“Tem-se definido a agricultura como 'a arte de perturbar o equilíbrio da natureza de modo mais seguro para nosso benefício'. Embora a frase possa definir as boas práticas agrícolas, a função primordial da agricultura é a manipulação de ecossistemas naturais a fim de elevar ao máximo a produção de gêneros alimentícios.”

(David Drew. Processos interativos Homem-Meio Ambiente. Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 1989. p. 145)

Tendo em vista a agricultura brasileira, é correto afirmar que

a manipulação dos ecossistemas no Brasil implica grandes e desnecessárias perturbações, em função da dominância, nesse setor, de produção de tecnologias precárias

boas práticas agrícolas são exclusivas dos segmentos mais capitalizados da agricultura brasileira, que são os que possuem as tecnologias mais modernas.

a grande elevação da produção agrícola no Brasil tem-se dado, praticamente, por causa de maiores aportes tecnológicos, o que evita a incorporação de novas áreas.

não há consenso sobre quais são as boas práticas, pois as pessoas ligadas ao agronegócio e as ligadas à agricultura familiar divergem quanto à gravidade dos impactos ambientais, por exemplo.

é alcançável, como o exemplo brasileiro demonstra, chegar a boas práticas, aumentando exponencialmente a produção e preservando parte importante dos ambientes naturais.

Gabarito comentado

Paula DelgadoMonitor do Qconcursos

Resposta correta: Alternativa D

Tema central: a questão aborda a relação entre agricultura, tecnologias e impactos ambientais no Brasil — em especial a existência de divergências sobre o que são “boas práticas” entre diferentes atores (agronegócio x agricultura familiar).

Resumo teórico: agricultura é manipulação de ecossistemas para produção. Conceitos-chave: intensificação produtiva (inclui “sustainable intensification” da FAO), externalidades ambientais (erosão, poluição, perda de biodiversidade) e regulação (ex.: Código Florestal — Lei nº 12.651/2012 — que condiciona uso e proteção de APPs e reservas legais). Fontes úteis: FAO; EMBRAPA; Lei nº 12.651/2012.

Por que a alternativa D é correta? Ela afirma que não há consenso sobre “boas práticas” porque atores distintos avaliam de modo diferente os impactos ambientais. Isso reflete a realidade: agronegócio e agricultura familiar têm escalas, tecnologias, objetivos e percepções distintas — e por isso divergências sobre prioridades (intensificação tecnológica vs práticas locais, importância da conservação, custos de conformidade). A literatura e o debate político no Brasil confirmam essa pluralidade de visões.

Análise das alternativas incorretas:

A — incorreta: há perturbações, mas a frase generaliza que predomina tecnologia precária; na prática, grande parcela do agronegócio usa alta tecnologia.
B — incorreta: boas práticas não são exclusivas do setor capitalizado; muitas práticas sustentáveis são adotadas por agricultores familiares (agroecologia, SAFs, manejo conservacionista).
C — incorreta/mera parcialidade: tecnologia aumentou produtividade e pode reduzir pressão por área, mas historicamente houve expansão de fronteiras agrícolas (Cerrado, Amazônia). Logo, não se pode afirmar que a elevação ocorreu “praticamente” apenas por tecnologia e sem incorporação de novas áreas.
E — incorreta por otimismo excessivo: há exemplos locais de aumento de produtividade com conservação, mas o Brasil também registra desmatamento e conflitos; não é regra geral que se aumente exponencialmente produção preservando amplas áreas.

Dica de interpretação: busque palavras-chave que indiquem generalizações absolutas (sempre, exclusivamente, praticamente) — costuma ser armadilha. Prefira alternativas que reconheçam complexidade e pluralidade de atores.

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