Questõesde UEPA

1
Foram encontradas 143 questões
70159008-d8
UEPA 2011 - Física - Estática e Hidrostática, Hidrostática

Os enunciados abaixo se referem à teoria hidrostática:

• A variação de pressão aplicada a um fluido contido num recipiente fechado é transmitida integralmente a todos os pontos desse fluido.

• Todo corpo imerso num fluido sofre a ação de uma força – denominada empuxo – dirigida verticalmente para cima, cujo módulo é igual ao módulo do peso do volume do fluido deslocado.

• A diferença de pressão entre dois pontos de um líquido em repouso é igual ao produto da densidade desse líquido pela aceleração da gravidade local e pelo desnível entre esses dois pontos.


A ordem correta dos autores dos princípios acima é:

A
Stevin, Arquimedes e Pascal.
B
Pascal, Stevin e Arquimedes.
C
Arquimedes, Pascal e Stevin.
D
Stevin, Pascal e Arquimedes.
E
Pascal, Arquimedes e Stevin.
700821f9-d8
UEPA 2011 - Biologia - Uma visão geral da célula, Moléculas, células e tecidos

Após intoxicações alimentares, medicamentosas ou excesso de bebida, analisando em nível celular, quais organelas estariam atuando especificamente nos mecanismos de reparo dos danos provocados?

A
Retículo Endoplasmático Rugoso, Retículo Endoplasmático liso, peroxissomo e ribossomo.
B
Complexo de Golgi, Retículo Endoplasmático liso, peroxissomo e ribossomo.
C
Ribossomos, lisosssomos, Núcleo e centríolo.
D
Fagossomo, Mitocôndria, Retículo Endoplasmático liso e cloroplasto.
E
Retículo Endoplasmático liso, peroxissomo, mitocôndria e membrana plasmática
7011bddf-d8
UEPA 2011 - Física - Estática e Hidrostática, Pressão

Com a proibição dos outdoors desde as eleições de 2006, neste ano, em várias cidades brasileiras, os cavaletes foram o tipo de publicidade que mais cresceu. De tamanhos variados, muitos foram colocados de forma irregular nos canteiros das ruas e praças, sendo motivo de reclamação da população pelos eventuais danos causados. Considere um cavalete de massa 4 kg, com seu peso igualmente distribuído em quatro hastes de apoio com área individual de 8 cm2 , sabendo que o ângulo que cada haste forma com o solo (horizontal) é de 60° (sem 60° = 0,8) e que o valor da aceleração da gravidade local é de 10 m/s2 , é correto afirmar que a pressão total exercida pelo cavalete no solo, em N/m2 , é de:

A
8.104
B
6.104
C
4.104
D
2.104
E
1.104
700d0ae9-d8
UEPA 2011 - Física - Oscilação e Ondas, Ondas e Propriedades Ondulatórias

No resgate dos mineiros no Chile, foi perfurado um buraco com aproximadamente 700 m de profundidade. A sonda Fênix 2 percorria esse trajeto em aproximadamente 15 minutos. A velocidade escalar, em km/h, é de aproximadamente:

A
1,8
B
2,8
C
3,6
D
3,8
E
4,8
7004ad27-d8
UEPA 2011 - Biologia - Vírus e bactérias, Identidade dos seres vivos, Protistas e algas

O tempo todo estamos entrando em contato com organismos causadores de doenças (Vírus, Bactérias, Protozoários e Fungos). Apesar do avanço de novas tecnologias, novos medicamentos e tratamentos, doenças como Cólera, Dengue, Malária e Tuberculose ainda fazem um grande número de vítimas todos os anos, acometendo principalmente as populações mais carentes de recursos. As doenças citadas no texto acima são causadas, respectivamente, por agentes classificados como:

A
Vírus, Bactéria, Protozoário e Fungos.
B
Bactéria, Vírus, Protozoário e Bactéria.
C
Bactéria, Vírus, Protozoário e Vírus.
D
Vírus, Bactéria, Protozoário e Vírus.
E
Protozoário, Vírus, Fungos e Bactéria.
6ffe26b9-d8
UEPA 2011 - Biologia - Hereditariedade e diversidade da vida, Introdução à genética: 1ª e 2ª leis de Mendel

O heredograma abaixo representa o padrão de herança de uma determinada característica e sua manifestação fenotípica nos descendentes:



A herança representada é:

A
Ligada ao sexo dominante( cromossomo X).
B
Ligada ao sexo recessiva (cromossomo X).
C
Autossômica dominante.
D
Autossômica recessiva.
E
Ligada ao sexo (cromossomo Y).
700186e3-d8
UEPA 2011 - Biologia - Meiose, Moléculas, células e tecidos

Uma célula com 8 cromossomos sofre meiose e origina:

A
2 células com 4 cromossomos.
B
2 células com 8 cromossomos.
C
4 células com 2 cromossomos.
D
4 células com 4 cromossomos.
E
4 células com 8 cromossomos.
6ff989a9-d8
UEPA 2011 - Biologia - Relações ecológicas, Ecologia e ciências ambientais

A reserva de Curiaú pode ser considerada uma região de transição entre dois ecossistemas: a Floresta Amazônica e o Cerrado. Esta área possui fauna e flora adaptadas às condições variáveis de pluviosidade (estação cheia e estação seca). Uma planta aquática na estação cheia serve de alimento para diversos pássaros, alguns peixes se beneficiam apenas de sua sombra para evitar o ressecamento de seus ovos e insetos moram na parte inferior de suas folhas para se abrigarem contra os predadores. As relações ecológicas presentes neste texto são:

A
Predatismo (Herbivoria) e Parasitismo.
B
Predatismo (Herbivoria) e Comensalismo.
C
Comensalismo e Parasitismo.
D
Somente Predatismo (Herbivoria).
E
Somente Comensalismo.
6fee1251-d8
UEPA 2011 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Combinando lenda e humor, O Coronel e o lobisomem, escrito por José Cândido de Carvalho, em 1964, é uma obra que evidencia a permanência e a transformação do regionalismo na Literatura Brasileira, pois:

A
A partir da Semana de 22, que enfatizou as produções europeias, a diversidade linguística e cultural e a cor local perderam lugar na literatura.
B
Desde o Romantismo – observado em autores como Gonçalves Dias e sua Canção do Exílio – não se observava menção ao nacionalismo, às lendas e histórias genuinamente brasileiras.
C
Apesar de tratar das dificuldades da vida do homem do campo, faz um contraponto desse estilo de vida com o do homem urbano, personificado na figura do lobisomem-advogado.
D
Em linguagem clássica, sem deixar de ser moderna e enfatizando os aspectos regionais da língua, consegue captar as angústias e os anseios de um personagem de mente rústica e atitudes nobres e gentis, em meio a um enredo que mistura lendas e personagens do imaginário popular.
E
Traz como personagem principal o coronel Ponciano, personagem-tipo, caricatura que, ao mesmo tempo em que apresenta o homem do campo, expõe uma visão ridícula desse homem interiorano.
6ff64768-d8
UEPA 2011 - Biologia - Evolução biológica, Origem e evolução da vida

As principais ideias do pensamento evolutivo se dividem entre as teorias do Criacionismo, Lamarckismo, Darwinismo e Neodarwinismo. Leia atentamente as frases abaixo:

I. O mecanismo de transformação é a Seleção Natural que atua sobre a variação individual.

II. A evolução resulta de modificações nos genes dos indivíduos, que por sua vez serão transmitidas aos seus descendentes.

III. Os peixes de cavernas tornaram-se cegos por não precisarem mais da visão.

IV. As adaptações são sinais do projeto de Deus. Os fósseis são moldes de animais malfeitos que Deus jogou fora.


As frases citadas pertencem respectivamente às teorias:

A
Neodarwinismo, Lamarckismo, Darwinismo e Criacionismo.
B
Darwinismo, Neodarwinismo, Lamarckismo e Criacionismo.
C
Neodarwinismo, Darwinismo, Lamarckismo e Criacionismo.
D
Lamarckismo, Neodarwinismo, Darwinismo e Criacionismo.
E
Darwinismo, Neodarwinismo, Criacionismo e Lamarckismo.
6ff30024-d8
UEPA 2011 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Sobre a obra O ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, marque a alternativa incorreta.

A
A obra destaca a visão de humanidade que temos na atualidade e desafia esta visão a sustentarse em meio ao caos de uma tragédia.
B
Há a utilização de um narrador onisciente e onipresente, e assim o leitor pode apreciar todos os ângulos dos acontecimentos.
C
Na obra, há a exposição dos personagens a dificuldades extremas, como que para testar suas reações diante das situações.
D
O tema da cegueira é abordado principalmente para discutir a delicada questão dos deficientes visuais e dos problemas que eles enfrentam na sociedade, sofrendo discriminações.
E
Há características da Escola Realista na obra.
6fea79c3-d8
UEPA 2011 - Literatura - Modernismo, Escolas Literárias

Leia o poema abaixo, de Manoel de Barros, e, sobre ele, assinale a alternativa incorreta.


Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.

(O retrato do artista quando coisa, 5. ed., Editora Record, Rio de Janeiro: 2007, p.61)

A
Promove a irracionalidade e a perda de juízo no uso da palavra, possibilitando experiências e resultados inusitados.
B
Tem fortes tendências simbolistas, pois se utiliza de uma linguagem fluida e musical, e é marcado por figuras como a aliteração, presente no último verso.
C
Empreende uma experiência com a palavra, utilizando-a como objeto possível de ser explorado de vários ângulos, tanto pela denotação quanto pela conotação.
D
Subverte as normas da gramática em construções como as dos dois primeiros versos.
E
No 4º verso, há uma sinestesia.
6fdd4472-d8
UEPA 2011 - Literatura - Gêneros Literários, Gênero Lírico

Cantiga

Senhora, partem tam tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
Tam fora d’esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.

(João Reis de Castelo-Branco. In: Antologia da poesia portuguesa)

Sobre o texto acima, pertencente ao Trovadorismo Português, é correto afirmar que:

A
Trata-se de uma cantiga de amigo, pois o sentimento é feminino.
B
Trata-se de uma cantiga de escárnio, pois apresenta sátiras indiretas a uma mulher.
C
Trata-se de uma cantiga de amor, pois apresenta a vassalagem amorosa.
D
Trata-se de uma cantiga de maldizer, pois critica diretamente o adultério feminino.
E
Quanto à forma, trata-se de uma cantiga de refrão.
6fe635d8-d8
UEPA 2011 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

O faz-pés, que dá título ao conto de Rui Guilherme, é:

A
Um personagem que produzia velas em formas de pés para fiéis que desejavam pagar à Virgem de Nazaré o atendimento de graças.
B
O protótipo de uma máquina utilizada pela indústria de calçados do norte.
C
A maneira como no conto os personagens se referem a Deus.
D
A forma como os ribeirinhos que perdiam o pé em armadilhas de caça se referiam ao médico que fazia as próteses.
E
A denominação do protético, personagem principal do conto, que entra em competição com Deus.
6fe1a35e-d8
UEPA 2011 - Literatura - Versificação - Rimas, Versificação - Metrificação, Estilística

Leia atentamente o poema abaixo, de Herbert Emanuel, e responda o que se pede.

Da Impossibilidade

um pouco mais e eu me arrisco
a esta palavra felina, arisca
mas a mão trêmula de medo
como um gato escaldado em segredo

hesita em escrever neste branco véu
ou página-noiva a pedir-me provas
de que realmente a mereço
com um gesto de afeto ou apreço

e assim eu me fico:
se continuo ou se risco
se admito o fracasso

ou se me lanço onde não chego
pois sonhar é possível
diz o otimismo mais cego

(Nada ou quase uma arte, 2. ed., Editora Spia Vídeos e Produções, Macapá: 2009, p.1)

Quanto aos elementos estruturais e linguísticos do poema, é correto afirmar que:

A
Apresenta a estrutura de um soneto.
B
Apresenta, predominantemente, linguagem denotativa.
C
Apresenta métrica perfeita.
D
Apresenta versos brancos, ou seja, versos que não rimam.
E
Existe uma onomatopeia na primeira estrofe.
6fd97c06-d8
UEPA 2011 - Português - Funções morfossintáticas da palavra QUE

A alternativa, em cujo vocábulo o que se equivale morfossintaticamente ao utilizado em "Acho que foi um professor de cursinho ...” (1º parágrafo), é:

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus.” (1º parágrafo).
B
“...existe alguém lá fora que nasceu para nós.” (2º parágrafo).
C
“É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós,...” (4º parágrafo).
D
“...Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções...” (6º parágrafo).
E
“Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência...” (16º parágrafo).
6fc59404-d8
UEPA 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Ao ler o texto, pode-se inferir que:

I. Nem sempre, segundo a opinião do autor, encontrar alguém que se acredita parceiro ideal resolve os problemas de toda vida.

II. Segundo o mito dos andróginos, na vida, só seremos felizes após encontrarmos nossa carametade.

III. Todos acreditamos na necessidade de se encontrar um parceiro.

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
Apenas a afirmativa I está correta.
B
Apenas a afirmativa II está correta.
C
Apenas a afirmativa III está correta.
D
Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
E
Todas as afirmativas estão corretas.
6fd680a6-d8
UEPA 2011 - Português - Sintaxe

Sobre o 8º parágrafo, não se pode afirmar que:

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
O vocábulo ele, no fragmento “... imutável de amar, diz ele.”, é complemento do verbo dizer.
B
O vocábulo ele, que aparece em “...mas essencialmente ele afirma...”, refere-se a Jurandir Freire Costa.
C
A expressão argumentos minuciosos não se refere aos elementos de cunho musical e de cunho religioso apresentados pelo escritor.
D
Entre as orações que compõem o fragmento “...mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social.”, existe uma relação de dependência.
E
O vocábulo eu é sujeito implícito de “... vou reproduzir...”.
6fd357c0-d8
UEPA 2011 - Português - Uso dos conectivos, Sintaxe

Após a vírgula, que conectores podem ser inseridos, sem alteração de sentido, no fragmento “... um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora...” (12º parágrafo) ?

I. Mesmo.
II. Embora.
III. Porque.
IV. Apesar de.
V. Porém.

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
Apenas as afirmativas I, II e III estão corretas.
B
Apenas as afirmativas I, II e IV estão corretas.
C
Apenas as afirmativas I, III e IV estão corretas.
D
Apenas as afirmativas II, III e V estão corretas.
E
Todas as afirmativas estão corretas.
6fd015ca-d8
UEPA 2011 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Com relação ao 11º parágrafo, pode-se inferir que:

I. A felicidade ou a infelicidade independem do ser humano estar só ou estar acompanhado.

II. No referido parágrafo, o autor defende a ideia de parceria como sinônimo de felicidade.

III. Muitos acreditam que é impossível ser feliz quando não se tem um parceiro.

A solidão essencial

O amor que nos resolve a vida é uma promessa enganosa

Acho que foi um professor de cursinho quem contou em classe o mito dos andróginos. Parte homem e parte mulher, esses seres eram tão completos e tão felizes que despertaram a inveja de Zeus. Irado, o patriarca do Olimpo disparou raios que separaram em duas cada uma das criaturas perfeitas. Desde então, elas vagam pelo mundo em busca de sua metade. São solitárias e incompletas. Somos nós.

Não sei o que os gregos queriam dizer ao criar essa lenda, mas a maneira como nós a interpretamos, modernamente, é muito clara: existe alguém lá fora que nasceu para nós. Enquanto não acharmos essa metade (o amor verdadeiro), jamais seremos felizes.

Muitos de nós acreditamos nisso o tempo todo. Outros acreditam apenas de vez em quando. Raro é encontrar alguém totalmente imune a essa espécie de esperança (ou seria armadilha?) romântica.

Mas eu às vezes me pergunto se essa é uma ideia construtiva. É saudável imaginar que a nossa felicidade não depende de nós, mas, sim, de outra pessoa qualquer? Mesmo sem tomar o mito dos andróginos ao pé da letra, milhões de pessoas adiam o futuro diariamente à espera de que a vida lhes traga um grande amor, aquele que vai colocar tudo nos eixos.

Eu pergunto de novo: essa é uma ideia saudável?

Há um livro do qual eu gosto muito que trata dessa questão – a ideia do amor romântico – como nenhum outro. Chama-se “Sem fraude nem favor, estudos sobre o amor romântico” e foi escrito pelo psiquiatra e psicanalista pernambucano Jurandir Freire Costa, uma das pessoas que melhor fala dos sentimentos e das emoções no mundo real (que é o contrário do mundo idealizado no qual a gente, sem perceber, passa a maior parte da nossa vida).

Nesse livro, Jurandir afirma que o amor romântico – ao contrário de tudo que nos dizem – não é natural e universal, não é incontrolável e nem é condição essencial à felicidade humana. Isso seriam apenas coisas em que se acredita.

Não vou reproduzir os argumentos minuciosos e nem a prosa erudita do escritor, mas essencialmente ele afirma que o amor exaltado, sublime e raro que nós endeusamos é uma invenção social (como a música) e uma crença (como a religião) que pode perfeitamente ser questionada e modificada. Não existe um jeito eterno e imutável de amar, diz ele. O amor e a forma de encará-lo sempre variaram ao longo da história. Se nosso jeito atual de amar nos parece opressivo, antiquado ou insatisfatório, que tal tentar outra forma de amar?

É estranho pensar no amor dessa maneira, não? Estamos acostumados a vê-lo como algo imutável, quase sagrado, que as pessoas têm ou não têm, conseguem ou não conseguem. Mas claramente não é assim. Ao redor de nós existem pessoas que tratam o amor de forma muito diferente entre si. Fulano é muito romântico, quase tonto, enquanto fulana é de um pragmatismo inquietante: sabe exatamente o que deseja e vai atrás. Essas são diferenças reais, que mostram que o bicho amor não é exatamente o mesmo para todo o mundo.

Quando se compara o nosso modo de agir e pensar com o das outras culturas, as diferenças ficam ainda mais óbvias.

Nos últimos dias, eu tenho pensado muito em um aspecto particular da nossa ideologia do amor, aquele que diz que é impossível ser feliz sozinho. Não é só a música de Tom Jobim que afirma isso. Tudo que nos circunda brada a mesma mensagem. Ela está nos filmes, nas novelas, nas conversas. Ausência de parceiro é sinônimo de infelicidade, fracasso ou esquisitice. Ou tudo isso junto. Talvez seja verdade que a maioria das pessoas sem parceiros tendem a serem menos felizes, mas o contrário certamente é falso: estar com alguém, ter alguém, não é garantia de felicidade. A gente sabe disso, a gente vive isso, mas, socialmente, a gente não divide essa informação. Para todos os efeitos públicos, vale o seguinte combinado: se a pessoa está casada, ou tem um namorado bacana, sua vida está “resolvida”. Mas isso é falso, não? 

Namorei uma vez uma moça cujo pai, um sujeito espetacular, casado com uma mulher encantadora, estava há meses numa terrível depressão. Eu olhava para o sujeito e não entendia. Ele tinha mulher, filhos, casa, profissão, amigos e... tinha desmoronado. Os motivos íntimos da derrocada talvez nem ele soubesse, mas a lição para mim foi clara: nossas questões interiores não se resolvem com a parceria amorosa, nem mesmo com a família.

Não adianta nos cercamos de um cenário de propaganda de margarina (mulher, filhos, cachorro, condomínio) porque, ao final, nossa felicidade depende de nós, das forças interiores que nós somos capazes de mobilizar. As pessoas que amamos nos ajudam, mas elas não substituem nosso amor próprio, nossa motivação e a nossa estabilidade. Precisamos das pessoas, mas precisamos ainda mais de nós mesmos.

É por isso que a promessa de felicidade amorosa às vezes me incomoda. Ela é falsa. Ela é uma forma de propaganda enganosa. Ele conduz as pessoas numa procura inútil por alguém que as faça sentir inteiras e completas, quando, na verdade, essa sensação de inteireza talvez seja inalcançável.

Se a gente olhar de novo para o mito do andrógino, talvez haja nele outra sabedoria a ser extraída: a de que nós, homens e mulheres, somos criaturas intrinsecamente solitárias. Vivemos em grupo, precisamos do grupo e buscamos conforto na intimidade do outro, no amor. Mas talvez seja da nossa natureza jamais nos sentirmos inteiros e completos.

Talvez haja em nós uma inquietação inextinguível e uma angústia que advêm da nossa própria consciência e que nos torna humanos. O amor seria então um alento, um consolo, uma fogueira que nos protege do frio. Mas o frio está lá. E a melhor medida da felicidade talvez seja a forma como lidamos com ele. Como indivíduos, não como casais.

(Ivan Martins. Época on line, 06/01/2010.)
A
Apenas a afirmativa I está correta.
B
Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
C
Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
D
Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
E
Todas as afirmativas estão corretas.