Questõesde USP sobre Português

1
1
Foram encontradas 214 questões
df51337f-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Rubião fitava a enseada, - eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas em verdade vos digo que pensava em outra coisa. Cotejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora! Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.

- Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas, pensa ele. Se mana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...

Machado de Assis, Quincas Borba.


O primeiro capítulo de Quincas Borba já apresenta ao leitor um elemento que será fundamental na construção do romance:

A
a contemplação das paisagens naturais, como se lê em "ele admirava aquele pedaço de água quieta".
B
a presença de um narrador-personagem, como se lê em "em verdade vos digo que pensava em outra coisa".
C
a sobriedade do protagonista ao avaliar o seu percurso, como se lê em "Cotejava o passado com o presente".
D
o sentido místico e fatalista que rege os destinos, como se lê em "Deus escreve direito por linhas tortas".
E
a reversibilidade entre o cômico e o trágico, como se lê em "de modo que o que parecia uma desgraça...".
df4e3a3e-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Na cena apresentada, que explora o desconforto gerado pela difícil interlocução com o indígena, o narrador

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: "Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina, tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

A
abandona a ideia de investigar o passado, ao se ver encurralado por Leusipo.
B
explora a sua posição ameaçadora de homem branco, ao insistir em permanecer na aldeia.
C
age com ousadia, ao procurar subjugar Leusipo a contribuir com o seu projeto.
D
identifica-se com a sabedoria de Leusipo, ao preterir do papel interrogativo e se deixar questionar.
E
sente-se frustrado com a reação de Leusipo, que não se deixa levar por sua diplomacia.
df4ae0e6-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

As respostas do narrador às perguntas de Leusipo são uma tentativa de disfarçar o caráter

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: "Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina, tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

A
fabular do romance, inspirado nas lendas e tradições dos Krahô.
B
investigativo do romance, embasado em testemunhos dos Krahô.
C
político do romance, a respeito das condições de vida dos Krahô.
D
etnográfico do romance, através do registro da cultura dos Krahô.
E
biográfico do romance, relatando sua vivência junto aos Krahô.
df47baf4-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Homonímia, Paronímia, Sinonímia e Antonímia

Sem prejuízo de sentido e fazendo as adaptações necessárias, é possível substituir as expressões em destaque no texto, respectivamente, por

Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingênuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convencê-lo de que não havia motivo para preocupação. Tudo o que eu queria saber já era conhecido. E ele me perguntava: "Então, por que você quer saber, se já sabe?" Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de ficção (e mostrava o que tinha nas mãos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequência na realidade. Ele seguia incrédulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade só queria me intimidar. As minhas explicações sobre o romance eram inúteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que não acreditam em deuses, a ficção servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos índios, e antes mesmo de terminar a frase, já não sabia se o idiota era ele ou eu. Ele não dizia nada a não ser: "O que você quer com o passado?". Repetia. E, diante da sua insistência bovina, tive de me render à evidência de que eu não sabia responder à sua pergunta.

Bernardo Carvalho, Nove noites. Adaptado.

A
incompreensão; armação; inofensivo; irredutível.
B
altivez; brincadeira; ofendido; mansa.
C
ignorância; mentira; prejudicado; alienada.
D
complacência; invenção; bobo; cega.
E
arrogância; entretenimento; incapaz; animalesca.
df4146e5-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Alferes, Ouro Preto em sombras

Espera pelo batizado,

Ainda que tarde sobre a morte do sonhador

Ainda que tarde sobre as bocas do traidor.

Raios de sol brilharão nos sinos:

Dez vias dar.


Ai Marilia, as liras e o amor

Não posso mais sufocar

E a minha voz irá

Pra muito além do desterro e do sal,

Maior que a voz do rei.

Aldir Blanc e João Bosco, trecho da canção "Alferes", de 1973.


A imagem deTiradentes-a quem Cecília Meireles qualificou "o Alferes imortal, radiosa expressão dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do próprio mundo", em palestra feita em Ouro Preto - torna a aparecer como símbolo da luta pela liberdade em vários momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blanc evocam, em novo contexto, o mártir sonhador para resistir ao discurso

A
da doutrina revolucionária de ligas politicamente engajadas.
B
da historiografia, que minimizou a importância de Tiradentes.
C
de autoritarismo e opressão, próprio da ditadura militar.
D
dos poetas árcades, que se dedicavam às suas liras amorosas.
E
da tirania portuguesa sobre os mineradores no ciclo do ouro.
df443ed4-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

I


- Traíste-me, Sem Medo. Tu traíste-me.

( ...)

Sabes o que tu és afinal, Sem Medo? És um ciumento. Chego a pensar se não és homossexual. Tu querias-me só, como tu. Um solitário do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...) Nunca me verás atrás de uma garrafa vazia. (...) Cada sucesso que eu tiver, será a paga da tua bofetada, pois não serei um falhado como tu.

Pepetela, Mayombe. Adaptado.


II

- Peço-te perdão, Sem Medo. Não te compreendí, fui um imbecil. E quis igualar o inigualável.

Pepetela, Mayombe.


Esses excertos de Mayombe referem-se a conversas entre as personagens Comissário e Sem Medo em momentos distintos do romance. Em I e II, as falas do Comissário revelam, respectivamente,

A
incompatibilidade étnica entre ele e Sem Medo, por pertencerem a linhagens diferentes, e superação de sua hostilidade tribal.
B
decepção, por Sem Medo não ter intercedido a seu favor na conversa com Ondina, e desespero diante do companheiro baleado.
C
suspeita de traição de Ondina e tomada de consciência de que isso não passara de uma crise de ciúme dele.
D
forte tensão homoafetiva entre ele e Sem Medo, e aceitação da verdadeira orientação sexual do companheiro.
E
ira, diante do anticatolicismo de Sem Medo, e culpa que o atinge ao perceber que sua demonstração de coragem colocara o companheiro em risco.
df3db253-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A "estranha potência" que a voz lírica ressalta nas palavras decorre de uma combinação entre

Romance LIII ou Das Palavras Aéreas


Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Ai, palavras, ai, palavras,

sois de vento, ides no vento,

no vento que não retorna,

e, em tão rápida existência,

tudo se forma e transforma!


Sois de vento, ides no vento,

e quedais, com sorte nova! (...)


Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Perdão podieis ter sido!

- sois madeira que se corta,

- sois vinte degraus de escada,

- sois um pedaço de corda...

- sois povo pelas janelas,

cortejo, bandeiras, tropa...


Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Éreis um sopro na aragem...

- sois um homem que se enforca!

Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência

A
fluidez nos ventos do presente e conteúdo fixo no passado.
B
forma abstrata no espaço e presença concreta na história.
C
leveza impalpável na arte e vigor nos documentos antigos.
D
sonoridade ruidosa nos ares e significado estável no papel.
E
lirismo irrefletido da poesia e peso justo dos acontecimentos.
df3503b1-7b
USP 2021 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

- Posso furar os olhos do povo?

Esta frase besta foi repetida muitas vezes e, em falta de coisa melhor, aceitei-a. Sem dúvida. As mulheres hoje não vivem como antigamente, escondidas, evitando os homens. Tudo é descoberto, cara a cara. Uma pessoa topa outra. Se gostou, gostou; se não gostou, até logo. E eu de fato não tinha visto nada. As aparências mentem. A terra não é redonda? Esta prova da inocência de Marina me pareceu considerável. Tantos indivíduos condenados injustamente neste mundo ruim! O retirante que fora encontrado violando afilha de quatro anos - estava ai um exemplo. As vizinhas tinham visto o homem afastando as pernas da menina, todo o mundo pensava que ele era um monstro. Engano. Quem pode lá jurar que isto é assim ou assado? Procurei mesmo capacitar-me de que Julião Tavares não existia. Julião Tavares era uma sensação. Uma sensação desagradável, que eu pretendia afastar de minha casa quando me juntasse àquela sensação agradável que ali estava a choramingar.

Graciliano Ramos, Angústia.


Em termos críticos, esse fragmento permite observar que, no plano maior do romance Angústia, o ponto de vista

A
se acomoda nos limites da vulgaridade.
B
tenta imitar a retórica dos dominantes.
C
reproduz a lógica do determinismo social.
D
atinge a neutralidade do espírito maduro.
E
revira os lados contrários da opinião.
df3aa985-7b
USP 2021 - Português - Flexão verbal de número (singular, plural), Flexão verbal de pessoa (1ª, 2ª, 3ª pessoa), Morfologia - Verbos, Sintaxe, Concordância verbal, Concordância nominal

Ao substituir a pessoa verbal utilizada para se referir ao substantivo "palavras" pela 3ª pessoa do plural, os verbos dos versos "sois de vento, ides no vento," (v. 4) / "Perdão podieis ter sido!" (v. 12) / "Éreis um sopro na aragem..." (v. 20) seriam conjugados conforme apresentado na alternativa:

Romance LIII ou Das Palavras Aéreas


Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Ai, palavras, ai, palavras,

sois de vento, ides no vento,

no vento que não retorna,

e, em tão rápida existência,

tudo se forma e transforma!


Sois de vento, ides no vento,

e quedais, com sorte nova! (...)


Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Perdão podieis ter sido!

- sois madeira que se corta,

- sois vinte degraus de escada,

- sois um pedaço de corda...

- sois povo pelas janelas,

cortejo, bandeiras, tropa...


Ai, palavras, ai, palavras,

que estranha potência, a vossa!

Éreis um sopro na aragem...

- sois um homem que se enforca!

Cecília Meireles, Romanceiro da Inconfidência

A
são, vão, podiam, eram.
B
seriam, iriam, podiam, serão.
C
eram, foram, poderiam, seriam.
D
são, vão, poderiam, eram.
E
eram, iriam, podiam, seriam.
df37a4dd-7b
USP 2021 - Português - Formação das Palavras: Composição, Derivação, Hibridismo, Onomatopeia e Abreviação, Morfologia

Terça é dia de Veneza revelar as atrações de seu festival anual, cuja 77ª edição começa no dia 2 de setembro, com a dramédia "Lacei", do romano Daniele Luchetti, seguindo até 12/9, com 50 produções internacionais e uma expectativa (extraoficial) de colocar "West Side Story", de Steven Spielberg, na ribalta.

Rodrigo Fonseca. "À espera dos rugidos de Veneza".

O Estado de S. Paulo. Julho/2020. Adaptado.


Um processo de formação de palavras em língua portuguesa é o cruzamento vocabular, em que são misturadas pelo menos duas palavras na formação de uma terceira. A força expressiva dessa nova palavra resulta da síntese de significados e do inesperado da combinação, como é o caso de "dramédia" no texto. Ocorre esse mesmo tipo de formação em

A
"deleitura" e "namorido".
B
"passatempo" e "microvestido".
C
"hidrelétrica" e "sabiamente".
D
"arenista" e "girassol".
E
"planalto" e "multicor".
df2b06c2-7b
USP 2021 - Português - Análise sintática, Sintaxe

No fragmento "ao tropeçar, cravava sua própria adaga no peito." (L. 8-9), a oração em negrito abrange, simultaneamente, as noções de

A
proporção e explicação.
B
causa e proporção.
C
tempo e consequência.
D
explicação e consequência.
E
tempo e causa.
df2e1cf1-7b
USP 2021 - Português - Pontuação, Uso da Vírgula

As vírgulas em "E depois, o silêncio." (L. 1) e em "Mas seu rosto continua sorrindo, para sempre." (L. 2-3) são usadas, respectivamente, com a mesma finalidade que as vírgulas em

A
"Após a queda, tomaram mais cuidado." e "Quanto mais espaço, mais liberdade.".
B
"Aos estrangeiros, ofereceram iguarias." e "Limpavam a casa, e preparávamos as refeições.".
C
"Colheram trigo e nós, algodão." e "Eles se encontraram nas férias, mas não viajaram.".
D
"Para meus amigos, o melhor." e "Organizava tudo, cautelosamente.".
E
"Viu o espetáculo, considerado o maior fenômeno de bilheteria." e "'Conheço muito bem', afirmou o rapaz.".
df30eea6-7b
USP 2021 - Português - Funções morfossintáticas da palavra QUE, Análise sintática, Sintaxe

Em "Seu carisma seduziu a editora DC Comics, que impôs o acréscimo de um quadrinho." (L. 12-13), o vocábulo "que" possui a mesma função sintática desempenhada no texto por

A
"imóvel" (L. 2).
B
"Robin" (L. 5).
C
"seus pais" (L. 9).
D
"se" (L. 12).
E
"vivo" (L. 15).
0dbf28ff-99
USP 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

O autor expressa preocupação com o fato de que as soluções para o problema apontado passam por um esforço multinacional, em face ao crescente número de governos isolacionistas, porque

TEXTO PARA A QUESTÃO

    Óbitos por cepas de bactérias resistentes a antibióticos vêm crescendo. Um estudo do governo britânico estima que, em escala global, os óbitos por cepas resistentes já cheguem a 700 mil por ano. E as coisas têm piorado. Além das bactérias, já estão surgindo fungos resistentes, como a Candida auris.
    Qualquer solução passa por um esforço multinacional de ações coordenadas. O crescente número de governos isolacionistas e até antidarwinistas não dá razões para otimismo. Há urgência. O estudo britânico calcula que, se nada for feito, em 2050, as mortes por infecções resistentes chegarão a 10 milhões ao ano.
Hélio Schwartsman, “Mortes anunciadas”. Folha de São Paulo, Abril/2019.
Adaptado. 
A
áreas de menor índice de desenvolvimento socioeconômico são as únicas atingidas devido à falta de recursos empregados em saúde e educação.
B
as cepas resistentes surgem exclusivamente nos países que se negam a aderir a acordos sanitários comuns, constituindo ameaças globais.
C
desafios atuais em meio ambiente e saúde são globais e soluções dependem da adesão de cada país aos protocolos internacionais.
D
o comércio internacional é o principal responsável por espalhar doenças nesses países, tornando‐os vulneráveis, apesar de os programas de vacinação terem alcance mundial.
E
a pesquisa nesta área é de âmbito nacional e, portanto, novas drogas não terão alcance mundial, mas apenas regional.
0db2de5f-99
USP 2019 - Português - Interpretação de Textos, Uso dos conectivos, Coesão e coerência, Sintaxe, Redação - Reescritura de texto

Considerando o contexto, o trecho “E não se pense que este nome a alegrou, posto que a lisonjeasse” (L.10‐11) pode ser reescrito,sem prejuízo de sentido, da seguinte maneira: E não se pense que este nome a alegrou,

TEXTO PARA A QUESTÃO

Machado de Assis, Quincas Borba.
A
apesar de lisonjeá‐la.
B
antes a lisonjeou.
C
porque a lisonjeava.
D
a fim de lisonjeá‐la.
E
tanto quanto a lisonjeava.
0dad78b9-99
USP 2019 - Português - Interpretação de Textos, Intertextualidade, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

No excerto, o autor recorre à intertextualidade, dialogando com a comédia de Molière, Tartufo (1664), cuja personagem central é um impostor da fé. Tal é a fama da peça que o nome próprio se incorporou ao vocabulário, inclusive em português, como substantivo comum, para designar o “indivíduo hipócrita” ou o “falso devoto”. No contexto maior do romance, sugere‐se que a tartufice

TEXTO PARA A QUESTÃO

Machado de Assis, Quincas Borba.
A
se cola à imagem da leitora, indiscreta quanto aos amores alheios.
B
é ação isolada de Sofia, arrivista social e benemérita fingida.
C
diz respeito ao filósofo Quincas Borba, o que explica o título do livro.
D
se produz na imprensa, apesar de esta se esquivar da eloquência vazia.
E
se estende à sociedade, na qual o cinismo é o trunfo dos fortes.
0db6af48-99
USP 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Hoje fizeram o enterro de Bela. Todos na Chácara se convenceram de que ela estava morta, menos eu. Se eu pudesse não deixaria enterrá‐la ainda. Disse isso mesmo a vovó, mas ela disse que não se pode fazer assim. Bela estava igualzinha à que ela era no dia em que chegou da Formação, só um pouquinho mais magra.
Todos dizem que o sofrimento da morte é a luta da alma para se largar do corpo. Eu perguntei a vovó: “Como é que a alma dela saiu sem o menor sofrimento, sem ela fazer uma caretinha que fosse?”. Vovó disse que tudo isso é mistério, que nunca a gente pode saber essas coisas com certeza. Uns sofrem muito quando a alma se despega do corpo, outros morrem de repente sem sofrer.
Helena Morley, Minha Vida de Menina.

Perguntas

Numa incerta hora fria
perguntei ao fantasma
que força nos prendia,
ele a mim, que presumo
estar livre de tudo eu a ele, gasoso,
(...)

No voo que desfere
silente e melancólico,
rumo da eternidade,
ele apenas responde
(se acaso é responder
a mistérios, somar‐lhes
um mistério mais alto):

Amar, depois de perder.
Carlos Drummond de Andrade, Claro Enigma.

As perguntas da menina e do poeta versam sobre a morte. É correto afirmar que

A
ambos guardam uma dimensão transcendente e católica, de origem mineira.
B
ambos ouvem respostas que lhes esclarecem em definitivo as dúvidas existenciais.
C
a menina mostra curiosidade acerca da morte como episódio e o poeta especula o sentido filosófico da morte.
D
a menina está inquieta por conhecer o destino das almas, enquanto o poeta critica o ceticismo.
E
as duas respostas reforçam os mistérios da vida ao acolherem crenças populares.
0dbb94be-99
USP 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

A certa personagem desvanecida

Um soneto começo em vosso gabo*:
Contemos esta regra por primeira,
Já lá vão duas, e esta é a terceira,
Já este quartetinho está no cabo.

Na quinta torce agora a porca o rabo;
A sexta vá também desta maneira:
Na sétima entro já com grã** canseira,
E saio dos quartetos muito brabo.

Agora nos tercetos que direi?
Direi que vós, Senhor, a mim me honrais
Gabando‐vos a vós, e eu fico um rei.

Nesta vida um soneto já ditei;
Se desta agora escapo, nunca mais:
Louvado seja Deus, que o acabei.
Gregório de Matos

*louvor **grande

Tipo zero

Você é um tipo que não tem tipo
Com todo tipo você se parece
E sendo um tipo que assimila tanto tipo
Passou a ser um tipo que ninguém esquece

Quando você penetra num salão
E se mistura com a multidão
Você se torna um tipo destacado
Desconfiado todo mundo fica
Que o seu tipo não se classifica
Você passa a ser um tipo desclassificado

Eu até hoje nunca vi nenhum
Tipo vulgar tão fora do comum
Que fosse um tipo tão observado
Você ficou agora convencido
Que o seu tipo já está batido
Mas o seu tipo é o tipo do tipo esgotado
Noel Rosa

O soneto de Gregório de Matos e o samba de Noel Rosa, embora distantes na forma e no tempo, aproximam‐se por ironizarem

A
o processo de composição do texto.
B
a própria inferioridade ante o retratado.
C
a singularidade de um caráter nulo.
D
o sublime que se oculta na vulgaridade.
E
a intolerância para com os gênios.
0da3993c-99
USP 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Agora, o Manuel Fulô, este,sim! Um sujeito pingadinho, quase menino – “pepino que encorujou desde pequeno” – cara de bobo de fazenda, do segundo tipo –; porque toda fazenda tem o seu bobo, que é, ou um velhote baixote, de barba rara no queixo, ou um eterno rapazola, meio surdo, gago, glabro* e alvar**. Mas gostava de fechar a cara e roncar voz, todo enfarruscado, para mostrar brabeza, e só por descuido sorria, um sorriso manhoso de dono de hotel. E, em suas feições de caburé*** insalubre, amigavam‐se as marcas do sangue aimoré e do gálico herdado: cabelo preto, corrido, que boi lambeu; dentes de fio em meia‐lua; malares pontudos; lobo da orelha aderente; testa curta, fugidia; olhinhos de viés e nariz peba, mongol.
Guimarães Rosa, “Corpo fechado”, de Sagarana.

*sem pelos, sem barba **tolo ***mestiço

O retrato de Manuel Fulô, tal como aparece no fragmento, permite afirmar que

A
há clara antipatia do narrador para com a personagem, que por isso é caracterizada como “bobo de fazenda”.
B
estão presentes traços de diferentes etnias, de modo a refletir a mescla de culturas própria ao estilo do livro.
C
a expressão “caburé insalubre” denota o determinismo biológico que norteia o livro.
D
é irônico o trecho “para mostrar brabeza”, pois ao fim da narrativa Manuel Fulô sofre derrota na luta física.
E
se apontam em sua fisionomia os “olhinhos de viés” para caracterizar a personagem como ingênua.
0da7c7f9-99
USP 2019 - Português - Interpretação de Textos, Noções Gerais de Compreensão e Interpretação de Texto

Djamila Ribeiro, Quem tem medo do feminismo negro?.

O trecho que melhor define a “incompreensão fundamental” (L.6) referida pela autora é:

A
“não que eu buscasse respostas para tudo” (L.6‐7).
B
“não tinha consciência de mim” (L.8).
C
“Por que eu ficava isolada na hora do recreio” (L.10‐11).
D
“me esforçando para não ser notada” (L.15).
E
“sentia vergonha de levantar a mão” (L.8‐9).