Questão c835cd57-e7
Prova:
Disciplina:
Assunto:
A respeito do conto “Felicidade Clandestina” de Clarice Lispector, assinale a alternativa CORRETA:
A respeito do conto “Felicidade Clandestina” de Clarice Lispector, assinale a alternativa CORRETA:
Texto 2
“Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados
os livros que não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como
casualmente, informou-me que possuía. As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu
Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o, E, completamente acima de minhas
posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me
transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e
me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim
numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem pra meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra
menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo”.
(Clarice Lispector, Felicidade Clandestina.)
Texto 2
“Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados
os livros que não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como
casualmente, informou-me que possuía. As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu
Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o, E, completamente acima de minhas
posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me
transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e
me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim
numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem pra meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra
menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo”.
(Clarice Lispector, Felicidade Clandestina.)
A
A narradora do conto demonstra seu descontentamento com a ideia de que a leitura seja capaz de
transformar as atitudes de sua antagonista, pois mesmo após ter lido diversos livros, inclusive os de
Monteiro Lobato, a mesma não demonstra qualquer sensibilidade aprimorada.
B
A felicidade clandestina citada no título está relacionada ao fato de que a verdadeira ansiedade da
protagonista era rever a garota que, muitas vezes, a tratava de maneira humilhante, mesmo que para isso
tivesse de usar como desculpa em fato corriqueiro, como o empréstimo de um livro, estabelecendo uma
relação de amizade quase sadomasoquista entre ambas.
C
A personagem central parece sentir-se secretamente aliviada ao constatar que o livro já tinha sido
emprestado a outra escola, uma vez que o mesmo era “um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar
vivendo com ele”. Dessa sensação vem o título que Clarice Lispector dá ao texto, uma vez que a
protagonista sabe que deveria ler obrigatoriamente a obra e o fato de escapar da mesma é felicidade
clandestina.
D
A verdadeira crueldade exposta no texto de Clarice é representada pela contínua insistência da protagonista
em torturar sua colega, pedindo-lhe repetidamente o empréstimo do livro que já sabia estar de posse de
outra pessoa, humilhando assim a amiga que prometera o que não poderia cumprir.
E
A narradora do conto é um exemplo claro das personagens claricianas, pois em sua introspecção e em seu
amor pela leitura é capaz de suportar até mesmo as piores humilhações para ter em sua posse um objeto ao
qual atribui poderes quase transcendentais, capazes de gerar uma epifania na protagonista.