“Desta forma, em 1924, com base no
Relatório do então Diretor de Higiene Pública do
Ceará, Dr. Clóvis Barbosa de Moura, percebia-se o
funcionamento de uma máquina de controle médico
na capital e no interior.”
PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Epoque:
Reforma Urbana e Controle Social (1860-1930). Fortaleza:
Edições Demócrito Rocha, 2001. p. 15-122.
Atente para o que se diz acerca da criação de uma
rede de controle médico no estado do Ceará, no
início da década de 1920, referida no excerto
acima.
I. Análises e discursos desse porte são
indicativos de que, no período em questão,
instaurava-se um movimento médicohigienista, no sentido de operar
transformações na saúde pública da capital e
do interior do Ceará.
II. É plausível considerar que no Ceará, no
período citado, foi difícil a aceitação da
chamada medicina científica entre a maioria da
população, habituada que estava a uma
medicina, digamos, popular e mais acessível.
Sobre as afirmações acima, é correto dizer-se que
Gabarito comentado
Resposta correta: C — ambas são verdadeiras
Tema central: trata-se da implantação, no Ceará das décadas de 1910–1920, de uma rede de controle médico ligada ao movimento médico‑higienista — ou seja, ações estatais para reorganizar a saúde pública com base na medicina científica. Para responder, é preciso relacionar fontes administrativas (relatórios de higiene) com a recepção social dessa medicina.
Resumo teórico básico: o higienismo brasileiro (final do século XIX–início do XX) articulou diagnóstico epidemiológico, obras de saneamento e vigilância sanitária; nos estados, diretores de higiene e relatórios oficiais são evidências desse projeto técnico‑administrativo. Ao mesmo tempo, a população rural e popular manteve práticas e saberes tradicionais, dificultando a aceitação imediata da medicina "científica" e institucional.
Justificativa da alternativa C (ambas verdadeiras):
- I verdadeira: o excerto e o Relatório do Diretor de Higiene (Dr. Clóvis Barbosa de Moura, 1924) mostram a organização de uma máquina de controle médico — diagnóstico, campanhas, estrutura técnica — típico do movimento médico‑higienista documentado em Fortaleza e no interior (ver PONTE, 2001).
- II verdadeira: historicamente, a implantação da medicina científica encontrou resistência: dificuldades de acesso, tradições populares, curandeirismo e desconfiança em relação ao Estado tornavam a adesão lenta. Assim, é plausível (e coerente com estudos de história da saúde) afirmar que a maioria da população demorou a aceitar plenamente a medicina institucionalizada.
Por que as outras alternativas estão erradas:
- A (I falsa / II verdadeira): nega que houvesse efetiva estrutura médica em formação no período — contraria os relatórios oficiais e análise historiográfica.
- B (I verdadeira / II falsa): reconhece a organização higienista, mas nega a dificuldade de aceitação social, o que ignora evidências sobre práticas populares e barreiras ao acesso.
- D (ambas falsas): contradiz tanto a documentação administrativa quanto as evidências sobre recepção social — hipótese implausível frente às fontes.
Dica de prova: ao avaliar sentenças históricas, procure no enunciado termos como "instaurava‑se", "plausível" e relacione com fontes (relatórios, leis, jornais). Verifique se cada afirmação tem suporte documental e social — muitas questões cobram simultaneamente projeto estatal e resistência popular.
Referência indicada: PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Epoque: Reforma Urbana e Controle Social (1860–1930). Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001.
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