Questão d8956934-05
Prova:PUC-MINAS 2021
Disciplina:Português
Assunto:Uso dos conectivos, Sintaxe

Atente para o excerto:

A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, têm apenas duas páginas e meia...

Observe os conectivos destacados no excerto e a semântica a eles atribuída. A correlação está INCORRETA em:

Texto 2 / Parte 2
A importância do ato de ler2
Paulo Freire

Continuando neste esforço de “re-ler” momentos fundamentais de experiências de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo através de sua prática, retomo o tempo em que, como aluno do chamado curso ginasial, me experimentei na percepção crítica dos textos que lia em classe, com a colaboração, até hoje recordada, do meu então professor de língua portuguesa. Não eram, porém, aqueles momentos puros exercícios de que resultasse um simples dar-nos conta de uma página escrita diante de nós que devesse ser cadenciada, mecânica e enfadonhamente “soletrada” e realmente lida. Não eram aqueles momentos “lições de leitura”, no sentido tradicional desta expressão. Eram momentos em que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, incluindo a do então jovem professor José Pessoa.

Algum tempo depois, como professor também de português, nos meus vinte anos, vivi intensamente a importância de ler e de escrever, no fundo indicotomizáveis, com os alunos das primeiras séries do então chamado curso ginasial. A regência verbal, a sintaxe de concordância, o problema da crase, o sinclitismo pronominal, nada disso era reduzido por mim a tabletes de conhecimentos que devessem ser engolidos pelos estudantes. Tudo isso, pelo contrário, era proposto à curiosidade dos alunos de maneira dinâmica e viva, no corpo mesmo de textos, ora de autores que estudávamos, ora deles próprios, como objetos a serem desvelados e não como algo parado, cujo perfil eu descrevesse. Os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do objeto, mas apreender a sua significação profunda. Só apreendendo-a seriam capazes de saber, por isso, de memorizá-la, de fixá-la. A memorização mecânica da descrição do elo não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso, é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. 

Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os estudantes “leiam”, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Em minha andarilhagem pelo mundo, não foram poucas as vezes em que jovens estudantes me falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. [...] 

A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada desde outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia... 

Parece importante, contudo, para evitar uma compreensão errônea do que estou afirmando, sublinhar que a minha crítica à magicização da palavra não significa, de maneira alguma, uma posição pouco responsável de minha parte com relação à necessidade que temos, educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo do saber, de nos adentrarmos nos textos, de criar uma disciplina intelectual, sem a qual inviabilizamos a nossa prática enquanto professores e estudantes. 

A
ainda que concessão
B
e não adição
C
no entanto adversidade
D
quando temporalidade

Gabarito comentado

F
Fábio de AguiarMonitor do Qconcursos

Tema central: A questão aborda o reconhecimento da função semântica dos conectivos (“e não”, “ainda que”, “no entanto”, “quando”) em um texto, fundamental para interpretação, coesão textual e organização lógica das ideias, conforme preconiza a norma-padrão da Língua Portuguesa.

Análise e justificativa da alternativa correta (B):
A expressão “e não” foi associada à adição, porém isso é incorreto. Apesar do “e” indicar adição, em “e não” a negação recai sobre o termo anterior, produzindo frequentemente uma retificação ou exclusão, e não a simples soma de informações. Veja o exemplo do texto: “leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados”. A frase não soma, mas opõe: contrapõe ‘compreendidos’ a ‘mecanicamente memorizados’.

Segundo Cunha & Cintra (Nova Gramática do Português Contemporâneo), estruturas como “e não” podem carregar valor adversativo ou qualificativo — e não meramente aditivo.

Análise das alternativas incorretas:

A) “ainda que” – concessão: Correta. É uma conjunção concessiva, pois introduz uma ideia de oposição ou restrição (“ainda que encarnada desde outro ângulo”). Exemplos célebres em Bechara: “Ainda que chova, irei.”

C) “no entanto” – adversidade: Correta. “No entanto” é adversativa, indicando quebra ou contraste na argumentação – regra explícita nas gramáticas normativas.

D) “quando” – temporalidade: Correta. “Quando” marca uma relação de tempo entre ações ou fatos (“quando identifica a possível qualidade…”), estabelecendo ligação temporal.

Orientação estratégica:
Em provas, atenção ao sentido real que o conectivo estabelece entre orações. Palavras como “e não”, “mas”, “porém” frequentemente trazem valores de oposição, correção ou qualificação, fugindo da adição típica do “e”. Analise o contexto e relacione com a intenção comunicativa do autor!

Referências: Bechara, Cunha & Cintra, Rocha Lima.

Gabarito: B

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