Questão acff2e11-fa
Prova:FASEH 2019
Disciplina:Português
Assunto:Travessão, Sintaxe, Concordância verbal, Concordância nominal, Pontuação

Em “[...] que a maior parte delas — e de seus filhos — desenvolveu imunidade ao vírus.” (1º§), afirma-se corretamente que:

Vida pós-Zika

Com ajuda de mães, estudo descobre imunidade após
contato com o vírus.

     Um estudo feito em parceria com 50 mães que tiveram Zika durante a gravidez concluiu que a maior parte delas — e de seus filhos — desenvolveu imunidade ao vírus. A descoberta, feita por pesquisadores da Fiocruz e do Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense, será apresentada hoje às mães.
     As mulheres, que participam da pesquisa voluntariamente, tiveram a infecção durante a gestação e são acompanhadas desde 2016, ao lado de seus filhos. Alguns deles nasceram com a síndrome da Zika Congênita, caracterizada principalmente pela microcefalia; outros têm alterações neurológicas, embora não possuam a síndrome; e o último grupo é assintomático.
    No Hospital Antônio Pedro, 36 profissionais fazem o acompanhamento clínico em que avaliam e estimulam o desenvolvimento das crianças, moradoras de Niterói, São Gonçalo, Maricá e Itaboraí. Ali, coletam o sangue que é estudado por 22 cientistas da Fiocruz. Há três principais linhas de pesquisa, sendo a de maior impacto para a população a que resultou na descoberta sobre a imunidade.
    Segundo Luzia Maria de Oliveira Pinto, pesquisadora do Laboratório de Imunologia Viral do Instituto Oswaldo Cruz, que coordena os estudos, os dados finais ainda estão sendo concluídos, mas já se pode cravar que a maioria das pessoas pesquisadas desenvolveu, sim, imunidade ao vírus.
   Outros dois estudos estão sendo finalizados: um avalia se a intensidade da resposta inflamatória do organismo para combater o vírus na gravidez tem impacto no desfecho clínico do bebê; e o outro verifica se as células podem produzir proteínas e anticorpos contra o vírus.
    — Sem essas mães não conseguiríamos fazer as pesquisas. A consequência da infecção já aconteceu. Por isso é um ato que não vai ajudá-las diretamente, mas pode ajudar outras famílias, até porque podem ocorrer novas epidemias — enfatiza a pesquisadora.
   Mesmo sem poder se beneficiar diretamente do impacto das pesquisas, nenhuma mãe atendida pelo Hospital Antônio Pedro se recusou a colaborar com os cientistas.
   — Por isso quisemos dar uma resposta a elas, mostrar: “olha como vocês contribuíram para a ciência”. A maioria dessas mães era produtiva, tinha emprego, e tudo mudou completamente. A vida delas é dedicada às crianças. Levam os filhos de duas a três vezes por semana para estimulação com fisioterapia, psicologia, fonoaudióloga… São lutadoras — afirma a coordenadora do projeto, Claudete Araújo Cardoso, infectologista pediátrica da Faculdade de Medicina da UFF.
    A pesquisadora conta ainda que pretende acompanhar os casos até os bebês crescerem:
   — Essas crianças vão ter que continuar sendo estimuladas. Como protocolo de pesquisa, o Ministério da Saúde orienta acompanhá-las por três anos, e decidimos acompanhar por cinco. Mas vou acompanhá-las até virarem adultas.
  Na mesma semana em que descobriu que estava grávida, manchas vermelhas apareceram no corpo de Kamila Mitidieri, de 23 anos. Era Zika. Sophia nasceu com a síndrome. Agora tem 2 anos e 9 meses e faz fisioterapia motora e respiratória e frequenta a fonoaudióloga.
   — Ela está se desenvolvendo bem melhor. Aprendeu até a falar “mãe”. Eu sempre soube que ela precisaria de um cuidado maior do que uma criança que não tem nada. Há três meses consegui um emprego, mas tive que sair porque a dona do salão não aceitava que eu levasse minha filha ao médico.
   Apesar das dificuldades do dia a dia, ela não hesita em ajudar nas pesquisas e enfrenta seus temores:
   — Realmente eu odeio tirar sangue, mas toda vez que me pedem eu tiro. Tenho vontade de ter outro filho, mas tenho medo.
  Logo depois que Elisangela Patricia, de 37 anos, recebeu o diagnóstico de Zika, descobriu que estava grávida. Na hora, os médicos disseram que seu filho teria microcefalia, mas não foi o que aconteceu. Ele nasceu sem sintomas, mas, com o passar do tempo, alterações foram sendo descobertas. Samuel Travassos, de 2 anos e 10 meses, tem pequenos cistos no cérebro, atraso no desenvolvimento e suspeita de autismo.
   — Fico com ele o tempo todo, 24 horas por dia. É cansativo, não consigo cuidar de mim, tenho pressão alta e bronquite, mas ele precisa mais que eu. É grudado em mim, toma meu tempo todo, mas eu sempre participo de tudo. Se dizem que tem uma pesquisa, eu ajudo, mesmo não sabendo o que é. Tem que estudar, que pesquisar. Eles ajudam a gente, e a gente ajuda eles.
(TATSCH, Constança. O Globo. 05 de outubro de 2019.)

A
A forma verbal empregada demonstra inadequação de acordo com as normas da língua padrão.
B
A concordância verbal empregada tem aspecto obrigatório de acordo com as normas da língua padrão.
C
A opção pela forma verbal utilizada é facultativa admitindo-se o verbo no singular ou no plural.
D
O trecho delimitado por travessões é determinante da concordância obrigatória estabelecida com a forma verbal.

Gabarito comentado

R
Roberta Carvalho Monitor do Qconcursos

Tema central: A questão aborda concordância verbal com expressões partitivas, elemento fundamental da gramática normativa e muito explorado em provas de vestibulares e concursos.

Justificativa da alternativa correta – Letra C

Ao analisar o trecho: “que a maior parte delas — e de seus filhos — desenvolveu imunidade ao vírus.”, temos como sujeito a expressão partitiva “a maior parte delas”. Segundo renomadas gramáticas, como Bechara e Cegalla, quando o sujeito é uma expressão como a maioria de, a maior parte de, parte de seguida de substantivo/plural, o verbo pode concordar:

  • No singular – concordando com o núcleo da expressão partitiva (“a maior parte desenvolveu”).
  • No plural – concordando com o termo posposto no plural (“a maior parte delas desenvolveram”).

Assim, a concordância é facultativa. A alternativa C está correta ao dizer que se admite o verbo tanto no singular quanto no plural.

Análise das alternativas incorretas

A) Incorreta. A forma “desenvolveu” está correta de acordo com a norma-padrão, pois respeita a concordância com o núcleo da expressão partitiva.

B) Incorreta. A concordância não é exclusivamente obrigatória no singular; também é aceita a forma verbal no plural, tornando a concordância facultativa.

D) Incorreta. O trecho entre travessões (“— e de seus filhos —”) funciona como aposto explicativo e não interfere na concordância. O núcleo do sujeito permanece “a maior parte”.

Resumo para provas: Ao se deparar com sujeitos introduzidos por expressões partitivas (maioria de, parte de, etc.), observe o substantivo orientador. Ambas as concordâncias (singular ou plural) são aceitas quando o complemento está no plural.

Autoridade gramatical: Segundo Evanildo Bechara (Moderna Gramática Portuguesa), essa flexibilidade é aceita pela norma culta tradicional e atestada por outros manuais, incluindo o Manual de Redação Presidencial.

Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!

Estatísticas

Aulas sobre o assunto

Questões para exercitar

Artigos relacionados

Dicas de estudo