Está aberto, no espetáculo de circo, o terreno da utopia.
Na oração, “o terreno da utopia” exerce a função sintática de:
Está aberto, no espetáculo de circo, o terreno da utopia.
Na oração, “o terreno da utopia” exerce a função sintática de:
Instrução: A questão toma por base
uma passagem do livro Palhaços, do docente e pesquisador da
UNESP Mario Fernando Bolognesi:
[...] O circo é a exposição do corpo humano em seus limites
biológico e social. O espetáculo fundamenta-se na relação do
homem com a natureza, expondo a dominação e a superação humanas.
O adestramento de feras é demonstração do controle do
homem sobre o mundo natural, confirmando, assim, a sua superioridade
sobre as demais espécies animais. Acrobacias, malabarismos,
equilibrismos e ilusionismos diversos deixam evidente a
capacidade humana de superação de seus próprios limites. Mas,
ao apresentar espetacularmente a superação, terminam por confirmar
a contingência natural da existência, expressa na sublimidade
do corpo altivo, distante do cotidiano.
Os riscos dos artistas circenses são reais, dentro do contexto
espetaculoso de cada função. No espetáculo, os artistas não apresentam
“interioridades”; eles são puro corpo exteriorizado, sublime
ou grotesco, que se realiza e se extingue na dimensão mesma
do seu gesto. Eles não são atores a interpretar um “outro”, uma
realidade externa e distante. O espetáculo, assim, se aproxima de
um ritual que se repete e que evidencia a possibilidade concreta
de fracasso. A emoção da plateia então oscila entre uma possível
frustração diante do malogro do acrobata e a sugestão de superação
de limites presente a cada número. Um trapezista pode
cair, como acontece vez ou outra. Por isso o público não afasta
o olhar das evoluções aéreas. Estabelece-se, assim, uma relação
ritualística que encontra eco, em última instância, nas estruturas
coletivas de sobrevivência e necessidade de transposição dos
percalços do cotidiano. Se o artista falha, ele é aplaudido porque
ao menos tentou. Ele ousou, e isso já é o bastante para impulsionar
a fantasia coletiva da superação.
Os números cômicos, por sua vez, ao explorar os estereótipos
e situações extremas, evidenciam os limites psicológicos e
sociais do existir. Eles trabalham, no plano simbólico, com tipos
que não deixam de ser máscaras sociais biologicamente determinadas
(os palhaços são desajeitados, lerdos, fisicamente deformados,
estúpidos etc.). Esses limites se revelam com o riso espontâneo
que escancara as estreitas fronteiras do social. Quando
os palhaços entram no picadeiro, o olhar espetaculoso se desloca
objetivamente para a realidade diária da plateia.
[...]
[...] O movimento de superação da natureza e a possibilidade
(quando não a capacidade) de subjugar as limitações biológicas e
de criticar as máscaras sociais garantem a legitimidade do exercício
do sonho. Está aberto, no espetáculo de circo, o terreno da
utopia.
(Mario Fernando Bolognesi. Palhaços. São Paulo: Editora da Unesp, 2003.)
Instrução: A questão toma por base uma passagem do livro Palhaços, do docente e pesquisador da UNESP Mario Fernando Bolognesi:
[...] O circo é a exposição do corpo humano em seus limites biológico e social. O espetáculo fundamenta-se na relação do homem com a natureza, expondo a dominação e a superação humanas. O adestramento de feras é demonstração do controle do homem sobre o mundo natural, confirmando, assim, a sua superioridade sobre as demais espécies animais. Acrobacias, malabarismos, equilibrismos e ilusionismos diversos deixam evidente a capacidade humana de superação de seus próprios limites. Mas, ao apresentar espetacularmente a superação, terminam por confirmar a contingência natural da existência, expressa na sublimidade do corpo altivo, distante do cotidiano.
Os riscos dos artistas circenses são reais, dentro do contexto espetaculoso de cada função. No espetáculo, os artistas não apresentam “interioridades”; eles são puro corpo exteriorizado, sublime ou grotesco, que se realiza e se extingue na dimensão mesma do seu gesto. Eles não são atores a interpretar um “outro”, uma realidade externa e distante. O espetáculo, assim, se aproxima de um ritual que se repete e que evidencia a possibilidade concreta de fracasso. A emoção da plateia então oscila entre uma possível frustração diante do malogro do acrobata e a sugestão de superação de limites presente a cada número. Um trapezista pode cair, como acontece vez ou outra. Por isso o público não afasta o olhar das evoluções aéreas. Estabelece-se, assim, uma relação ritualística que encontra eco, em última instância, nas estruturas coletivas de sobrevivência e necessidade de transposição dos percalços do cotidiano. Se o artista falha, ele é aplaudido porque ao menos tentou. Ele ousou, e isso já é o bastante para impulsionar a fantasia coletiva da superação.
Os números cômicos, por sua vez, ao explorar os estereótipos e situações extremas, evidenciam os limites psicológicos e sociais do existir. Eles trabalham, no plano simbólico, com tipos que não deixam de ser máscaras sociais biologicamente determinadas (os palhaços são desajeitados, lerdos, fisicamente deformados, estúpidos etc.). Esses limites se revelam com o riso espontâneo que escancara as estreitas fronteiras do social. Quando os palhaços entram no picadeiro, o olhar espetaculoso se desloca objetivamente para a realidade diária da plateia.
[...]
[...] O movimento de superação da natureza e a possibilidade (quando não a capacidade) de subjugar as limitações biológicas e de criticar as máscaras sociais garantem a legitimidade do exercício do sonho. Está aberto, no espetáculo de circo, o terreno da utopia.
(Mario Fernando Bolognesi. Palhaços. São Paulo: Editora da Unesp, 2003.)