Questõesde USP sobre Literatura

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USP 2015 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Tal como se encontra caracterizado no excerto, o destino alcançado pela personagem Jacinto contrasta de modo mais completo com a maneira pela qual culmina a trajetória de vida da personagem

            — Pois, Grilo, agora realmente bem podemos dizer que o sr. D. Jacinto está firme.
              O Grilo arredou os óculos para a testa, e levantando para o ar os cinco dedos em curva como pétalas de uma tulipa:
            — Sua Excelência brotou!
            Profundo sempre o digno preto! Sim! Aquele ressequido galho da Cidade, plantado na Serra, pegara, chupara o húmus do torrão herdado, criara seiva, afundara raízes, engrossara de tronco, atirara ramos, rebentara em flores, forte, sereno, ditoso, benéfico, nobre, dando frutos, derramando sombra. E abrigados pela grande árvore, e por ela nutridos, cem casais* em redor o bendiziam. 

                                                                Eça de Queirós, A cidade e as serras.

*casal: pequena propriedade rústica; pequeno povoado
A
Leonardo (filho), de Memórias de um sargento de milícias.
B
Jão Fera, de Til.
C
Brás Cubas, de Memórias póstumas de Brás Cubas.
D
Jerônimo, de O cortiço.
E
Pedro Bala, de Capitães da Areia.
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USP 2015 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

O teor das imagens empregadas no texto para caracterizar a mudança pela qual passara Jacinto indica que a causa principal dessa transformação foi

            — Pois, Grilo, agora realmente bem podemos dizer que o sr. D. Jacinto está firme.
              O Grilo arredou os óculos para a testa, e levantando para o ar os cinco dedos em curva como pétalas de uma tulipa:
            — Sua Excelência brotou!
            Profundo sempre o digno preto! Sim! Aquele ressequido galho da Cidade, plantado na Serra, pegara, chupara o húmus do torrão herdado, criara seiva, afundara raízes, engrossara de tronco, atirara ramos, rebentara em flores, forte, sereno, ditoso, benéfico, nobre, dando frutos, derramando sombra. E abrigados pela grande árvore, e por ela nutridos, cem casais* em redor o bendiziam. 

                                                                Eça de Queirós, A cidade e as serras.

*casal: pequena propriedade rústica; pequeno povoado
A
o retorno a sua terra natal.
B
a conversão religiosa.
C
o trabalho manual na lavoura.
D
a mudança da cidade para o campo.
E
o banimento das inovações tecnológicas.
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USP 2015 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

O livro a que se refere a autora é

Nesse livro, ousadamente, varriam-se de um golpe o sentimentalismo superficial, a fictícia unidade da pessoa humana, as frases piegas, o receio de chocar preconceitos, a concepção do predomínio do amor sobre todas as outras paixões; afirmava se a possibilidade de construir um grande livro sem recorrer à natureza, desdenhava se a cor local; surgiram afinal homens e mulheres, e não brasileiros (no sentido pitoresco) ou gaúchos, ou nortistas, e, finalmente, mas não menos importante, patenteava se a influência inglesa em lugar da francesa.


                           Lúcia Miguel-Pereira, História da Literatura Brasileira -
                                  Prosa de ficção - de 1870 a 1920. Adaptado.
A
Memórias de um sargento de milícias.
B
Til.
C
Memórias póstumas de Brás Cubas.
D
O cortiço.
E
A cidade e as serras.
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USP 2015 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Costuma-se reconhecer que Capitães da Areia pertence ao assim chamado "romance de 1930", que registra importantes transformações pelas quais passava o Modernismo no Brasil, à medida que esse movimento se expandia e diversificava. No excerto, considerado no contexto do livro de que faz parte, constitui marca desse pertencimento

      Omolu espalhara a bexiga na cidade. Era uma vingança contra a cidade dos ricos. Mas os ricos tinham a vacina, que sabia Omolu de vacinas? Era um pobre deus das florestas d' África. Um deus dos negros pobres. Que podia saber de vacinas? Então a bexiga desceu e assolou o povo de Omolu. Tudo que Omolu pôde fazer foi transformar a bexiga de negra em alastrim, bexiga branca e tola. Assim mesmo morrera negro, morrera pobre. Mas Omolu dizia que não fora o alastrim que matara. Fora o lazareto*. Omolu só queria com o alastrim marcar seus filhinhos negros. O lazareto é que os matava. Mas as macumbas pediam que ele levasse a bexiga da cidade, levasse para os ricos latifundiários do sertão. Eles tinham dinheiro, léguas e léguas de terra, mas não sabiam tampouco da vacina. O Omolu diz que vai pro sertão. E os negros, os ogãs, as filhas e pais de santo cantam:
     Ele é mesmo nosso pai
     e é quem pode nos ajudar...
     Omolu promete ir. Mas para que seus filhos negros
não o esqueçam avisa no seu cântico de despedida:
     Ora, adeus, ó meus filhinhos,
     Qu'eu vou e torno a vortá...
     E numa noite que os atabaques batiam nas
macumbas, numa noite de mistério da Bahia, Omolu pulou na máquina da Leste Brasileira e foi para o sertão de Juazeiro. A bexiga foi com ele.

                                                                    Jorge Amado, Capitães da Areia.
*lazareto: estabelecimento para isolamento sanitário de pessoas atingidas por determinadas doenças.

A
o experimentalismo estético, de caráter vanguardista, visível no abundante emprego de neologismos.
B
o tratamento preferencial de realidades bem determinadas, com foco nos problemas sociais nelas envolvidos.
C
a utilização do determinismo geográfico e racial, na interpretação dos fatos narrados.
D
a adoção do primitivismo da "Arte Negra" como modelo formal, à semelhança do que fizera o Cubismo europeu.
E
o uso de recursos próprios dos textos jornalísticos, em especial, a preferência pelo relato imparcial e objetivo.
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USP 2014 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Embora o texto de Drummond e o romance Capitães da Areia, de Jorge Amado, assemelhem-se na sua especial atenção às classes populares, um trecho do texto que NÃO poderia, sem perda de coerência formal e ideológica, ser enunciado pelo narrador do livro de Jorge Amado é, sobretudo, o que está em:

                                     O OPERÁRIO NO MAR


      Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na sua blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar-lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão. Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?


                                                              Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.

A
“Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa.”
B
“Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros (...).”
C
“Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando.”
D
“Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca.”
E
“Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos.”
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USP 2014 - Literatura - Naturalismo, Escolas Literárias

O efeito expressivo do texto – bem como seu pertencimento ao Naturalismo em literatura – baseiam-se amplamente no procedimento de explorar de modo intensivo aspectos biológicos da natureza. Entre esses procedimentos empregados no texto, só NÃO se encontra a

     E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.

     Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.


                                                                                                            Aluísio Azevedo, O cortiço.

A
representação do homem como ser vivo em interação constante com o ambiente.
B
exploração exaustiva dos receptores sensoriais humanos (audição, visão, olfação, gustação), bem como dos receptores mecânicos.
C
figuração variada tanto de plantas quanto de animais, inclusive observados em sua interação.
D
ênfase em processos naturais ligados à reprodução humana e à metamorfose em animais.
E
focalização dos processos de seleção natural como principal força direcionadora do processo evolutivo.
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USP 2014 - Literatura - Naturalismo, Escolas Literárias

Entre as características atribuídas, no texto, à natureza brasileira, sintetizada em Rita Baiana, aquela que corresponde, de modo mais completo, ao teor das transformações que o contato com essa mesma natureza provocará em Jerônimo é a que se expressa em:

     E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.

     Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.


                                                                                                            Aluísio Azevedo, O cortiço.

A
“era o calor vermelho das sestas da fazenda”
B
“era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta”.
C
“era o veneno e era o açúcar gostoso”.
D
“era a cobra verde e traiçoeira”
E
“[era] a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele”.
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USP 2014 - Literatura - Naturalismo, Escolas Literárias, Romantismo

Em que pese a oposição programática do Naturalismo ao Romantismo, verifica-se no excerto – e na obra a que pertence – a presença de uma linha de continuidade entre o movimento romântico e a corrente naturalista brasileira, a saber, a

     E Jerônimo via e escutava, sentindo ir-se-lhe toda a alma pelos olhos enamorados.

     Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.


                                                                                                            Aluísio Azevedo, O cortiço.

A
exaltação patriótica da mistura de raças.
B
necessidade de autodefinição nacional.
C
aversão ao cientificismo.
D
recusa dos modelos literários estrangeiros.
E
idealização das relações amorosas.
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USP 2012 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Os momentos históricos em que se desenvolvem os enredos de Viagens na minha terra, Memórias de um sargento de milícias e Memórias póstumas de Brás Cubas (quanto a este último, em particular no que se refere à primeira juventude do narrador) são, todos, determinados de modo decisivo por um antecedente histórico comum – menos ou mais imediato, conforme o caso. Trata-se da

A
invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas.
B
turbulência social causada pelas revoltas regenciais.
C
volta de D. Pedro I a Portugal.
D
proclamação da independência do Brasil.
E
antecipação da maioridade de D. Pedro II.
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USP 2012 - Literatura - Realismo, Escolas Literárias

Em quatro das alternativas abaixo, registram-se alguns dos aspectos que, para bem caracterizar o gênero e o estilo das Memórias póstumas de Brás Cubas, o crítico J. G. Merquior pôs em relevo nessa obra de Machado de Assis. A única alternativa que, invertendo, aliás, o juízo do mencionado crítico, aponta uma característica que NÃO se aplica à obra em questão é:

A
ausência praticamente completa de distanciamento enobrecedor na figuração das personagens e de suas ações.
B
mistura do sério e do cômico, de que resulta uma abordagem humorística das questões mais cruciais.
C
ampla liberdade do texto em relação aos ditames da verossimilhança.
D
emprego de uma linguagem que evita chamar a atenção sobre si mesma, apagando-se, assim, por detrás da coisa narrada.
E
uso frequente de gêneros intercalados ? por exemplo, cartas ou bilhetes, historietas etc. ? embutidos no conjunto da obra global.
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USP 2012 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Em Viagens na minha terra, assim como em

A
Memórias de um sargento de milícias, embora se situem ambas as obras no Romantismo, criticam-se os exageros de idealização e de expressão que ocorrem nessa escola literária.
B
A cidade e as serras, a preferência pelo mundo rural português tem como contraponto a ojeriza às cidades estrangeiras – Paris, em particular.
C
Vidas secas, os discursos dos intelectuais são vistos como “a prosa vil da nação”, ao passo que a sabedoria popular “procede da síntese transcendente, superior e inspirada pelas grandes e eternas verdades”.
D
Memórias póstumas de Brás Cubas, a prática da divagação e da digressão exerce sobre todos os valores uma ação dissolvente, que culmina, em ambos os casos, em puro niilismo.
E
O cortiço, manifestam-se, respectivamente, tanto o antibrasileirismo do escritor português quanto o antilusitanismo do seu par brasileiro, assim como o absolutismo do primeiro e o liberalismo do segundo.