Questõesde ENEM 2016 sobre Literatura

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Foram encontradas 7 questões
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ENEM 2016 - Literatura - Escolas Literárias, Romantismo

Estas palavras ecoavam docemente pelos atentos ouvidos de Guaraciaba, e lhe ressoavam n’alma como um hino celestial. Ela sentia-se ao mesmo tempo enternecida e ufana por ouvir aquele altivo e indómito guerreiro pronunciar a seus pés palavras do mais submisso e mavioso amor, e respondeu-lhe cheia de emoção: — Itajiba, tuas falas são mais doces para minha alma que os favos da jataí, ou o suco delicioso do abacaxi. Elas fazem-me palpitar o coração como a flor que estremece ao bafejo perfumado das brisas da manhã. Tu me amas, bem o sei, e o amor que te consagro também não é para ti nenhum segredo, embora meus lábios não o tenham revelado. A flor, mesmo nas trevas, se trai pelo seu perfume; a fonte do deserto, escondida entre os rochedos, se revela por seu murmúrio ao caminhante sequioso. Desde os primeiros momentos tu viste meu coração abrir-se para ti, como a flor do manacá aos primeiros raios do sol.

GUIMARÃES, B. O ermitão de Muquém. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 out. 2015.


O texto de Bernardo Guimarães é representativo da estética romântica. Entre as marcas textuais que evidenciam a filiação a esse movimento literário está em destaque a

A
referência a elementos da natureza local.
B
exaltação de Itajiba como nobre guerreiro.
C
cumplicidade entre o narrador e a paisagem.
D
representação idealizada do cenário descrito.
E
expressão da desilusão amorosa de Guaraciaba.
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ENEM 2016 - Literatura - Modernismo, Escolas Literárias, Romantismo

Do amor à pátria

São doces os caminhos que levam de volta à pátria. Não à pátria amada de verdes mares bravios, a mirar em berço esplêndido o esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a uma outra mais íntima, pacífica e habitual — uma cuja terra se comeu em criança, uma onde se foi menino ansioso por crescer, uma onde se cresceu em sofrimentos e esperanças plantando canções, amores e filhos ao sabor das estações.

MORAES, V. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1987.

O nacionalismo constitui tema recorrente na literatura romântica e na modernista. No trecho, a representação da pátria ganha contornos peculiares porque

A
o amor àquilo que a pátria oferece é grandioso e eloquente.
B
os elementos valorizados são intimistas e de dimensão subjetiva.
C
o olhar sobre a pátria é ingênuo e comprometido pela inércia.
D
o patriotismo literário tradicional é subvertido e motivo de ironia.
E
a natureza é determinante na percepção do valor da pátria.
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ENEM 2016 - Literatura - Modernismo: Concretismo, Escolas Literárias

O poema de Adélia Prado, que segue a proposta moderna de tematização de fatos cotidianos, apresenta a prosaica ação de limpar peixes na qual a voz lírica reconhece uma

                                        Casamento

Há mulheres que dizem:

Meu marido, se quiser pescar, pesque,

mas que limpe os peixes.

Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,

ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.

É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,

de vez em quando os cotovelos se esbarram,

ele fala coisas como “este foi difícil”

“prateou no ar dando rabanadas” e

faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez

atravessa a cozinha como um rio profundo.

Por fim, os peixes na travessa,

vamos dormir.

Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva.

                            PRADO, A. Poesia reunida. São Paulo: Siciliano, 1991

A
expectativa do marido em relação à esposa.
B
imposição dos afazeres conjugais.
C
disposição para realizar tarefas masculinas.
D
dissonância entre as vozes masculina e feminina.
E
forma de consagração da cumplicidade no casamento.
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ENEM 2016 - Literatura - Modernismo, Escolas Literárias

Na imagem e no texto do romance de Marguerite Duras, os dois autorretratos apontam para o modo de representação da subjetividade moderna. Na pintura e na literatura modernas, o rosto humano deforma-se, destrói-se ou fragmenta-se em razão

                   


TEXTO II

      Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas, sulcos na pele. Não é um rosto desfeito, como acontece com pessoas de traços delicados, o contorno é o mesmo mas a matéria foi destruída. Tenho um rosto destruído.

                             DURAS, M. O amante. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. 

A
da adesão à estética do grotesco, herdada do romantismo europeu, que trouxe novas possibilidades de representação.
B
das catástrofes que assolaram o século XX e da descoberta de uma realidade psíquica pela psicanálise.
C
da opção em demonstrarem oposição aos limites estéticos da revolução permanente trazida pela arte moderna.
D
do posicionamento do artista do século XX contra a negação do passado, que se torna prática dominante na sociedade burguesa.
E
da intenção de garantir uma forma de criar obras de arte independentes da matéria presente em sua história pessoal.
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ENEM 2016 - Literatura - Modernismo, Escolas Literárias

Antiode

Poesia, não será esse

o sentido em que

ainda te escrevo:

flor! (Te escrevo:

flor! Não uma

flor, nem aquela

flor-virtude — em

disfarçados urinóis).

Flor é a palavra

flor; verso inscrito

no verso, como as

manhãs no tempo.

Flor é o salto

da ave para o voo:

o salto fora do sono

quando seu tecido

se rompe; é uma explosão

posta a funcionar,

como uma máquina,

uma jarra de flores.

MELO NETO, J. C. Psicologia da composição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 (fragmento)

A poesia é marcada pela recriação do objeto por meio da linguagem, sem necessariamente explicá-lo. Nesse fragmento de João Cabral de Melo Neto, poeta da geração de 1945, o sujeito lírico propõe a recriação poética de

A
uma palavra, a partir de imagens com as quais ela pode ser comparada, a fim de assumir novos significados.
B
um urinol, em referência às artes visuais ligadas às vanguardas do início do século XX.
C
uma ave, que compõe, com seus movimentos, uma imagem historicamente ligada à palavra poética.
D
uma máquina, levando em consideração a relevância do discurso técnico-científico pós-Revolução Industrial.
E
um tecido, visto que sua composição depende de elementos intrínsecos ao eu lírico.
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ENEM 2016 - Literatura - Modernismo, Escolas Literárias

A descoberta de experiências emocionais com base no cotidiano é recorrente na obra de Clarice Lispector. No fragmento, o narrador enfatiza o(a)

                                        A partida de trem

      Marcava seis horas da manhã. Angela Pralini pagou o táxi e pegou sua pequena valise. Dona Maria Rita de Alvarenga Chagas Souza Melo desceu do Opala da filha e encaminharam-se para os trilhos. A velha bem-vestida e com joias. Das rugas que a disfarçavam saía a forma pura de um nariz perdido na idade, e de uma boca que outrora devia ter sido cheia e sensível. Mas que importa? Chega-se a um certo ponto — e o que foi não importa. Começa uma nova raça. Uma velha não pode comunicar-se. Recebeu o beijo gelado de sua filha que foi embora antes do trem partir. Ajudara-a antes a subir no vagão. Sem que neste houvesse um centro, ela se colocara do lado. Quando a locomotiva se pôs em movimento, surpreendeu-se um pouco: não esperava que o trem seguisse nessa direção e sentara-se de costas para o caminho.

      Angela Pralini percebeu-lhe o movimento e perguntou:

      — A senhora deseja trocar de lugar comigo?

      Dona Maria Rita se espantou com a delicadeza, disse que não, obrigada, para ela dava no mesmo. Mas parecia ter-se perturbado. Passou a mão sobre o camafeu filigranado de ouro, espetado no peito, passou a mão pelo broche. Seca. Ofendida? Perguntou afinal a Angela Pralini:

      — É por causa de mim que a senhorita deseja trocar de lugar?

LISPECTOR, C. Onde estivestes de noite. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980 (fragmento)

A
comportamento vaidoso de mulheres de condição social privilegiada.
B
anulação das diferenças sociais no espaço público de uma estação.
C
incompatibilidade psicológica entre mulheres de gerações diferentes.
D
constrangimento da aproximação formal de pessoas desconhecidas.
E
sentimento de solidão alimentado pelo processo de envelhecimento.
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ENEM 2016 - Literatura - Modernismo: Tendências contemporâneas, Escolas Literárias

PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.

BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.

EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar com ele.

BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.

EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!

BENONA: Isso são coisas passadas.

EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia. Vive farejando ouro, como um cachorro da molest'a, como um urubu, atrás do sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha pobreza e minha devoção.

SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013 (fragmento).

Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molesta” contribui para

A
marcar a classe social das personagens.
B
caracterizar usos linguísticos de uma região.
C
enfatizar a relação familiar entre as personagens.
D
sinalizar a influência do gênero nas escolhas vocabulares.
E
demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.