experiência de gramáticos (como se faria consultando Bechara ou Cunha & Cintra). Fique atento a pegadinhas: palavras próximas nem sempre são sinônimos – busque a emoção contextual!

Resumo final:
Alternativa correta: A) saudade. “Nostalgia” indica saudade, sentimento de falta por algo vivido.
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