Questão e7d97e9d-bb
Prova:ENEM 2008
Disciplina:Geografia
Assunto:Geografia Cultural

Ao visitar o Egito do seu tempo, o historiador grego Heródoto (484 – 420/30 a.C.) interessou-se por fenômenos que lhe pareceram incomuns, como as cheias regulares do rio Nilo. A propósito do assunto, escreveu o seguinte:
“Eu queria saber por que o Nilo sobe no começo do verão e subindo continua durante cem dias; por que ele se retrai e a sua corrente baixa, assim que termina esse número de dias, sendo que permanece baixo o inverno inteiro, até um novo verão.
Alguns gregos apresentam explicações para os fenômenos do rio Nilo. Eles afirmam que os ventos do noroeste provocam a subida do rio, ao impedir que suas águas corram para o mar. Não obstante, com certa freqüência, esses ventos deixam de soprar, sem que o rio pare de subir da forma habitual. Além disso, se os ventos do noroeste produzissem esse efeito, os outros rios que correm na direção contrária aos ventos deveriam apresentar os mesmos efeitos que o Nilo, mesmo porque eles todos são pequenos, de menor corrente.”

Heródoto. História (trad.). livro II, 19-23. Chicago: Encyclopaedia Britannica Inc. 2.ª ed. 1990, p. 52-3 (com adaptações).

Nessa passagem, Heródoto critica a explicação de alguns gregos para os fenômenos do rio Nilo. De acordo com o texto, julgue as afirmativas abaixo.

I Para alguns gregos, as cheias do Nilo devem-se ao fato de que suas águas são impedidas de correr para o mar pela força dos ventos do noroeste.

II O argumento embasado na influência dos ventos do noroeste nas cheias do Nilo sustenta-se no fato de que, quando os ventos param, o rio Nilo não sobe.

III A explicação de alguns gregos para as cheias do Nilo baseava-se no fato de que fenômeno igual ocorria com rios de menor porte que seguiam na mesma direção dos ventos.

É correto apenas o que se afirma em

A
I.
B
II.
C
I e II.
D
I e III.
E
II e III.

Gabarito comentado

M
Michel MelloMestre em Filosofia (PUC-Rio), Mestre e Doutor em Filosofia (Universidade de Basel / Suiça)
Heródoto é considerado por muitos o pai da História e nesse texto vemos dois elementos que nos chamam atenção: o espírito investigativo ou senso crítico grego e a História como descrição do acontecido.
 
O chamado espírito grego antigo significa, aqui resumidamente, na tese de que os gregos não se contentavam simplesmente com as respostas já dadas, quer pela religião, quer pela mitologia ou ainda pela tradição que receberam. Isso se deu devido a diversos fatores, como a ausência de livros sagradas e castas sacerdotais na religião grega antiga e a estrutura da pólis, cidade-estado grega. Não ter castas sacerdotais nem livros sagrados, apenas os poemas homéricos Ilíada e Odisseia, implica no fato de que as questões apresentadas ao homem não tinham já uma resposta clara e definida. A experiência da vida pública napólis se dava sobretudo pelo discurso e discussão política, quer de modo maior em algumas cidades, quer de maneira mais reduzida em outras. O termo grego para discurso é lógos, o mesmo que para razão, pensamento. Ao contrário do que num primeiro momento se poderia imaginar, não foi a Filosofia que fez com os gregos desenvolvessem seu espírito crítico de maneira mais eficaz que outros povos da antiguidade, mas o inverso: o espírito crítico dos gregos fez surgir a Filosofia e a ciência contemporânea.
 
A história diferencia-se da narrativa mítica pelo fato de acrescentar o elemento fantasioso ao fato acontecido. O próprio termo história vem do grego historiên, narrar, descrever, contar. Ao unirmos isso ao senso crítico do grego acima exposto, podemos ver como que os gregos simplesmente não aceitavam o que foi contato, tanto mítico como tradicional, de modo passivo. Eles se questionam e vemos no texto de Heródoto um exemplo disso: ele narra o que acontece, sem mencionar a interferência dos deuses e questiona também as respostas dadas por outros estudiosos através da atuação do lógos ou pensamento.
 
A afirmativa I está correta, de acordo com o texto narrada (historiado) por Heródoto.
 
A afirmativa II está errada, pois o próprio historiado grego diz que “não obstante, com certa freqüência, esses ventos deixam de soprar, sem que o rio pare de subir da forma habitual.
 
A alternativa III está errada, como lemos no texto “os outros rios que correm na direção contrária aos ventos deveriam apresentar os mesmos efeitos que o Nilo, mesmo porque eles todos são pequenos, de menor corrente.”
 
Assim, dentro das alternativas oferecidas pela questão somente (a) está correta. 

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