Questão 1139c590-03
Prova:UniREDENTOR 2020
Disciplina:Português
Assunto:Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia

A expressão destacada na sentença: Procurem colocar-se na pele da pessoa enferma, poderia ser substituída por:

Texto: Aos estudantes de Medicina

Na coluna de hoje vou resumir-lhes as lições mais importantes que aprendi em quarenta anos de atividade clínica. Na verdade, a ideia de reuni-las surgiu semanas atrás quando o diretor Wolf Maia me convidou para fazer uma pequena palestra para atrizes e atores que interpretavam papéis de estudantes de medicina numa cena da novela das nove. “Haverá uma classe com alunos e nenhuma dramaturgia, diga o que quiser”, propôs ele. Hesitei diante do convite inusitado, mas no fim achei que seria boa oportunidade para dizer aos alunos: 1- Tenham sempre em mente que encontrarão mais dificuldade para receber os cuidados de vocês justamente as pessoas que mais necessitarão deles. O médico deve lutar por condições dignas de trabalho e por remuneração condizente com as exigências do exercício profissional, mas sem esquecer de cobrar da sociedade o acesso universal dos brasileiros ao sistema de saúde. 2- É fundamental ouvir as queixas dos doentes. Sem ouvi-las com atenção, como descobrir o mal que os aflige? Embora as características do atendimento em ambulatórios, hospitais e unidades de saúde criem restrições de tempo, cabe a nós exigirmos para cada consulta a duração mínima que nos permita recolher as informações imprescindíveis. Com a prática vocês verão que ficará mais fácil, porque aprenderão a orientar o interrogatório, especialmente no caso de pessoas prolixas e pouco objetivas. O desconhecimento da história e da evolução da enfermidade é causa de erros graves. 3- Medicina se faz com as mãos. Os exames laboratoriais e as imagens radiológicas ajudam bastante, mas não substituem o exame físico. Esse ensinamento dos tempos de Hipócrates deve ser repetido à exaustão, porque a tendência do ensino nas faculdades tem sido a ênfase nos exames subsidiários em prejuízo da palpação, da ausculta e da observação atenta aos sinais que o corpo emite. Como consequência, cada vez são mais frequentes as queixas de que o médico pediu e analisou os exames e preencheu a prescrição sem chegar perto do doente. Não culpem a falta de tempo nem tenham preguiça, em cinco minutos é possível fazer um exame físico razoável. Tocar o corpo do outro faz parte dos fundamentos de nossa profissão. 4- Procurem colocar-se na pele da pessoa enferma. Quanto mais empatia houver, mais fácil será compreender suas angústias, seus desejos e seu modo de encarar a vida. Não cabe ao médico fazer julgamentos morais, impor soluções nem decidir por ela, mas orientá-la para encontrar o caminho que mais atenda suas necessidades. 5- Medicina é profissão para quem gosta muito. Exige do estudante bem mais do que as outras: são seis anos de graduação, dos quais os dois últimos dedicados ao internato, que não por acaso recebeu esse nome. Depois vem a residência, com três, quatro e até cinco anos de duração. O dia inteiro nos hospitais públicos, os plantões de vinte e quatro horas, as jornadas intermináveis. É a única profissão que obriga o trabalhador a cumprir horários que a abolição da escravatura eliminou. Por exemplo, trabalhar o dia inteiro, entrar no plantão noturno e emendar o expediente do dia seguinte; trinta e seis horas sem dormir. Existe outra categoria de profissionais em que essa prática desumana faça parte da rotina? Se o exercício da medicina já é árduo para os apaixonados por ela, é possível que se torne insuportável para os demais. Se vocês escolheram segui-la apenas em busca de reconhecimento social ou recompensa financeira, estão no caminho errado, existem opções menos sacrificadas e bem mais vantajosas. 6- Medicina é para quem pretende estudar a vida inteira. É para gente curiosa que tem fascínio pelo funcionamento corpo humano e quer aprender como ele reage nas diversas circunstâncias que se apresentam. O médico que não estuda é mais do que irresponsável, coloca em risco a vida alheia. 7- Finalmente, para que foi criada a medicina? Qual a função desse ofício que resiste à passagem dos séculos? Embora a arte de curar encante os jovens e encha de prazer os mais experientes, não é esse o papel mais importante do médico. É interminável a lista de doenças que não sabemos curar. A finalidade primordial de nossa profissão é aliviar o sofrimento humano. (Drauzio Varella é médico cancerologista e escritor. Foi um dos pioneiros no tratamento da aids no Brasil. Disponível em https://drauziovarella.uol.com.br/dra uzio/aos-estudantes-de-medicina/)

A
entender a pessoa enferma.
B
trocar de pele.
C
vivenciar a experiência do outro.
D
colocar o outro em segundo plano.
E
delegar o outro a segundo plano.

Gabarito comentado

L
Leila Pimenta Monitor do Qconcursos

Tema central: A questão explora interpretação de texto e semântica, especialmente a compreensão de expressões idiomáticas. Saber decifrar o significado figurado é fundamental para entender o texto com profundidade, habilidade muito exigida em vestibulares.

Orientação normativa: Segundo o Manual de Redação da Presidência da República e gramáticas como Bechara, expressões idiomáticas devem ser compreendidas dentro do contexto comunicativo e analisadas pelo seu valor simbólico, nunca de modo literal.

Justificativa da alternativa correta:
A expressão “colocar-se na pele da pessoa enferma” significa adotar a perspectiva do outro, enxergando o mundo por seus olhos, ou seja, vivenciar a experiência do outro. O próprio trecho reforça: “Quanto mais empatia houver, mais fácil será compreender suas angústias, seus desejos e seu modo de encarar a vida.” Aqui, a palavra-chave é empatia, que não se restringe a “entender”, mas implica sentir e experimentar o que o outro passa.

Alternativa C: “vivenciar a experiência do outro”CORRETA, pois traz exatamente a ideia de colocar-se verdadeiramente no lugar de alguém, indo além do simples entendimento racional.

Análise das alternativas incorretas:

A) “entender a pessoa enferma” – Embora próxima, não alcança a dimensão emocional/experiencial sugerida pela expressão idiomática, pois entender pode ser superficial.
B) “trocar de pele” – É uma tradução literal, fica fora do contexto figurado e quebra a coesão semântica do texto.
D) “colocar o outro em segundo plano” – Contraria o sentido: A expressão sugere empatia e centralização do outro, não sua desvalorização.
E) “delegar o outro a segundo plano” – Idem à alternativa anterior, indicando afastamento e oposição ao valor central da frase.

Estratégia: Em provas, fique atento à literalidade x sentido figurado, especialmente com expressões idiomáticas – sempre reflita sobre o contexto! Gramáticos como Evanildo Bechara reforçam que a interpretação total do texto exige perceber o valor simbólico das palavras.

Resumo: A resposta correta é a alternativa C, pois expressa empatia verdadeira e identifica o sentido figurado de “colocar-se na pele”, habilidade fundamental para bons intérpretes de texto em concursos.

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