Questão c835cd57-e7
Prova:FAG 2018
Disciplina:Literatura
Assunto:Modernismo, Escolas Literárias

A respeito do conto “Felicidade Clandestina” de Clarice Lispector, assinale a alternativa CORRETA:

Texto 2


“Na minha ânsia de ler, eu nem notava as humilhações a que me submetia: continuava a implorar-lhe emprestados os livros que não lia. Até que veio para ela o magno dia de começar a exercer sobre mim uma tortura chinesa. Como casualmente, informou-me que possuía. As reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele, comendo-o, dormindo-o, E, completamente acima de minhas posses. Disse-me que eu passasse pela sua casa no dia seguinte e que ela o emprestaria. Até o dia seguinte eu me transformei na própria esperança de alegria: eu não vivia, nadava devagar num mar suave, as ondas me levavam e me traziam. No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem pra meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo”.
(Clarice Lispector, Felicidade Clandestina.)

A
A narradora do conto demonstra seu descontentamento com a ideia de que a leitura seja capaz de transformar as atitudes de sua antagonista, pois mesmo após ter lido diversos livros, inclusive os de Monteiro Lobato, a mesma não demonstra qualquer sensibilidade aprimorada.
B
A felicidade clandestina citada no título está relacionada ao fato de que a verdadeira ansiedade da protagonista era rever a garota que, muitas vezes, a tratava de maneira humilhante, mesmo que para isso tivesse de usar como desculpa em fato corriqueiro, como o empréstimo de um livro, estabelecendo uma relação de amizade quase sadomasoquista entre ambas.
C
A personagem central parece sentir-se secretamente aliviada ao constatar que o livro já tinha sido emprestado a outra escola, uma vez que o mesmo era “um livro grosso, meu Deus, era um livro para se ficar vivendo com ele”. Dessa sensação vem o título que Clarice Lispector dá ao texto, uma vez que a protagonista sabe que deveria ler obrigatoriamente a obra e o fato de escapar da mesma é felicidade clandestina.
D
A verdadeira crueldade exposta no texto de Clarice é representada pela contínua insistência da protagonista em torturar sua colega, pedindo-lhe repetidamente o empréstimo do livro que já sabia estar de posse de outra pessoa, humilhando assim a amiga que prometera o que não poderia cumprir.
E
A narradora do conto é um exemplo claro das personagens claricianas, pois em sua introspecção e em seu amor pela leitura é capaz de suportar até mesmo as piores humilhações para ter em sua posse um objeto ao qual atribui poderes quase transcendentais, capazes de gerar uma epifania na protagonista.

Gabarito comentado

L
Leila Pimenta Monitor do Qconcursos

Comentário sobre a questão – “Felicidade Clandestina” e as personagens claricianas

Tema central: A questão aborda a compreensão das características das personagens de Clarice Lispector — em especial, sua introspecção, paixão pelos livros e a maneira como vivenciam epifanias (momentos de profunda revelação pessoal).

No conto “Felicidade Clandestina”, a protagonista enfrenta humilhações para conseguir um livro, expressando internamente suas emoções, desejos e pequenas conquistas. Esse mergulho psicológico é característico da obra de Lispector e está presentes em muitos de seus textos, segundo estudiosos como Alfredo Bosi. O que a move é a expectativa íntima e o prazer quase espiritual de ter e ler o livro desejado, não questões exteriores.

Justificativa da alternativa correta (E): Esta resposta destaca com precisão os dois traços principais das personagens claricianas: a profunda introspecção e a capacidade de atribuir significado transcendental a objetos ou experiências cotidianas (neste caso, ao livro). Além disso, evidencia o sofrimento suportado em prol da realização de um desejo íntimo — comportamento emblemático da autora, que frequentemente leva suas personagens a experimentar sentimentos intensos, resultando em epifania (revelação interior).

Análise das alternativas incorretas:

A) Errada. Distorce o sentido: a protagonista não acredita que a leitura de livros não transforme ninguém; ela mesma atribui à leitura alto valor e esperança de transformação.

B) Errada. Foge do tema central. A felicidade clandestina não está no sofrimento, nem na relação com a colega, mas na alegria secreta do acesso ao livro.

C) Errada. Inverte emoções: a protagonista não sente alívio, sente ansiedade e frustração ao saber que o livro foi emprestado a outra pessoa.

D) Errada. Inverte papéis: a protagonista é vítima da humilhação, não a causadora dela.

Estratégia para questões similares: Identifique o foco emocional das personagens nos textos de Lispector, preste atenção em palavras que manifestam sentimentos, introspecção e revelações súbitas. Cuidado com alternativas que invertem papéis ou motivação dos personagens e busque sempre o sentido mais subjetivo ou interno.

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