Leia o poema abaixo, de Fernado Pessoa.

Pobre velha música!

Pobre velha música!

Não sei porque agrado,

Enche-se de lágrimas

Meu olhar parado.

Recordo outro ouvir-te.

Não sei se te ouvi

Nessa minha infância

Que me lembra em ti.

Com que ânsia tão raiva

Quero aquele outrora!

E eu era feliz? Não sei:

Fui-o outrora agora.

Considere as seguintes afirmações sobre o poema.

I - O sujeito-lírico elege a ―pobre velha música‖ para expressar o desejo de recuperar a infância.

II - O verso final indica que a felicidade passada pode ser uma memória vivida no presente.

III- A musicalidade do poema, de métrica tradicional, traduz uma luta contra a poesia moderna, através da nostalgia presente em outros heterônimos.

Quais estão corretas?

Gabarito: C) Apenas I e II.

Tema central da questão: A questão exige a análise interpretativa de um poema de Fernando Pessoa, explorando os conceitos de nostalgia, memória, relação temporal e musicalidade na poesia, além do diálogo com as características das escolas literárias e dos heterônimos do autor.

Comentário:

Afirmativa I — Correta: O eu-lírico utiliza a “pobre velha música” como instrumento para se reconectar com a infância, que aparece idealizada e distante. A música evoca lembranças de tempos passados, característica marcante da poesia pessoana: a busca por um tempo irrecuperável. Essa construção é clara em versos como “Que me lembra em ti”, conduzindo o leitor ao conceito de nostalgia.

Afirmativa II — Correta: O verso “Fui-o outrora agora” demonstra a fusão dos tempos passado e presente, permitindo que a felicidade seja sentida no agora por meio da memória. Pessoa frequentemente propõe o entrelaçamento de tempo vivido e tempo recordado, fenômeno observado neste fechamento. Essa releitura da felicidade passada ao presente configura uma das principais chaves de leitura para provas de literatura.

Afirmativa III — Incorreta: Apesar de o poema apresentar musicalidade e certa métrica tradicional, isso não significa uma oposição à poesia moderna, nem se refere diretamente a outros heterônimos. O poema deve ser lido como expressão do ortônimo Fernando Pessoa. Cuidado: uma armadilha comum é supor que toda referência à nostalgia implique postura contra o moderno, o que neste caso não se comprova no texto.

Dica estratégica: Em questões que confrontam elementos formais (como métrica e musicalidade) com correntes literárias, sempre busque evidências textuais claras e evite generalizações sobre posturas autorais — principalmente no caso de Pessoa e seus heterônimos, cuja obra é plural e multifacetada.

Conclusão: As alternativas I e II estão corretas, pois expressam o uso da música como gatilho para a memória e a vivência do passado no presente. A alternativa III erra ao superestimar o papel da métrica e fazer associações indevidas.

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