As antigas comunidades tinham uma escala local e proeminentemente natural de organização. Cada cultivo, cada habitação e cada roupa do vestuário expressava essas características, ao tempo que as reforçava. Daí vinham os traços da cultura e os elementos formadores de suas representações. Da casa de madeira das áreas de florestas, vinha o sentido do efêmero, e da casa de pedra das áreas de clima árido o de perenidade, traduzindo-se o material de construção numa noção de tempo e numa metafísica. Paisagem e comunidade assim se confundem.
MOREIRA, Ruy. O PENSAMENTO GEOGRÁFICO BRASILEIRO: as matrizes de renovação. São Paulo: Contexto: 2009. p. 126. (adaptado)
A complexidade existente entre espaço e cultura revela que
A complexidade existente entre espaço e cultura revela que
Gabarito comentado
Gabarito: C
Tema central: relação entre paisagem e cultura. A questão explora como elementos materiais do espaço (casas, técnicas, vestuário) expressam e reforçam representações coletivas — isto é, a organização social articulada com o ambiente local.
Resumo teórico: a noção de paisagem cultural (Carl O. Sauer) e os estudos de geografia cultural mostram que o espaço não é apenas suporte físico, mas também produtor de sentidos e modos de vida. Autores brasileiros como Ruy Moreira e Milton Santos enfatizam a interdependência entre práticas sociais e ambiente: a paisagem molda e é moldada pela comunidade.
Por que a alternativa C é correta: o texto afirma que “paisagem e comunidade assim se confundem” e dá exemplos (madeira → efêmero; pedra → perenidade). Isso indica que a organização da vida social se dá pela relação entre comunidade e paisagem local — exatamente o enunciado da alternativa C.
Análise das alternativas incorretas:
A — fala em influências endógenas e exógenas. Embora culturas recebam influências, o enunciado enfatiza a relação interna entre comunidade e ambiente local, não a combinação de influências externas; portanto, é imprecisa.
B — afirma que técnicas de cultivo se estruturavam por “níveis de territorialidades impostas” pelo espaço natural. A redação é vaga e sugere imposição estrita do natural (determinismo), enquanto o texto aponta para uma relação de sentido e representação, não apenas imposição técnica.
D — atribui a ordenação social a instituições políticas e econômicas. Isso contraria o foco do trecho, que destaca a escala local e natural como matriz cultural das antigas comunidades.
E — afirma que hábitos e vestuário eram determinados por noções de gênero. Não há no texto referência a gênero; a determinação apontada é pelo ambiente material, logo a alternativa é irrelevante ao trecho.
Estratégia para provas: busque no enunciado palavras-chave (aqui: “paisagem”, “comunidade”, exemplos materiais). Elimine alternativas que introduzem ideias não presentes (instituições, gêneros, influências externas) ou que exageram (determinismo estrito).
Referências breves: R. Moreira (2009) sobre matrizes culturais; Carl O. Sauer, “The Morphology of Landscape” (1925); Milton Santos, A Natureza do Espaço.
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






