Quanto aos interlocutores do texto em análise pode-se
afirmar que:
Quanto aos interlocutores do texto em análise pode-se
afirmar que:
Vida pós-Zika
Com ajuda de mães, estudo descobre imunidade após
contato com o vírus.
Um estudo feito em parceria com 50 mães que tiveram
Zika durante a gravidez concluiu que a maior parte delas —
e de seus filhos — desenvolveu imunidade ao vírus. A
descoberta, feita por pesquisadores da Fiocruz e do Hospital
Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal
Fluminense, será apresentada hoje às mães.
As mulheres, que participam da pesquisa voluntariamente, tiveram a infecção durante a gestação e são
acompanhadas desde 2016, ao lado de seus filhos. Alguns
deles nasceram com a síndrome da Zika Congênita,
caracterizada principalmente pela microcefalia; outros têm
alterações neurológicas, embora não possuam a síndrome; e
o último grupo é assintomático.
No Hospital Antônio Pedro, 36 profissionais fazem o
acompanhamento clínico em que avaliam e estimulam o
desenvolvimento das crianças, moradoras de Niterói, São
Gonçalo, Maricá e Itaboraí. Ali, coletam o sangue que é
estudado por 22 cientistas da Fiocruz. Há três principais
linhas de pesquisa, sendo a de maior impacto para a
população a que resultou na descoberta sobre a imunidade.
Segundo Luzia Maria de Oliveira Pinto, pesquisadora do
Laboratório de Imunologia Viral do Instituto Oswaldo Cruz,
que coordena os estudos, os dados finais ainda estão sendo
concluídos, mas já se pode cravar que a maioria das pessoas
pesquisadas desenvolveu, sim, imunidade ao vírus.
Outros dois estudos estão sendo finalizados: um avalia
se a intensidade da resposta inflamatória do organismo para
combater o vírus na gravidez tem impacto no desfecho
clínico do bebê; e o outro verifica se as células podem
produzir proteínas e anticorpos contra o vírus.
— Sem essas mães não conseguiríamos fazer as
pesquisas. A consequência da infecção já aconteceu. Por isso
é um ato que não vai ajudá-las diretamente, mas pode
ajudar outras famílias, até porque podem ocorrer novas
epidemias — enfatiza a pesquisadora.
Mesmo sem poder se beneficiar diretamente do
impacto das pesquisas, nenhuma mãe atendida pelo Hospital
Antônio Pedro se recusou a colaborar com os cientistas.
— Por isso quisemos dar uma resposta a elas, mostrar:
“olha como vocês contribuíram para a ciência”. A maioria
dessas mães era produtiva, tinha emprego, e tudo mudou
completamente. A vida delas é dedicada às crianças. Levam
os filhos de duas a três vezes por semana para estimulação
com fisioterapia, psicologia, fonoaudióloga… São lutadoras
— afirma a coordenadora do projeto, Claudete Araújo
Cardoso, infectologista pediátrica da Faculdade de Medicina
da UFF.
A pesquisadora conta ainda que pretende acompanhar
os casos até os bebês crescerem:
— Essas crianças vão ter que continuar sendo
estimuladas. Como protocolo de pesquisa, o Ministério da Saúde orienta acompanhá-las por três anos, e decidimos
acompanhar por cinco. Mas vou acompanhá-las até virarem
adultas.
Na mesma semana em que descobriu que estava
grávida, manchas vermelhas apareceram no corpo de Kamila
Mitidieri, de 23 anos. Era Zika. Sophia nasceu com a síndrome.
Agora tem 2 anos e 9 meses e faz fisioterapia motora e
respiratória e frequenta a fonoaudióloga.
— Ela está se desenvolvendo bem melhor. Aprendeu
até a falar “mãe”. Eu sempre soube que ela precisaria de um
cuidado maior do que uma criança que não tem nada. Há
três meses consegui um emprego, mas tive que sair porque
a dona do salão não aceitava que eu levasse minha filha ao
médico.
Apesar das dificuldades do dia a dia, ela não hesita em
ajudar nas pesquisas e enfrenta seus temores:
— Realmente eu odeio tirar sangue, mas toda vez que
me pedem eu tiro. Tenho vontade de ter outro filho, mas
tenho medo.
Logo depois que Elisangela Patricia, de 37 anos, recebeu
o diagnóstico de Zika, descobriu que estava grávida. Na hora,
os médicos disseram que seu filho teria microcefalia, mas não
foi o que aconteceu. Ele nasceu sem sintomas, mas, com o
passar do tempo, alterações foram sendo descobertas.
Samuel Travassos, de 2 anos e 10 meses, tem pequenos cistos
no cérebro, atraso no desenvolvimento e suspeita de
autismo.
— Fico com ele o tempo todo, 24 horas por dia. É
cansativo, não consigo cuidar de mim, tenho pressão alta e
bronquite, mas ele precisa mais que eu. É grudado em mim,
toma meu tempo todo, mas eu sempre participo de tudo. Se
dizem que tem uma pesquisa, eu ajudo, mesmo não
sabendo o que é. Tem que estudar, que pesquisar. Eles
ajudam a gente, e a gente ajuda eles.
(TATSCH, Constança. O Globo. 05 de outubro de 2019.)
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