Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua
portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que, por esse fato, o falar e o escrever
em geral, sobretudo no campo das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer
continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo, além, que, dentro do
nosso país, os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no
tocante à correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir azedas polêmicas entre os mais
profundos estudiosos do nosso idioma — usando do direito que lhe confere a Constituição,
vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional
do povo brasileiro.
O suplicante, deixando de parte os argumentos históricos que militam em favor de sua ideia,
pede vênia para lembrar que a língua é a mais alta manifestação da inteligência de um povo,
é a sua criação mais viva e original; e, portanto, a emancipação política do país requer como
complemento e consequência a sua emancipação idiomática.
PRIMEIRA PARTE
IV - Desastrosas Consequências de um Requerimento
O teor da solicitação de Policarpo Quaresma expressa uma ironia ao deixar implícita uma crítica histórica.
O alvo dessa crítica é: