Questão 11b5b03d-fd
Prova:UNICENTRO 2017
Disciplina:Português
Assunto:Termos essenciais da oração: Sujeito e Predicado, Sintaxe

Assinale a única alternativa em que o sujeito é inexistente.

O animal satisfeito dorme,
Mário Sérgio Cortella

O sempre surpreendente Guimarães Rosa dizia: “o animal satisfeito dorme”. Por trás dessa aparente obviedade está um dos mais fundos alertas contra o risco de cairmos na monotonia existencial, na redundância afetiva e na indigência intelectual. O que o escritor tão bem percebeu é que a condição humana perde substância e energia vital toda vez que se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas já estão, rendendo-se à sedução do repouso e imobilizando-se na acomodação.
A advertência é preciosa: não esquecer que a satisfação conclui, encerra, termina; a satisfação não deixa margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, para o desdobramento. A satisfação acalma, limita, amortece. Por isso, quando alguém diz “fiquei muito satisfeito com você” ou “estou muito satisfeita com teu trabalho”, é assustador. O que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a ideia de que desse jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz: “teu trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou música etc.) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas.
Um bom filme não é exatamente aquele que, quando termina, ficamos insatisfeitos, parados, olhando, quietos, para a tela, enquanto passam os letreiros, desejando que não cesse? Um bom livro não é aquele que, quando encerramos a leitura, o deixamos um pouco apoiado no colo, absortos e distantes, pensando que não poderia terminar? Uma boa festa, um bom jogo, um bom passeio, uma boa cerimônia não é aquela que queremos que se prolongue?
Com a vida de cada um e de cada uma também tem de ser assim; afinal de contas, não nascemos prontos e acabados. Ainda bem, pois estar satisfeito consigo mesmo é considerar-se terminado e constrangido ao possível da condição do momento. 
Quando crianças (só as crianças?), muitas vezes, diante da tensão provocada por algum desafio que exigia esforço (estudar, treinar, EMAGRECER etc.) ficávamos preocupados e irritados, sonhando e pensando: por que a gente já não nasce pronto, sabendo todas as coisas? Bela e ingênua perspectiva. É fundamental não nascermos sabendo e nem prontos; o ser que nasce sabendo não terá novidades, só reiterações. Somos seres de insatisfação e precisamos ter nisso alguma dose de ambição; todavia, ambição é diferente de ganância, dado que o ambicioso quer mais e melhor, enquanto que o ganancioso quer só para si próprio.
Nascer sabendo é uma limitação porque obriga a apenas repetir e, nunca, a criar, inovar, refazer, modificar. Quanto mais se nasce pronto, mais refém do que já se sabe e, portanto, do passado; aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar.
Diante dessa realidade, é absurdo acreditar na ideia de que uma pessoa, quanto mais vive, mais velha fica; para que alguém quanto mais vivesse mais velho ficasse, teria de ter nascido pronto e ir se gastando… 
Isso não ocorre com gente, e sim com fogão, sapato, geladeira. Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo. Eu, no ano que estamos, sou a minha mais nova edição (revista e, às vezes, um pouco ampliada); o mais velho de mim (se é o tempo a medida) está no meu passado e não no presente. 
Demora um pouco para entender tudo isso; aliás, como falou o mesmo Guimarães, “não convém fazer escândalo de começo; só aos poucos é que o escuro é claro”… 

Excerto do livro “Não nascemos prontos! – provocações filosóficas”. De Mário Sérgio Cortella.
Disponível em:<http://www.contioutra.com/o-animal-satisfeito-dorme-texto-de-mario-sergio-cortella/> 

A
Roubaram todas as coisas daquele pobre rapaz.
B
“Do riso fez-se o pranto”, escreveu o poeta.
C
Dolores e Nélson casaram-se durante o verão.
D
Fiz tudo que me foi pedido.
E
Havia muitas pessoas em Barcelona durante a festa.

Gabarito comentado

I
Igor Valente Monitor do Qconcursos

Tema central: Sujeito inexistente (oração sem sujeito) — um conceito da sintaxe em que o verbo é impessoal e não admite sujeito, como esclarecem as gramáticas de Bechara e Cunha & Cintra.

O sujeito inexistente acontece em frases com verbos impessoais, os quais só aparecem na 3ª pessoa do singular e não fazem referência a nenhum sujeito. Os mais relevantes são:

  • Verbo haver, com sentido de existir, acontecer;
  • Verbos que indicam fenômenos da natureza (choveu, nevou);
  • Verbo fazer e haver indicando tempo decorrido (faz dois anos).

Alternativa correta:

E) Havia muitas pessoas em Barcelona durante a festa.

Aqui, “havia” é impessoal (equivale a "existiam" no sentido, mas o correto é deixar no singular). Assim, não há sujeito, como detalha Bechara: “Quando ‘haver’ significa existir, não tem sujeito”.

Analisando as alternativas incorretas:

A) Roubaram todas as coisas daquele pobre rapaz.
O verbo está no plural, indicando um sujeito indeterminado (alguém praticou, mas não sabemos quem). Não é inexistente.

B) “Do riso fez-se o pranto”.
O sujeito está posposto ao verbo (“o pranto”). Existe sujeito simples e determinado.

C) Dolores e Nélson casaram-se durante o verão.
O sujeito é composto: “Dolores e Nélson”. O verbo concorda com o sujeito explícito.

D) Fiz tudo que me foi pedido.
O sujeito é oculto: “eu”. Embora não esteja escrito, é recuperado pela desinência verbal.

Resumo estratégico: Sempre que encontrar o verbo haver no sentido de "existir", identifique sujeito inexistente. Cuidado com pegadinhas, como sujeitos ocultos ou indeterminados.

Regra didática: Verbo haver, no sentido de existir, é impessoal; logo, não admite sujeito, e permanece na 3ª pessoa do singular (havia muitos livros)!

Mantenha-se atento a esse conceito. Questões desse tipo sempre aparecem, por isso, pratique reconhecer estruturas impessoais.

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