Ainda em consideração ao sentido de algumas
palavras do Texto 1, assinale a alternativa em que o
sentido de palavras ou expressões grifadas está
indicado corretamente.
TEXTO 1
Português, a língua mais difícil do
mundo?
Conta outra! .
Alguns mitos resistentes rondam como mosquitos chatos a
língua portuguesa falada no Brasil. Diante deles,
argumentações fundadas em fatos e um mínimo de
racionalidade são tão inúteis quanto tapas desferidos às
cegas no escuro do quarto em pernilongos zumbidores. Os
tapas acertam o vazio, os zumbidos continuam lá.
A lenda de que se fala no estado do Maranhão o português
mais “correto” do Brasil é uma dessas balelas aceitas por aí
como verdades reveladas – e nem os tristíssimos índices
educacionais maranhenses podem fazer nada contra isso.
Tapas no vazio.
Outra bobagem de grande prestígio é aquela que sustenta
ser o português “a língua mais difícil do mundo”. Baseada,
talvez, na dor de cabeça real que acomete estrangeiros
confrontados com a arquitetura barroca de nossos verbos, a
afirmação é categórica o bastante para dispensar a
necessidade de uma prova.
O sujeito erra o gênero da palavra alface e pronto, lá vem a
desculpa universal: “Ah, também, como é difícil a porcaria
dessa língua! Ah, se tivéssemos sido colonizados pelos
holandeses!” Não, claro que isso não quer dizer que o
queixoso saiba falar holandês. É justamente na imensa
parcela monoglota da população que a crença na
dificuldade insuperável da língua portuguesa encontra solo
mais fértil.
Não é uma conclusão a que se chegue depois de estudar
judiciosamente latim, alemão, húngaro, russo e japonês.
Ninguém precisa ter encarado um idioma em que se use
declinação – vespeiro do qual a gramática portuguesa nos
poupou – para sair deplorando em altos brados o desafio
invencível da crase. Não há dúvida de que o mito das
agruras superlativas do português diz muito sobre a falência
educacional brasileira, cupim que rói as fundações de
qualquer projeto de desenvolvimento social que vá além da
promoção de um maior acesso da população a shopping
centers.
Temo, porém, que suas raízes sejam mais profundas.
Percebe-se aí uma mistura tóxica de autocomplacência,
autodepreciação, ufanismo, fuga da realidade e desculpa
esfarrapada que pode ser ainda mais difícil de derrotar do
que nosso vicejante semianalfabetismo.
http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/cronica/portugues-a-lingua-mais-dificil-do-mundo-conta-outra/
Conta outra! . Alguns mitos resistentes rondam como mosquitos chatos a língua portuguesa falada no Brasil. Diante deles, argumentações fundadas em fatos e um mínimo de racionalidade são tão inúteis quanto tapas desferidos às cegas no escuro do quarto em pernilongos zumbidores. Os tapas acertam o vazio, os zumbidos continuam lá.
A lenda de que se fala no estado do Maranhão o português mais “correto” do Brasil é uma dessas balelas aceitas por aí como verdades reveladas – e nem os tristíssimos índices educacionais maranhenses podem fazer nada contra isso. Tapas no vazio.
Outra bobagem de grande prestígio é aquela que sustenta ser o português “a língua mais difícil do mundo”. Baseada, talvez, na dor de cabeça real que acomete estrangeiros confrontados com a arquitetura barroca de nossos verbos, a afirmação é categórica o bastante para dispensar a necessidade de uma prova.
O sujeito erra o gênero da palavra alface e pronto, lá vem a desculpa universal: “Ah, também, como é difícil a porcaria dessa língua! Ah, se tivéssemos sido colonizados pelos holandeses!” Não, claro que isso não quer dizer que o queixoso saiba falar holandês. É justamente na imensa parcela monoglota da população que a crença na dificuldade insuperável da língua portuguesa encontra solo mais fértil.
Não é uma conclusão a que se chegue depois de estudar judiciosamente latim, alemão, húngaro, russo e japonês. Ninguém precisa ter encarado um idioma em que se use declinação – vespeiro do qual a gramática portuguesa nos poupou – para sair deplorando em altos brados o desafio invencível da crase. Não há dúvida de que o mito das agruras superlativas do português diz muito sobre a falência educacional brasileira, cupim que rói as fundações de qualquer projeto de desenvolvimento social que vá além da promoção de um maior acesso da população a shopping centers.
Temo, porém, que suas raízes sejam mais profundas. Percebe-se aí uma mistura tóxica de autocomplacência, autodepreciação, ufanismo, fuga da realidade e desculpa esfarrapada que pode ser ainda mais difícil de derrotar do que nosso vicejante semianalfabetismo.
Gabarito comentado
Tema central: A questão exige interpretação de texto com foco no sentido contextual de vocábulos e expressões. Esse tipo de questão avalia a capacidade de compreender, no contexto, o significado de palavras, prática amplamente cobrada em vestibulares e concursos.
Alternativa correta: C — "‘agruras superlativas do português’: dificuldades descomunais, excessivas do português."
Justificativa: Segundo a norma-padrão e gramáticas como as de Celso Cunha & Lindley Cintra, “agrura” designa adversidade, dificuldade, amargura. “Superlativas” significa muito acentuadas, máximas. Assim, “agruras superlativas” são dificuldades extremas. Logo, a definição da alternativa C é precisa, traduzindo fielmente o sentido do texto.
Análise das incorretas:
A) “parcela monoglota da população”: “Monoglota” significa quem fala uma só língua, não analfabeto. O analfabeto sequer lê/escreve; o monoglota pode dominar plenamente sua língua.
B) “autodepreciação”: Refere-se a menosprezar-se, e não ao simples ato de analisar a si mesmo (isso seria “autoanálise”).
D) “estudar judiciosamente”: “Judiciosamente” é o mesmo que de modo sensato, criterioso, e não necessariamente aplicado de forma intensa.
E) “mistura tóxica”: “Tóxico” é o que faz mal, prejudicial, não “complexo e intrincado”. Esta é uma pegadinha: relacionar toxicidade à complexidade, e não ao dano.
Estratégia para questões semelhantes:
- Leia sempre o trecho no contexto. Busque pistas lexicais ao redor da palavra.
- Selecione alternativas que expressem, com precisão, o valor semântico empregado pelo autor.
- Desconfie de alternativas com definições imprecisas ou que troquem “como” por “o que”, “de onde” por “por quê”, e outras alterações que mudam o sentido.
Citação de apoio: Como destaca Evanildo Bechara (“Moderna Gramática Portuguesa”), o sentido vocabular se consolida a partir do contexto, requerendo fina atenção aos detalhes do discurso.
Resumo: A alternativa C é a única que interpreta corretamente o significado contextual dos termos destacados. Mantenha atenção ao sentido real das palavras e suas nuances para resolver esse tipo de questão com segurança.
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