Leia o poema abaixo, presente em Mensagem, de Fernando Pessoa.
Noite
A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.
Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o veem, veem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.
Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
— O Poder e o Renome —
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que partamos.
Considere as seguintes afirmações sobre o poema e suas relações com o livro Mensagem.
I - As três primeiras estrofes estão relacionadas a um episódio real: a história dos irmãos Gaspar e
Miguel Corte Real que desapareceram em expedições marítimas, no início do século XVI, para
desespero do terceiro irmão, Vasco, que queria procurá-los, mas não obteve a autorização do
rei.
II - O sujeito lírico, na quarta e na quinta estrofes, assume a primeira pessoa do plural, sugerindo
que o drama individual dos irmãos pode representar um problema coletivo: a perda de poder e
renome de Portugal, perda esta já associada à difícil situação do país no início do século XX,
momento da escritura do poema.
III- O diagnóstico das perdas de Portugal está ausente em outros poemas de Mensagem, por
exemplo, Mar português, Autopsicografia e Nevoeiro, que apresentam a visão eufórica e
confiante do sujeito lírico em relação ao futuro de Portugal.
Quais estão corretas?
Leia o poema abaixo, presente em Mensagem, de Fernando Pessoa.
Noite
A nau de um deles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta, ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
Tempo foi. Nem primeiro nem segundo
Volveu do fim profundo
Do mar ignoto à pátria por quem dera
O enigma que fizera.
Então o terceiro a El-Rei rogou
Licença de os buscar, e El-Rei negou.
Como a um cativo, o ouvem a passar
Os servos do solar.
E, quando o veem, veem a figura
Da febre e da amargura,
Com fixos olhos rasos de ânsia
Fitando a proibida azul distância.
Senhor, os dois irmãos do nosso Nome
— O Poder e o Renome —
Ambos se foram pelo mar da idade
À tua eternidade;
E com eles de nós se foi
O que faz a alma poder ser de herói.
Queremos ir buscá-los, desta vil
Nossa prisão servil:
É a busca de quem somos, na distância
De nós; e, em febre de ânsia,
A Deus as mãos alçamos.
Mas Deus não dá licença que partamos.
Considere as seguintes afirmações sobre o poema e suas relações com o livro Mensagem.
I - As três primeiras estrofes estão relacionadas a um episódio real: a história dos irmãos Gaspar e Miguel Corte Real que desapareceram em expedições marítimas, no início do século XVI, para desespero do terceiro irmão, Vasco, que queria procurá-los, mas não obteve a autorização do rei.
II - O sujeito lírico, na quarta e na quinta estrofes, assume a primeira pessoa do plural, sugerindo que o drama individual dos irmãos pode representar um problema coletivo: a perda de poder e renome de Portugal, perda esta já associada à difícil situação do país no início do século XX, momento da escritura do poema.
III- O diagnóstico das perdas de Portugal está ausente em outros poemas de Mensagem, por exemplo, Mar português, Autopsicografia e Nevoeiro, que apresentam a visão eufórica e confiante do sujeito lírico em relação ao futuro de Portugal.
Quais estão corretas?
Gabarito comentado
Gabarito: C) Apenas I e II.
Tema central: O poema "Noite", de Mensagem (Fernando Pessoa), trata da associação entre fatos históricos lusitanos (as navegações, a perda e o luto nacional) e a condição existencial e simbólica de Portugal no início do século XX, vinculando episódios individuais a uma profunda dimensão coletiva.
Conceitos essenciais: O poema pertence ao ciclo do sebastianismo e da busca do ressurgimento nacional. Mensagem revisita, com um olhar crítico e nostálgico, momentos heroicos do passado português, expondo o sentimento de perda e a ânsia de renovação.
Justificativa para a alternativa correta:
I – Correta. As três primeiras estrofes remetem historicamente aos irmãos Corte Real, navegadores portugueses desaparecidos. Tal episódio confere ao poema uma profundidade histórica e simboliza a perda daqueles que buscam o impossível. Essa correlação entre texto e realidade histórica é literal e reconhecível por quem conhece literatura portuguesa.
II – Correta. A partir da quarta estrofe, observe o uso do nós pelo sujeito lírico: torna o drama individual um problema coletivo, aludindo à decadência nacional ("a perda de poder e renome"). Pessoa utiliza o caso dos irmãos para refletir o sentimento nacional de crise e impotência de Portugal na modernidade (coletivização do lamento).
III – Incorreta. O diagnóstico da perda não está ausente em outros poemas de Mensagem. Pelo contrário: poemas como “Mar Português” e “Nevoeiro” também tematizam a dor, o sacrifício e a crise identitária portuguesa ( falsa generalização). O item comete o erro de supor que a coletivização e o lamento pela perda aparecem apenas em “Noite”.
Estratégias de interpretação e pegadinhas:
- Atenção ao uso da coletivização do pronome (eu/nós) nos poemas; - Cuidado com generalizações do tipo “apenas em...”, especialmente em questões literárias; - Busque conexão entre o fato histórico e o plano simbólico do poema.
Resumo: A resposta exige identificação da relação entre o poema e o contexto histórico de Portugal, além de leitura atenta sobre a presença do tema da perda em toda a obra Mensagem. A alternativa C é correta pois apenas I e II refletem essa leitura.
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