Sempre que haja necessidade expressiva de reforço, de
ênfase, pode o objeto direto vir repetido. Essa reiteração recebe o nome de objeto direto pleonástico.
(Adriano da Gama Kury. Novas lições de análise sintática, 1997. Adaptado.)
O eu lírico lança mão desse recurso expressivo no verso
O eu lírico lança mão desse recurso expressivo no verso
Cruz na porta da tabacaria!
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-’star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
Desde ontem a cidade mudou.
(Obra poética, 1997.)
Quem morreu? O próprio Alves? Dou
Ao diabo o bem-’star que trazia.
Desde ontem a cidade mudou.
Quem era? Ora, era quem eu via.
Todos os dias o via. Estou
Agora sem essa monotonia.
Desde ontem a cidade mudou.
Ele era o dono da tabacaria.
Um ponto de referência de quem sou.
Eu passava ali de noite e de dia.
Desde ontem a cidade mudou.
Meu coração tem pouca alegria,
E isto diz que é morte aquilo onde estou.
Horror fechado da tabacaria!
Desde ontem a cidade mudou.
Mas ao menos a ele alguém o via,
Ele era fixo, eu, o que vou,
Se morrer, não falto, e ninguém diria:
Desde ontem a cidade mudou.
Gabarito comentado
Tema central da questão: Sintaxe — objeto direto pleonástico. A questão exige o reconhecimento desse recurso estilístico, que ocorre quando o objeto direto é antecipado e depois retomado por um pronome oblíquo para reforçar ou enfatizar a informação.
Regra explicada: Segundo a norma-padrão, conforme a Nova Gramática do Português Contemporâneo (Cunha & Cintra) e Novas lições de análise sintática (Adriano da Gama Kury), o objeto direto pleonástico ocorre quando o objeto direto é inicialmente expresso (geralmente por um sintagma nominal ou pronominal), e, na sequência, retomado por pronome oblíquo átono. Tal estrutura é usada como recurso de ênfase expressiva. Exemplo clássico: “A saudade, eu a carrego comigo.”
Justificativa da alternativa correta (D):
Na frase “Mas ao menos a ele alguém o via,” temos:
- a ele = objeto direto antecipado
- o = pronome oblíquo retomando esse objeto
Trata-se exatamente do objeto direto pleonástico. A repetição cria reforço na referência, como a teoria e as gramáticas normativas destacam.
Análise das alternativas incorretas:
- A) “Todos os dias o via. Estou” — O é objeto direto, mas não há antecipação ou repetição: não existe objeto direto pleonástico.
- B) “E isto diz que é morte aquilo onde estou.” — Não existe objeto direto retomado por pronome; a estrutura aqui é simples.
- C) “Ele era fixo, eu, o que vou,” — Não há objeto direto repetido, nem pronome oblíquo exercendo essa retomada.
- E) “Ao diabo o bem-’star que trazia.” — Novamente, há apenas um objeto direto, sem repetição ou ênfase por pronome oblíquo.
Estratégia para concursos: Procure localizar construções nas quais um termo (objeto direto) aparece duas vezes: primeiro um nome/frase, em seguida um pronome oblíquo com mesma função e mesmo referente. Isso caracteriza o pleonasmo sintático, muito cobrado em provas.
Resumo: A alternativa D está correta por apresentar o objeto direto pleonástico, conforme preconizado pela gramática normativa. Lembre-se: identificar não apenas o pronome oblíquo, mas também a antecipação do objeto é essencial para evitar pegadinhas!
Gostou do comentário? Deixe sua avaliação aqui embaixo!






