“Saíram, pelo Porto de Fortaleza, 2.909
escravos para o sul do Império. Era um quadro
desolador o embarque desses desgraçados […]
Todos choravam, mas suas lágrimas corriam
despercebidas, eram lagrimas de escravos.
Ninguém tinha dó deles! Quem podia ouvir eram os
desgraçados também agrilhoados nas senzalas dos
grandes da terra.”
TEÓFILO, Rodolfo. História da Seca do Ceará
(1877-1880). p. 250.
O trecho acima retrata uma visão aproximada do
tráfico de escravos no Ceará, no final do Império.
Dentre as afirmações abaixo, assinale a que NÃO
corresponde à realidade da escravidão no Ceará.
Gabarito comentado
Alternativa correta: C
Tema central: trata-se da escravidão no Ceará no final do Império — suas formas (tráfico interprovincial), condições de vida, papel econômico dos cativos em períodos de seca e o processo abolicionista local. Para responder, é preciso conhecer fontes regionais (ex.: Rodolfo Teófilo) e a cronologia das leis abolicionistas nacionais (Lei do Ventre Livre, 1871; Lei Áurea, 1888).
Resumo teórico e contexto: No Nordeste, secas recorrentes e crises agrícolas tornaram o escravo tanto força de trabalho quanto “capital” móvel: eram vendidos/embarques para províncias produtoras de café e algodão no sul. Notícias sobre as condições de trabalho nas fazendas do sul circulavam entre escravos, alimentando fugas e receios. O Ceará teve forte movimento abolicionista e emancipações locais, mas isso não decorreu de uma escravidão “sempre branda”. Fontes: Rodolfo Teófilo, registros provinciais e legislação nacional (Lei do Ventre Livre; Lei Áurea).
Por que C é a resposta certa (ou seja, a afirmativa que NÃO corresponde): A frase afirma que “a escravidão no Ceará foi sempre branda” e que por isso o Ceará libertou seus escravos antes do resto do Brasil. Isso é equivocado em dois pontos: (1) a escravidão no Ceará incluiu violência, trabalho duro e intenso tráfico interprovincial — não foi “sempre branda”; (2) as emancipações locais e a pressão abolicionista tiveram causas políticas, econômicas e humanitárias (crises econômicas, mobilização urbana e debates públicos), não resultado de uma tradição de benignidade. Logo, a justificativa apresentada na alternativa é falsa.
Análise das demais alternativas:
A — Verdadeira: o tráfico interprovincial era prática corrente e traumática para os cativos; registros oficiais e relatos (como Teófilo) documentam embarques saindo de Fortaleza.
B — Verdadeira: existia circulação de informações entre escravos sobre embarques e sobre as condições de trabalho nas plantações do sul, o que agravava o medo e as tentativas de fuga.
D — Verdadeira: em períodos de seca e crise muitos senhores vendiam escravos como forma de saldar dívidas ou sobreviver — os escravos funcionavam, assim, como “capital” mobilizável.
Dica de interpretação: desconfie de termos absolutos como “sempre” ou explicações simplistas que atribuem fenômenos complexos a uma única causa. Procure contextualizar: condições econômicas, movimentos sociais e legislação interagem.
Fontes-chave: Rodolfo Teófilo, História da Seca do Ceará (1877–1880); legislação abolicionista brasileira (Lei do Ventre Livre, 1871; Lei Áurea, 1888) e estudos sobre abolicionismo e economia nordestina.
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