Questõesde UFPR sobre Sociologia
No livro Cultura: um conceito antropológico, o antropólogo Roque de Barros Laraia argumenta em favor da influência
da cultura na constituição humana e na organização das sociedades. Segundo Laraia:
O tempo constitui um elemento importante na análise de uma cultura. Nesse mesmo quarto de século, mudaram-se os padrões
de beleza. Regras morais que eram vigentes passaram a ser consideradas nulas: hoje uma jovem pode fumar em público sem
que a sua reputação seja ferida. Ao contrário de sua mãe, pode ceder um beijo ao namorado em plena luz do dia. Tais fatos
atestam que as mudanças de costumes são bastante comuns. Entretanto, elas não ocorrem com a tranquilidade que
descrevemos. Cada mudança, por menor que seja, representa o desenlace de numerosos conflitos. Isso porque em cada
momento as sociedades humanas são palco do embate entre as tendências conservadoras e as inovadoras. As primeiras
pretendem manter os hábitos inalterados, muitas vezes atribuindo aos mesmos uma legitimidade de ordem sobrenatural. As
segundas contestam a sua permanência e pretendem substituí-los por novos procedimentos.
(LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. p. 96.)
A respeito do assunto, considere as seguintes afirmativas:
1. As maneiras de ver o mundo, os julgamentos de valor, hábitos e comportamentos sociais são produtos de uma
herança cultural.
2. O caráter dinâmico da cultura e as tentativas de mudanças nos costumes colocam em risco a preservação dos
sistemas culturais.
3. O etnocentrismo designa a tendência em considerar lógico e coerente apenas o próprio sistema cultural,
atribuindo aos demais um alto grau de irracionalismo.
4. Os sistemas culturais de sociedades simples são estáticos enquanto que os de sociedades complexas como a
nossa são dinâmicos.
Assinale a alternativa correta.
Considere a seguinte passagem:
No final do século XIX e início do século XX, inúmeras leis de “proteção” à mulher passaram a proibir o trabalho feminino em
ocupações consideradas mais pesadas ou perigosas, já que isso havia trazido problemas de ordem “moral” resultantes do fato
de as mulheres terem mais mobilidade fora do espaço da casa. Na França, uma lei de 1892 proibia as mulheres de exercer o
trabalho noturno. No Brasil, a mesma proibição foi expressa em um decreto de 1932. Embora muitas dessas leis visassem à
“proteção” das mulheres, exploradas pela indústria – assim como ocorria com as crianças –, acabaram por confiná-las aos
cuidados domésticos e a trabalhos realizados em casa, sub-remunerados. Durante o século XX, as duas guerras mundiais
voltaram a impulsionar a presença das mulheres nas indústrias, pois, nesses momentos, os esforços produtivos eram
necessários. No entanto, com o fim do período de guerras, novamente se reivindicou o retorno das mulheres à casa. O modelo
de família almejado pela sociedade industrial e fordista do pós-guerra centrou-se, então, no “homem provedor e na mulher
cuidadora”.(SILVA, Afrânio et al. (orgs.). Sociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2016. p. 338.)
Sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho, assinale a alternativa correta.
Considere o seguinte excerto:
A partir do período da história que teve início no século XV, à medida que os europeus intensificaram o contato com povos
provenientes de diferentes regiões do mundo, tentou-se sistematizar o conhecimento através da categorização e da explicação
dos fenômenos naturais e sociais. Populações não europeias foram “racializadas”, em oposição à “raça branca” europeia. Em
algumas situações, essa racialização assumiu formas institucionais “codificadas”, como no caso da escravidão, nas colônias
norte-americanas, e do apartheid, na África do Sul.
(GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 205-206.)
Em relação ao tema do racismo, assinale a alternativa correta.
Considere o seguinte excerto:
O estudo objetivo e sistemático da sociedade e dos comportamentos humanos é um desenvolvimento relativamente recente,
cujos primórdios datam de fins do século XVIII. Um desenvolvimento-chave foi o uso da ciência para compreender o mundo -
a ascensão de uma abordagem científica ocasionou uma mudança radical na perspectiva e na sua compreensão. Uma após a
outra, as explicações tradicionais e baseadas na religião foram suplantadas por tentativas de conhecimento racionais e críticas.
[...] O cenário que dá origem à sociologia foi a série de mudanças radicais introduzidas pelas “duas grandes revoluções” da
Europa dos séculos XVIII e XIX. [...] A ruptura com os modos de vida tradicionais desafiou os pensadores a desenvolverem
uma compreensão tanto do mundo social como do natural. Os pioneiros da sociologia foram apanhados pelos acontecimentos
que cercaram essas revoluções e tentaram compreender sua emergência e consequências potenciais.
(GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. p. 27-28.)
Quais são as revoluções a que Anthony Giddens faz referência?
Considere o seguinte excerto da obra O povo brasileiro, do antropólogo Darcy Ribeiro:
A classe dominante empresarial-burocrático-eclesiástica, embora exercendo-se como agente de sua própria prosperidade,
atuou também, subsidiariamente, como reitora do processo de formação do povo brasileiro. Somos, tal qual somos, pela forma
que ela imprimiu em nós, ao nos configurar, segundo correspondia a sua cultura e a seus interesses. Inclusive, reduzindo o que
seria o povo brasileiro, como entidade cívica e política, a uma oferta de mão-de-obra servil. Foi sempre nada menos que
prodigiosa a capacidade dessa classe dominante para recrutar, desfazer e reformar gentes aos milhões. Isso foi feito no curso
de um empreendimento econômico secular, o mais próspero de seu tempo, em que o objetivo jamais foi criar um povo
autônomo, mas cujo resultado principal foi fazer surgir como entidade étnica e configuração cultural um povo novo,
destribalizando índios, desafricanizando negros e deseuropeizando brancos. Ao desgarrá-los de suas matrizes, para cruzá-los
racialmente e transfigurá-los culturalmente, o que se estava fazendo era gestar a nós brasileiros tal qual fomos e somos em
essência. Uma classe dominante de caráter consular-gerencial, socialmente irresponsável, frente a um povo-massa tratado
como escravaria, que produz o que não consome e só se exerce culturalmente como uma marginália, fora da civilização letrada
em que está imerso.
(RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1995. p.178-179.)
Levando em consideração a hipótese do autor, em relação à formação da sociedade brasileira, às dinâmicas sociais e
às formas de dominação, é correto afirmar:
Considere o seguinte excerto da obra O povo brasileiro, do antropólogo Darcy Ribeiro:
A classe dominante empresarial-burocrático-eclesiástica, embora exercendo-se como agente de sua própria prosperidade, atuou também, subsidiariamente, como reitora do processo de formação do povo brasileiro. Somos, tal qual somos, pela forma que ela imprimiu em nós, ao nos configurar, segundo correspondia a sua cultura e a seus interesses. Inclusive, reduzindo o que seria o povo brasileiro, como entidade cívica e política, a uma oferta de mão-de-obra servil. Foi sempre nada menos que prodigiosa a capacidade dessa classe dominante para recrutar, desfazer e reformar gentes aos milhões. Isso foi feito no curso de um empreendimento econômico secular, o mais próspero de seu tempo, em que o objetivo jamais foi criar um povo autônomo, mas cujo resultado principal foi fazer surgir como entidade étnica e configuração cultural um povo novo, destribalizando índios, desafricanizando negros e deseuropeizando brancos. Ao desgarrá-los de suas matrizes, para cruzá-los racialmente e transfigurá-los culturalmente, o que se estava fazendo era gestar a nós brasileiros tal qual fomos e somos em essência. Uma classe dominante de caráter consular-gerencial, socialmente irresponsável, frente a um povo-massa tratado como escravaria, que produz o que não consome e só se exerce culturalmente como uma marginália, fora da civilização letrada em que está imerso.
(RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Cia das Letras, 1995. p.178-179.)
Levando em consideração a hipótese do autor, em relação à formação da sociedade brasileira, às dinâmicas sociais e
às formas de dominação, é correto afirmar:
Considere o seguinte excerto do texto intitulado Adolescência em Samoa, da antropóloga Margaret Mead:
Nas partes mais remotas do mundo, sob condições históricas muito diferentes daquelas que fizeram Grécia e Roma florescer
e declinar, grupos de seres humanos desenvolveram padrões de vida tão diferentes dos nossos que não podemos arriscar a
conjectura de que iriam chegar algum dia às nossas próprias soluções. Cada povo primitivo escolheu um conjunto de valores
humanos e moldou para si mesmo uma arte, uma organização social, uma religião, que são sua contribuição singular para a
história do espírito humano. Samoa é apenas um desses padrões diversos e graciosos, mas, assim como viajante que um dia
se afastou de casa é mais sábio que o homem que nunca foi além da soleira da própria porta, o conhecimento de outra cultura
deveria aguçar nossa capacidade de esquadrinhar com mais sobriedade, de apreciar mais amorosamente, a nossa própria
cultura.
(MEAD, Margaret. Adolescência em Samoa. In: CASTRO, Celso (org.). Cultura e personalidade: Ruth Benedict, Margaret Mead e Edward Sapir. Rio de
Janeiro: Zahar, 2015, p. 28.)
A partir dessa consideração feita pela autora, é correto afirmar:
O filósofo Gérard Lebrun, em seu livro intitulado O que é o poder, discorre sobre diferentes abordagens do conceito
de poder. Na apresentação da obra, tece considerações sobre o binômio poder/dominação, tendo como referência a
obra de Michel Foucault. Escreve Lebrun:
Quando a questão é compreender como foi e continua sendo possível a resignação, quase ilimitada, dos homens perante os
excessos do poder, não basta invocar as disciplinas e as mil fórmulas de adestramento que, como mostra Foucault, são achados
relativamente recentes da modernidade. Sua origem e seu sucesso talvez se devam a um sentimento atávico dos deserdados,
de serem por natureza excluídos do poder, estranhos a este - talvez derivem da convicção de que opor-se a ele seria loucura
comparável a opor-se aos fenômenos atmosféricos. Ainda que o poder não seja uma coisa, ele se torna uma, pois é assim que
a maioria dos homens o representa. É preciso situar a tese de Foucault dentro de seus devidos limites: o homem condicionado,
adestrado pelos poderes, é o privilegiado, o europeu. Não é o colonizado, não é o proletário do Terceiro Mundo (assim como
não era o proletário europeu do século XIX). Estes, o poder não pensa sequer em domesticar: domina-os - e muito de cima.
(LEBRUN, Gérard. O que é poder. São Paulo: Brasiliense, 2004, p. 08.)
Com base na reflexão desenvolvida por Lebrun, é correto afirmar que:
Em 1848, Karl Marx e Friedrich Engels publicaram o Manifesto Comunista. Segundo seus autores, “a burguesia desempenhou na
História um papel iminentemente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu as relações feudais,
patriarcais e idílicas. Rasgou todos os complexos e variados laços que prendiam ao homem feudal e seus superiores naturais, para
só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse. [...] Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca;
substituiu as numerosas liberdades, conquistadas duramente, por uma única liberdade sem escrúpulos: a do comércio. Em uma
palavra, em lugar da exploração dissimulada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, direta,
despudorada e brutal. [...] Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado e os homens
são obrigados finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas relações com outros homens”.
(MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 2001, p. 42-43.)
Com base nessa passagem de O Manifesto Comunista, assinale a alternativa correta.
Em 1848, Karl Marx e Friedrich Engels publicaram o Manifesto Comunista. Segundo seus autores, “a burguesia desempenhou na História um papel iminentemente revolucionário. Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia destruiu as relações feudais, patriarcais e idílicas. Rasgou todos os complexos e variados laços que prendiam ao homem feudal e seus superiores naturais, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse. [...] Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas duramente, por uma única liberdade sem escrúpulos: a do comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração dissimulada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, direta, despudorada e brutal. [...] Tudo o que era sólido e estável se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado e os homens são obrigados finalmente a encarar sem ilusões a sua posição social e as suas relações com outros homens”.
(MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O manifesto comunista. São Paulo: Boitempo, 2001, p. 42-43.)
Com base nessa passagem de O Manifesto Comunista, assinale a alternativa correta.
No livro Mulheres, raça e classe, Angela Davis perfaz um caminho histórico e social da luta das mulheres nos Estados Unidos e
como diferentes movimentos e campanhas possibilitaram a construção dos direitos e das pautas políticas de gênero naquele país.
Numa das passagens da obra, em que aborda as campanhas pelo direito ao aborto, Davis afirma que “o controle de natalidade –
escolha individual, métodos contraceptivos seguros, bem como abortos, quando necessário – é um pré-requisito fundamental para
a emancipação das mulheres. [...] E se a campanha pelo direito ao aborto do início dos anos 1970 precisava ser lembrada de que
mulheres de minorias étnicas queriam desesperadamente escapar dos charlatões de fundo de quintal, também deveria ter percebido
que essas mesmas mulheres não estavam dispostas a expressar sentimentos pró-aborto. Elas eram a favor do direito ao aborto, o
que não significava que fossem defensoras do aborto. Quando números tão grandes de mulheres negras e latinas recorrem a
abortos, as histórias que relatam não são tanto sobre o desejo de ficar livres da gravidez, mas sobre as condições sociais miseráveis
que as levam a desistir de trazer novas vidas ao mundo”.
(DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016, p. 219-220.)
Com base no texto, é correto concluir que:
No livro Mulheres, raça e classe, Angela Davis perfaz um caminho histórico e social da luta das mulheres nos Estados Unidos e como diferentes movimentos e campanhas possibilitaram a construção dos direitos e das pautas políticas de gênero naquele país. Numa das passagens da obra, em que aborda as campanhas pelo direito ao aborto, Davis afirma que “o controle de natalidade – escolha individual, métodos contraceptivos seguros, bem como abortos, quando necessário – é um pré-requisito fundamental para a emancipação das mulheres. [...] E se a campanha pelo direito ao aborto do início dos anos 1970 precisava ser lembrada de que mulheres de minorias étnicas queriam desesperadamente escapar dos charlatões de fundo de quintal, também deveria ter percebido que essas mesmas mulheres não estavam dispostas a expressar sentimentos pró-aborto. Elas eram a favor do direito ao aborto, o que não significava que fossem defensoras do aborto. Quando números tão grandes de mulheres negras e latinas recorrem a abortos, as histórias que relatam não são tanto sobre o desejo de ficar livres da gravidez, mas sobre as condições sociais miseráveis que as levam a desistir de trazer novas vidas ao mundo”.
(DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016, p. 219-220.)
Com base no texto, é correto concluir que:
Sobre a questão do etnocentrismo, Roque de Barros Laraia escreve que “o fato de o indivíduo ver o mundo através de sua cultura
tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada
etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. O etnocentrismo, de fato, é
um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo sua única expressão.
[...] A dicotomia ‘nós e os outros’ expressa em níveis diferentes essa tendência. Dentro de uma mesma sociedade, a divisão ocorre
sob a mesma forma de parentes e não parentes. Os primeiros são melhores por definição e recebem um tratamento diferenciado.
[...] Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas
de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais”.
(LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 73-74.)
Em resumo, Laraia tenta nos mostrar que:
Sobre a questão do etnocentrismo, Roque de Barros Laraia escreve que “o fato de o indivíduo ver o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais. O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo sua única expressão. [...] A dicotomia ‘nós e os outros’ expressa em níveis diferentes essa tendência. Dentro de uma mesma sociedade, a divisão ocorre sob a mesma forma de parentes e não parentes. Os primeiros são melhores por definição e recebem um tratamento diferenciado. [...] Comportamentos etnocêntricos resultam também em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais”.
(LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 73-74.)
Em resumo, Laraia tenta nos mostrar que: