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Foram encontradas 175 questões
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UNESP 2017 - Português - Termos integrantes da oração: Objeto direto, Objeto indireto, Complemento nominal, Agente da Passiva, Sintaxe

Em “Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” (1° parágrafo), o termo destacado exerce a mesma função sintática do trecho destacado em:

Leia o trecho extraído do artigo “Cosmologia, 100”, de Antonio Augusto Passos Videira e Cássio Leite Vieira, para responder à questão.

      “Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” A frase – que tem algo da essência do hoje clássico A estrada não percorrida (1916), do poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963) – está em um artigo científico publicado há cem anos, cujo teor constitui um marco histórico da civilização.

      Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos depois de o Homo sapiens deixar uma mão com tinta estampada em uma pedra, a humanidade era capaz de descrever matematicamente a maior estrutura conhecida: o Universo. A façanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955).

      Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico de origem alemã escreveu a um colega dizendo que o que produzira o habilitaria a ser “internado em um hospício”. Mais tarde, referiu-se ao arcabouço teórico que havia construído como um “castelo alto no ar”.

      O Universo que saltou dos cálculos de Einstein tinha três características básicas: era finito, sem fronteiras e estático – o derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas décadas seguintes.

Em “Considerações Cosmológicas na Teoria da Relatividade Geral”, publicado em fevereiro de 1917 nos Anais da Academia Real Prussiana de Ciências, o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes: a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema teórico já classificado como a maior contribuição intelectual de uma só pessoa à cultura humana.

      Esse bloco matemático impenetrável (mesmo para físicos) nada mais é do que uma teoria que explica os fenômenos gravitacionais. Por exemplo, por que a Terra gira em torno do Sol ou por que um buraco negro devora avidamente luz e matéria.

      Com a introdução da relatividade geral, a teoria da gravitação do físico britânico Isaac Newton (1642-1727) passou a ser um caso específico da primeira, para situações em que massas são bem menores do que as das estrelas e em que a velocidade dos corpos é muito inferior à da luz no vácuo (300 mil km/s).

      Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma pequena joia, “Teoria da Relatividade Especial e Geral”, na qual populariza suas duas teorias, incluindo a de 1905 (especial), na qual mostrara que, em certas condições, o espaço pode encurtar, e o tempo, dilatar.

      Tamanho esforço intelectual e total entrega ao raciocínio cobraram seu pedágio: Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e úlcera. Seguiu debilitado até o final daquela década.

      Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta. Porém, a historiadora da ciência britânica Patricia Fara lembra que aqueles eram tempos de “cosmologias”, de visões globais sobre temas científicos. Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do geólogo alemão Alfred Wegener (1880-1930), marcada por uma visão cosmológica da Terra.

      Fara dá a entender que várias áreas da ciência, naquele início de século, passaram a olhar seus objetos de pesquisa por meio de um prisma mais amplo, buscando dados e hipóteses em outros campos do conhecimento.

                                                                 (Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado.)

A
“[...] o derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas décadas seguintes.” (4° parágrafo)
B
“Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes [...].” (10° parágrafo)
C
“[...] o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes [...].” (5° parágrafo)
D
“Seguiu debilitado até o final daquela década.” (9° parágrafo)
E
Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta.” (10° parágrafo)
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No soneto, o eu lírico

Leia o soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, do poeta português Luís de Camões (1525?-1580), para responder à questão.

                            Alma minha gentil, que te partiste

                            tão cedo desta vida descontente,

                            repousa lá no Céu eternamente,

                            e viva eu cá na terra sempre triste.

                            Se lá no assento etéreo, onde subiste,

                            memória desta vida se consente,

                            não te esqueças daquele amor ardente

                            que já nos olhos meus tão puro viste.

                            E se vires que pode merecer-te

                            alguma coisa a dor que me ficou

                            da mágoa, sem remédio, de perder-te,

                            roga a Deus, que teus anos encurtou,

                            que tão cedo de cá me leve a ver-te,

                            quão cedo de meus olhos te levou.

                                                                     (Sonetos, 2001.)

A
suplica a Deus que suas memórias afetivas lhe sejam subtraídas.
B
expressa o desejo de que sua amada seja em breve restituída à vida.
C
expressa o desejo de que sua própria vida também seja abreviada.
D
suplica a Deus que sua amada também se liberte dos sofrimentos terrenos.
E
lamenta que sua própria conduta tenha antecipado a morte da amada.
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Ao escrever a seu colega dizendo que “o que produzira o habilitaria a ser ‘internado em um hospício’” (3° parágrafo), Einstein reconhece, em relação ao artigo de 1917, seu caráter

Leia o trecho extraído do artigo “Cosmologia, 100”, de Antonio Augusto Passos Videira e Cássio Leite Vieira, para responder à questão.

      “Vou conduzir o leitor por uma estrada que eu mesmo percorri, árdua e sinuosa.” A frase – que tem algo da essência do hoje clássico A estrada não percorrida (1916), do poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963) – está em um artigo científico publicado há cem anos, cujo teor constitui um marco histórico da civilização.

      Pela primeira vez, cerca de 50 mil anos depois de o Homo sapiens deixar uma mão com tinta estampada em uma pedra, a humanidade era capaz de descrever matematicamente a maior estrutura conhecida: o Universo. A façanha intelectual levava as digitais de Albert Einstein (1879-1955).

      Ao terminar aquele artigo de 1917, o físico de origem alemã escreveu a um colega dizendo que o que produzira o habilitaria a ser “internado em um hospício”. Mais tarde, referiu-se ao arcabouço teórico que havia construído como um “castelo alto no ar”.

      O Universo que saltou dos cálculos de Einstein tinha três características básicas: era finito, sem fronteiras e estático – o derradeiro traço alimentaria debates e traria arrependimento a Einstein nas décadas seguintes.

Em “Considerações Cosmológicas na Teoria da Relatividade Geral”, publicado em fevereiro de 1917 nos Anais da Academia Real Prussiana de Ciências, o cientista construiu (de modo muito visual) seu castelo usando as ferramentas que ele havia forjado pouco antes: a teoria da relatividade geral, finalizada em 1915, esquema teórico já classificado como a maior contribuição intelectual de uma só pessoa à cultura humana.

      Esse bloco matemático impenetrável (mesmo para físicos) nada mais é do que uma teoria que explica os fenômenos gravitacionais. Por exemplo, por que a Terra gira em torno do Sol ou por que um buraco negro devora avidamente luz e matéria.

      Com a introdução da relatividade geral, a teoria da gravitação do físico britânico Isaac Newton (1642-1727) passou a ser um caso específico da primeira, para situações em que massas são bem menores do que as das estrelas e em que a velocidade dos corpos é muito inferior à da luz no vácuo (300 mil km/s).

      Entre essas duas obras de respeito (de 1915 e de 1917), impressiona o fato de Einstein ter achado tempo para escrever uma pequena joia, “Teoria da Relatividade Especial e Geral”, na qual populariza suas duas teorias, incluindo a de 1905 (especial), na qual mostrara que, em certas condições, o espaço pode encurtar, e o tempo, dilatar.

      Tamanho esforço intelectual e total entrega ao raciocínio cobraram seu pedágio: Einstein adoeceu, com problemas no fígado, icterícia e úlcera. Seguiu debilitado até o final daquela década.

      Se deslocados de sua época, Einstein e sua cosmologia podem ser facilmente vistos como um ponto fora da reta. Porém, a historiadora da ciência britânica Patricia Fara lembra que aqueles eram tempos de “cosmologias”, de visões globais sobre temas científicos. Ela cita, por exemplo, a teoria da deriva dos continentes, do geólogo alemão Alfred Wegener (1880-1930), marcada por uma visão cosmológica da Terra.

      Fara dá a entender que várias áreas da ciência, naquele início de século, passaram a olhar seus objetos de pesquisa por meio de um prisma mais amplo, buscando dados e hipóteses em outros campos do conhecimento.

                                                                 (Folha de S.Paulo, 01.01.2017. Adaptado.)

A
irracional.
B
literário.
C
divertido.
D
confuso.
E
pioneiro.
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UNESP 2017 - Literatura - Naturalismo, Escolas Literárias

      Desde já a ciência entra, portanto, no nosso domínio de romancistas, nós que somos agora analistas do homem, em sua ação individual e social. Continuamos, pelas nossas observações e experiências, o trabalho do fisiólogo que continuou o do físico e o do químico. Praticamos, de certa forma, a Psicologia científica, para completar a Fisiologia científica; e, para acabar a evolução, temos tão somente que trazer para nossos estudos sobre a natureza e o homem o instrumento decisivo do método experimental. Em uma palavra, devemos trabalhar com os caracteres, as paixões, os fatos humanos e sociais, como o químico e o físico trabalham com os corpos brutos, como o fisiólogo trabalha com os corpos vivos. O determinismo domina tudo. É a investigação científica, é o raciocínio experimental que combate, uma por uma, as hipóteses dos idealistas, e substitui os romances de pura imaginação pelos romances de observação e de experimentação.

                                              (Émile Zola. O romance experimental, 1982. Adaptado.)

Depreendem-se do comentário do escritor francês Émile Zola preceitos que orientam a corrente literária

A
simbolista.
B
árcade.
C
naturalista.
D
romântica.
E
barroca.
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A veia satírica do poeta português Manuel Maria de Barbosa du Bocage (1765-1805) está bem exemplificada nos seguintes versos:

A

Meu ser evaporei na lida insana

Do tropel de paixões, que me arrastava;

Ah!, cego eu cria, ah!, mísero eu sonhava

Em mim quase imortal a essência humana.

B

Cândida pomba mimosa,

Ave dos níveos Amores,

Cingida por mãos das Graças

Dum lindo colar de flores:

Vênus, macia a meus versos,

Grata aos cultos que lhe dou,

Já desde o ninho amoroso

Para mim te destinou.

C

Assim como as flores vivem,

A minha Lília viveu;

Assim como as flores morrem,

A minha Lília morreu.

Assomando o negro dia,

Ave sinistra gemeu;

Cumpriu-se o funesto agouro:

A minha Lília morreu.

D

Refalsado animal, das trevas sócio,

Depõe, não vistas de cordeiro a pele.

Da razão, da moral o tom que arrogas,

Jamais purificou teus lábios torpes,

Torpes do lodaçal, donde zunindo

(Nuvens de insetos vis) te sobem trovas

A mente erma de ideias, nua de arte.

E

Senhor que estás no céu, que vês na terra

Meu frágil coração desfeito em pranto,

Pelas ânsias mortais, o ardor, o encanto

Com que lhe move Amor terrível guerra.

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UNESP 2017 - Português - Funções morfossintáticas da palavra SE

Se lá no assento etéreo, onde subiste,

memória desta vida se consente,” (2ª estrofe)

Os termos destacados constituem

Leia o soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, do poeta português Luís de Camões (1525?-1580), para responder à questão.

                            Alma minha gentil, que te partiste

                            tão cedo desta vida descontente,

                            repousa lá no Céu eternamente,

                            e viva eu cá na terra sempre triste.

                            Se lá no assento etéreo, onde subiste,

                            memória desta vida se consente,

                            não te esqueças daquele amor ardente

                            que já nos olhos meus tão puro viste.

                            E se vires que pode merecer-te

                            alguma coisa a dor que me ficou

                            da mágoa, sem remédio, de perder-te,

                            roga a Deus, que teus anos encurtou,

                            que tão cedo de cá me leve a ver-te,

                            quão cedo de meus olhos te levou.

                                                                     (Sonetos, 2001.)

A
pronomes.
B
conjunções.
C
uma conjunção e um advérbio, respectivamente.
D
um pronome e uma conjunção, respectivamente.
E
uma conjunção e um pronome, respectivamente.
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

De modo indireto, o soneto camoniano acaba também por explorar o tema da

Leia o soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, do poeta português Luís de Camões (1525?-1580), para responder à questão.

                            Alma minha gentil, que te partiste

                            tão cedo desta vida descontente,

                            repousa lá no Céu eternamente,

                            e viva eu cá na terra sempre triste.

                            Se lá no assento etéreo, onde subiste,

                            memória desta vida se consente,

                            não te esqueças daquele amor ardente

                            que já nos olhos meus tão puro viste.

                            E se vires que pode merecer-te

                            alguma coisa a dor que me ficou

                            da mágoa, sem remédio, de perder-te,

                            roga a Deus, que teus anos encurtou,

                            que tão cedo de cá me leve a ver-te,

                            quão cedo de meus olhos te levou.

                                                                     (Sonetos, 2001.)

A
falsidade humana.
B
indiferença divina.
C
desumanidade do mundo.
D
efemeridade da vida.
E
falibilidade da memória.
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Embora predomine no soneto uma visão espiritualizada da mulher (em conformidade com o chamado platonismo), verifica-se certa sugestão erótica no seguinte verso:

Leia o soneto “Alma minha gentil, que te partiste”, do poeta português Luís de Camões (1525?-1580), para responder à questão.

                            Alma minha gentil, que te partiste

                            tão cedo desta vida descontente,

                            repousa lá no Céu eternamente,

                            e viva eu cá na terra sempre triste.

                            Se lá no assento etéreo, onde subiste,

                            memória desta vida se consente,

                            não te esqueças daquele amor ardente

                            que já nos olhos meus tão puro viste.

                            E se vires que pode merecer-te

                            alguma coisa a dor que me ficou

                            da mágoa, sem remédio, de perder-te,

                            roga a Deus, que teus anos encurtou,

                            que tão cedo de cá me leve a ver-te,

                            quão cedo de meus olhos te levou.

                                                                     (Sonetos, 2001.)

A
“não te esqueças daquele amor ardente” (2ª estrofe)
B
“da mágoa, sem remédio, de perder-te,” (3ª estrofe)
C
“memória desta vida se consente,” (2ª estrofe)
D
“que tão cedo de cá me leve a ver-te,” (4ª estrofe)
E
“e viva eu cá na terra sempre triste.” (1ª estrofe)
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Na crônica, o personagem seu Afredo é descrito como uma pessoa

Para responder à questão, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953.

      Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernáculo¹e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.

      Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:

      – Onde vais assim tão elegante?

      Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fatigante ramerrão4 do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse:

      – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão.

      De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe:

      – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo:

      – É, canto às vezes, de brincadeira...

      Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador:

       – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática.

      Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:

      – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro!

      E, a seguir, ponderou:

      – Agora, piano é diferente. Pianista ela é!

      E acrescentou:

      – Eximinista pianista!

                                                                           (Para uma menina com uma flor, 2009.)


1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.

2 ressabiado: desconfiado.

3 lide: trabalho penoso, labuta.

4 ramerrão: rotina.

A
pedante e cansativa.
B
intrometida e desconfiada.
C
expansiva e divertida.
D
discreta e preguiçosa.
E
temperamental e bajuladora.
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UNESP 2017 - Português - Uso dos conectivos, Sintaxe

Em “Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou [...]” (12° parágrafo), a conjunção destacada pode ser substituída, sem prejuízo para o sentido do texto, por:

Para responder à questão, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953.

      Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernáculo¹e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.

      Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:

      – Onde vais assim tão elegante?

      Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fatigante ramerrão4 do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse:

      – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão.

      De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe:

      – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo:

      – É, canto às vezes, de brincadeira...

      Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador:

       – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática.

      Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:

      – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro!

      E, a seguir, ponderou:

      – Agora, piano é diferente. Pianista ela é!

      E acrescentou:

      – Eximinista pianista!

                                                                           (Para uma menina com uma flor, 2009.)


1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.

2 ressabiado: desconfiado.

3 lide: trabalho penoso, labuta.

4 ramerrão: rotina.

A
assim como.
B
logo que.
C
enquanto.
D
porque.
E
ainda que.
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UNESP 2017 - Português - Colocação Pronominal, Morfologia - Pronomes

Observa-se no texto um desvio quanto às normas gramaticais referentes à colocação pronominal em:

Para responder à questão, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953.

      Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernáculo¹e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.

      Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:

      – Onde vais assim tão elegante?

      Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fatigante ramerrão4 do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse:

      – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão.

      De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe:

      – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo:

      – É, canto às vezes, de brincadeira...

      Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador:

       – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática.

      Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:

      – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro!

      E, a seguir, ponderou:

      – Agora, piano é diferente. Pianista ela é!

      E acrescentou:

      – Eximinista pianista!

                                                                           (Para uma menina com uma flor, 2009.)


1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.

2 ressabiado: desconfiado.

3 lide: trabalho penoso, labuta.

4 ramerrão: rotina.

A
“Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro.” (1° parágrafo)
B
“Seu Afredo [...] tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador.” (1° parágrafo)
C
“Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal.” (2° parágrafo)
D
“[...] seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular [...].” (2° parágrafo)
E
“Seu Afredo virou-se para ela e disse: [...].” (4° parágrafo)
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Tipos de Discurso: Direto, Indireto e Indireto Livre

“[Seu Afredo] perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:

– Onde vais assim tão elegante?” (2° parágrafo/3° parágrafo)

Ao se adaptar este trecho para o discurso indireto, o verbo “vais” assume a seguinte forma:

Para responder à questão, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953.

      Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernáculo¹e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.

      Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:

      – Onde vais assim tão elegante?

      Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fatigante ramerrão4 do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse:

      – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão.

      De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe:

      – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo:

      – É, canto às vezes, de brincadeira...

      Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador:

       – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática.

      Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:

      – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro!

      E, a seguir, ponderou:

      – Agora, piano é diferente. Pianista ela é!

      E acrescentou:

      – Eximinista pianista!

                                                                           (Para uma menina com uma flor, 2009.)


1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.

2 ressabiado: desconfiado.

3 lide: trabalho penoso, labuta.

4 ramerrão: rotina.

A
foi.
B
fora.
C
vai.
D
ia.
E
iria.
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Gêneros Textuais

Um traço característico do gênero crônica, visível no texto de Vinicius de Moraes, é

Para responder à questão, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953.

      Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernáculo¹e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.

      Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:

      – Onde vais assim tão elegante?

      Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fatigante ramerrão4 do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse:

      – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão.

      De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe:

      – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo:

      – É, canto às vezes, de brincadeira...

      Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador:

       – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática.

      Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:

      – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro!

      E, a seguir, ponderou:

      – Agora, piano é diferente. Pianista ela é!

      E acrescentou:

      – Eximinista pianista!

                                                                           (Para uma menina com uma flor, 2009.)


1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.

2 ressabiado: desconfiado.

3 lide: trabalho penoso, labuta.

4 ramerrão: rotina.

A
o tom coloquial.
B
a sintaxe rebuscada.
C
o vocabulário opulento.
D
a finalidade pedagógica.
E
a crítica política.
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A charge explora, sobretudo, a oposição

A
inocência x malícia.
B
público x privado.
C
progresso x estagnação.
D
natureza x cidade.
E
liberdade x repressão.
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UNESP 2017 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Em “Mas, como linguista, cultor do vernáculo e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.” (1° parágrafo), o cronista sugere que seu Afredo

Para responder à questão, leia a crônica “Seu ‘Afredo’”, de Vinicius de Moraes (1913-1980), publicada originalmente em setembro de 1953.

      Seu Afredo (ele sempre subtraía o “l” do nome, ao se apresentar com uma ligeira curvatura: “Afredo Paiva, um seu criado...”) tornou-se inesquecível à minha infância porque tratava-se muito mais de um linguista que de um encerador. Como encerador, não ia muito lá das pernas. Lembro-me que, sempre depois de seu trabalho, minha mãe ficava passeando pela sala com uma flanelinha debaixo de cada pé, para melhorar o lustro. Mas, como linguista, cultor do vernáculo¹e aplicador de sutilezas gramaticais, seu Afredo estava sozinho.

      Tratava-se de um mulato quarentão, ultrarrespeitador, mas em quem a preocupação linguística perturbava às vezes a colocação pronominal. Um dia, numa fila de ônibus, minha mãe ficou ligeiramente ressabiada2 quando seu Afredo, casualmente de passagem, parou junto a ela e perguntou-lhe à queima-roupa, na segunda do singular:

      – Onde vais assim tão elegante?

      Nós lhe dávamos uma bruta corda. Ele falava horas a fio, no ritmo do trabalho, fazendo os mais deliciosos pedantismos que já me foi dado ouvir. Uma vez, minha mãe, em meio à lide3 caseira, queixou-se do fatigante ramerrão4 do trabalho doméstico. Seu Afredo virou-se para ela e disse:

      – Dona Lídia, o que a senhora precisa fazer é ir a um médico e tomar a sua quilometragem. Diz que é muito bão.

      De outra feita, minha tia Graziela, recém-chegada de fora, cantarolava ao piano enquanto seu Afredo, acocorado perto dela, esfregava cera no soalho. Seu Afredo nunca tinha visto minha tia mais gorda. Pois bem: chegou-se a ela e perguntou-lhe:

      – Cantas? Minha tia, meio surpresa, respondeu com um riso amarelo:

      – É, canto às vezes, de brincadeira...

      Mas, um tanto formalizada, foi queixar-se a minha mãe, que lhe explicou o temperamento do nosso encerador:

       – Não, ele é assim mesmo. Isso não é falta de respeito, não. É excesso de... gramática.

      Conta ela que seu Afredo, mal viu minha tia sair, chegou-se a ela com ar disfarçado e falou:

      – Olhe aqui, dona Lídia, não leve a mal, mas essa menina, sua irmã, se ela pensa que pode cantar no rádio com essa voz, ‘tá redondamente enganada. Nem em programa de calouro!

      E, a seguir, ponderou:

      – Agora, piano é diferente. Pianista ela é!

      E acrescentou:

      – Eximinista pianista!

                                                                           (Para uma menina com uma flor, 2009.)


1 vernáculo: a língua própria de um país; língua nacional.

2 ressabiado: desconfiado.

3 lide: trabalho penoso, labuta.

4 ramerrão: rotina.

A
mostrava-se incomodado por não ter com quem conversar sobre questões gramaticais.
B
revelava orgulho ao ostentar conhecimentos linguísticos pouco usuais.
C
sentia-se solitário por ser um dos poucos a dispor de sólidos conhecimentos gramaticais.
D
sentia-se amargurado por notar que seus conhecimentos linguísticos não eram reconhecidos.
E
revelava originalidade no modo como empregava seus conhecimentos linguísticos.