“As histórias que ouvimos referem-se, do início ao fim,
a velhos lugares, inseparáveis dos eventos neles ocorridos. A
casa, o bairro, algumas ruas, em geral o trajeto para a escola
e o centro da cidade são descritos de um modo dispersivo nas
lembranças várias, mas com alguns focos: o Viaduto do Chá,
a Catedral, a rua Direita, o Museu do Ipiranga (...), a Avenida
Paulista... Esses lugares são descritos sob vários pontos de
vista”.
“Em cada bairro se fazia um campeonato, juntavam dez ou
vinte clubes... A gente dizia: Em que parque vamos jogar?
Não tinham estádio, era campo livre, ninguém pagava para
ver (...) Quando foi morrendo o jogo da várzea e o futebol de
bairro, começou a se concentrar o público nos estádios”.
(BOSI, Eclea. Memória e sociedade: lembranças de velho. São Paulo:
Companhia das Letras, 1995, p. 447 e 449)
O fragmento textual de Eclea Bosi integra um
importante estudo sobre a velhice, baseando-se em
depoimento de idosos acerca de suas trajetórias de vida e das
transformações que eles viram ocorrer em São Paulo, cidade
onde moravam.
Baseando-se no fragmento textual acima e nos seus
conhecimentos sobre a temática, é INCORRETO afirmar que
os testemunhos dos idosos:
Gabarito comentado
Alternativa correta: B
Tema central: memória, lugares e transformações urbanas — a questão testa a leitura de depoimentos orais como fonte para a história e a geografia da cidade. É preciso distinguir o que os relatos afirmam (mudanças locais, sentidos afetivos) do que extrapolam (processos globais não mencionados).
Resumo teórico (curto): A memória coletiva conecta pessoas a lugares (Halbwachs), criando mapas afetivos (Tuan). Testemunhos orais ajudam a reconstituir a produção do espaço urbano (Lefebvre) e as práticas sociais (jogo na várzea vs estádio). Referências úteis: Bosi, E. (1995); Halbwachs, M. (1992); Lefebvre, H. (1991); Tuan, Y.-F. (1977).
Por que B é a resposta certa (incorreta segundo o enunciado): A alternativa B afirma que os relatos “celebram a emergência dos novos artefatos urbanos advindos com a globalização, tornando os antigos espaços de sociabilidade… objetos do passado”. Isso não condiz com os depoimentos: os idosos narram transformações locais (concentração do público nos estádios, perda da várzea) e fazem um inventário afetivo — mas não celebram a globalização nem apresentam os antigos espaços apenas como obsoletos. A opção exagera e atribui ao testemunho uma defesa da lógica globalizante que não aparece no fragmento (erros de escala explicativa e valorativa).
Análise das demais alternativas:
A — Correta: destaca a importância da memória dos mais velhos para reconstituir história e geografia local (corresponde à função dos depoimentos; compatível com Bosi).
C — Correta: os relatos mostram como o espaço urbano é produzido — arquitetura, praças, estádios e lugares de sociabilidade moldam práticas e circulação (Lefebvre).
D — Correta: os testemunhos desenham um mapa afetivo, mencionando marcos (Viaduto do Chá, Catedral) que organizam lembranças e trajetórias (Tuan/Halbwachs).
E — Correta: os depoimentos narram mudança na fisionomia urbana e nas formas de brincar/jogar (várzea → estádios), mostrando alterações nas práticas sociais e ícones de modernidade.
Estrategia de prova: procure palavras absolutas/valorativas ("celebram", "globalização"), cheque se o trecho fornece evidência para elas; prefira leituras que fiquem no nível do que foi narrado (local, afetivo, prático) antes de aceitar explicações macro (globalização).
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